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Ministra da Igualdade Racial cai por uso irregular de cartão
Matilde Ribeiro reconhece erro, mas culpa e demite assessores antes de sair
Ministra chora ao ver Lula;
depois, recusa-se a falar a
data em que teria devolvido
o valor gasto em free shop
após voltar de lua-de-mel
EDUARDO SCOLESE
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O uso irregular do cartão corporativo derrubou a ministra
Matilde Ribeiro (Igualdade Racial). Pressionada pela cúpula
do Planalto a pedir demissão,
ela não resistiu e entregou o
cargo ao presidente Lula durante audiência no palácio.
Logo após a conversa com o
presidente, a ministra divulgou
em entrevista sua decisão de
pedir demissão, admitindo ter
errado no uso do seu cartão
corporativo -que utilizou inclusive durante período de férias, o que foi considerado no
Planalto como a gota d'água para sua queda.
Matilde tentou justificar
seus erros alegando que sua secretaria, que tem status de ministério, não dispõe de estrutura adequada. "Erro, foi erro e
aconteceu comigo", disse.
A ministra vinha resistindo
ao pedido de demissão. Mas foi
atropelada pela divulgação sobre o uso do cartão num free
shop (R$ 461,16), no aluguel
sistemático de carros (mais de
R$ 110 mil, sem licitação) e em
seu período de férias (R$
2.969,01), como revelou ontem
a Folha. Matilde gastou R$ 171
mil com o cartão em 2007, a recordista entre os ministros.
No início da tarde, Matilde
Ribeiro foi ao Planalto já com
sua carta de demissão, mas ainda tinha alguma expectativa de
que pudesse receber um gesto
de apoio do presidente, que
acabou não vindo. A ministra
entendeu, então, que restava a
ela deixar o cargo.
Ao entregar a carta, Matilde,
47, chorou e ouviu do presidente que um erro administrativo
não poderia ser apagado. No
governo Lula, além dela, outros
oito ministros deixaram o cargo diante de crises.
O Planalto pressionava a ministra a pedir demissão por
avaliar que sua permanência
iria prolongar o desgaste do governo no episódio, aumentando as chances de a oposição
criar CPI no Congresso para
investigar o uso de cartões corporativos. Mas em carta a Matilde, Lula foi condescendente
e citou "preconceito" supostamente existente contra ela.
Filiada ao PT e antiga militante do movimento negro,
Matilde estava no cargo desde
a criação da secretaria, em
março de 2003. Na entrevista
concedida após a conversa com
Lula, Matilde estava abatida e
com a voz embargada.
Disse, porém, não estar arrependida porque foi orientada
por assessores no uso do cartão. "Eu não estou arrependida. Eu até então estava sendo
orientada a usar o cartão como
um instrumento para essa
agenda de trabalho que eu tenho", afirmou a ministra.
Matilde demitiu dois assessores que a teriam induzido ao
erro. As exonerações de Carlos
Eduardo Trindade Santos
(Subsecretaria de Planejamento e Formulação de Políticas) e
Antônio da Silva Pinto (assessor de Projetos Especiais) serão publicadas na edição de
quarta-feira do "Diário Oficial"
da União.
"Diante da improbidade administrativa, esse erro não foi
cometido exclusivamente por
mim. Então o tratamento vai
ser coletivo", afirmou.
No lugar de Matilde assume
interinamente o atual secretário-adjunto, o petista Martvs
das Chagas. Lula deixou para
depois do Carnaval a decisão de
efetivá-lo no cargo ou escolher
um outro nome.
Ontem, em sua primeira declaração pública após a divulgação das irregularidades, Matilde se recusou a revelar a data
na qual devolveu aos cofres públicos o valor usado irregularmente no free shop. "O dinheiro foi devolvido em janeiro", limitou-se a dizer. Matilde também não revelou os produtos
comprados no aeroporto, após
viagem de lua-de-mel.
Ao justificar o uso freqüente
de carros alugados, afirmou:
"Há um número significativo
de atividades fora de Brasília,
não havendo estrutura descentralizada". Segundo ela, houve
uma orientação de sua assessoria para, a partir de julho de
2006, utilizar o cartão para
hospedagem, alimentação e locação de veículos.
"Se tivesse sido alertada do
erro antes, eu teria corrigido
antes. Só soube do erro no momento atual", disse a ministra.
Na entrevista, questionada
se via preconceito na cobertura
da imprensa sobre o uso irregular de seu cartão corporativo, ela disse que "o histórico do
Brasil não permitiu que fosse
reconhecido o peso da escravidão e o peso da não inclusão de
negros e negras. Isso vale para
a sociedade como um todo".
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