São Paulo, sábado, 02 de fevereiro de 2008

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Nota de apoio do PT sai depois da exoneração

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Matilde Ribeiro, 47, deixou a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) sem receber do seu partido, o PT, a mesma solidariedade demonstrada com outros ministros em apuros.
Somente após sua exoneração, na tarde de ontem, veio uma nota de apoio de seu partido. "As eventuais irregularidades cometidas no uso do cartão corporativo -que devem ser apuradas pelos órgãos de controle, com as medidas cabíveis ao final da investigação- motivaram ataques e insinuações em tom abertamente preconceituoso, não só contra a ministra, mas contra a própria existência da Seppir", diz o texto, assinado pelo presidente do PT, Ricardo Berzoini.
Isso em parte reflete o fato de Matilde ter uma rede de contatos políticos e amizades muito tênue no partido. A ex-ministra sempre teve sua militância muito focada para as questões dos negros. Ao longo da década de 90, virou a principal agitadora internamente no partido nas discussões sobre o racismo e a igualdade. Sua nomeação para primeira titular da secretaria, criada em 2003, foi uma decorrência natural desse trabalho.
Mas em praticamente todas as outras discussões internas esta doutora em serviço social pela PUC-SP, nascida em Flórida Paulista (SP), se mantinha à margem. Nas últimas eleições internas do partido, em dezembro, ela montou, ao lado do novo titular da pasta, Martvs das Chagas, uma chapa própria, baseada no movimento negro. Foi um fiasco eleitoral. A "Democracia pra Valer" teve apenas 1,1% dos votos e conquistou uma solitária cadeira no diretório nacional, entre 81.
Antes de assumir o ministério, Matilde teve uma experiência como coordenadora da Assessoria dos Direitos da Mulher em Santo André nos anos 90, quando a cidade era uma das vedetes do PT.
Matilde deixou o comando da secretaria sem ter visto avançar no Congresso o Estatuto da Igualdade Racial, que estabelece a definição de cotas.
O estatuto está parado na Câmara, sem nenhuma iniciativa do Palácio do Planalto para convencer os partidos da base aliada a colocá-la na pauta.
Além disso, viu-se amarrada à própria missão da secretaria, criada em 2003 por conta da pressão do movimento negro e que não possui autonomia orçamentária (R$ 34 milhões em 2007) para projetos próprios.
(FÁBIO ZANINI E EDUARDO SCOLESE)

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