São Paulo, quinta-feira, 02 de fevereiro de 2006

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Políticos pressionaram em favor de Dimas Toledo, afirma Jefferson

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ) disse ontem que recebeu ligações de "mais de 50%" dos políticos citados na lista de Furnas como beneficiários de um suposto esquema de caixa 2. Eles pediam, segundo Jefferson, que Dimas Toledo, então diretor de Engenharia da estatal, continuasse no cargo.
"Eu posso dizer a vocês que, quando houve aquela tentativa do PTB de substituir o doutor Dimas pelo [Francisco] Spirandelo [indicado pelo PTB, como parte do acordo político com o PT], mais de 50% daquela lista me ligou pedindo para não tirar o Dimas. Pediam: "Não tira o Dimas, deixa o Dimas lá'", afirmou.
A assinatura de Dimas Toledo aparece na lista, mas ele nega ter sido seu autor. Para Jefferson, a relação está "muito próxima da verdade".
"[A lista] tem uma lógica política. Quanto mais poderoso o partido, mais contribuição. O doutor Dimas estava lá mantido pela aliança do governo do presidente do PSDB na época, Fernando Henrique. Então, as contribuições são para PFL, PSDB, PTB, PP...", afirmou Jefferson, ao deixar a sede da PF, em Brasília, após prestar depoimento.
A Folha revelou ontem que, em depoimento à PF no Rio, na semana passada, ele assumiu ter recebido, conforme consta da lista, uma doação de R$ 75 mil que teve como fonte o suposto esquema instalado em Furnas. Ontem, Jefferson voltou a afirmar que a doação a ele foi feita em dinheiro, pelo próprio Toledo. "A lista é verdadeira no que toca a mim."
Questionado sobre supostas doações de maior valor para tucanos como José Serra (R$ 7 milhões), candidato a presidente, e Geraldo Alckmin (R$ 9,3 milhões), candidato ao governo de São Paulo, Jefferson respondeu: "Isso aí vocês têm de perguntar a eles, por que o PSDB ganhou muito mais. Eu era miudinho".
Alckmin afirmou ontem que a lista não tem procedência. "Isso lembra Ilhas Cayman [referência a dossiê sobre suposta conta de tucanos no exterior, que investigação demonstrou ser falso]. Vamos agir duro no sentido de coibir a acusação. Não tem a menor procedência." O tom foi o mesmo adotado por Serra: "Isso é mais falso do que o dossiê Cayman".
O ministro Hélio Costa (Comunicações) foi questionado ontem sobre o fato de seu nome constar da lista como beneficiário de R$ 400 mil. Ele disse que renunciará ao mandato de senador, do qual está licenciado, "se alguém tiver algum documento que prove".
Jefferson chegou à sede da PF às 10h50. Segundo seus advogados, ele questionou a ação da PF, que, na sua análise, estava dirigida contra ele, seus aliados e familiares e a favor do PT e do governo.
"Entendo que o inquérito foi montado na procuradoria da República, com orquestração do ministro da Justiça. [...] Hoje a minha impressão se desfez. O inquérito está sendo feito com severidade e seriedade pela PF, contra mim e contra os outros", afirmou Jefferson, ao deixar o prédio.
A assessoria de imprensa do Ministério da Justiça disse que determinou à PF que investigue "todas as denúncias, de forma impessoal e republicana, sem proteger ou perseguir quem quer que seja".


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