São Paulo, sábado, 02 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PAC em favelas do Rio fica R$ 41 mi mais caro

Os três consórcios vencedores são integrados por doadores à campanha do PMDB, partido do governador Sérgio Cabral Filho

Governo afirma que houve uma coincidência; a Queiroz Galvão, responsável pela Rocinha, diz que as doações foram registradas no TSE

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

O custo das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) em três favelas cariocas vai ficar R$ 41 milhões mais caro do que o previsto -4,8% acima do que consta no edital. O resultado da licitação feita pela Secretaria de Obras do Estado do Rio, divulgada ontem, mostrou que a diferença dos preços propostos nos três lotes não superou 0,23%.
Um dos consórcios vencedores, composto por Andrade Gutierrez, EIT e Camter, não respeitou um dos itens do edital, mas foi habilitado para concorrer. Ele exige que cada empresa tenha no mínimo 20% de participação no consórcio. A EIT e a Camter têm 19%, mas alegaram "erro de digitação". A secretaria aceitou o argumento.
Os três consórcios vencedores têm em sua composição doadores à campanha eleitoral do PMDB em 2006, partido do governador do Sérgio Cabral Filho. Ao todo, foram R$ 1,5 milhão direto para a campanha de Cabral e R$ 200 mil ao partido.
O governo afirma tratar-se de coincidência. A Queiroz Galvão (líder do consórcio Novos Tempos), responsável pela Rocinha, disse que as doações "são de conhecimento público e registradas no TSE [Tribunal Superior Eleitoral]".
A Andrade Gutierrez, cujo consórcio será responsável por Manguinhos, disse que a doação foi "realizada de forma oficial". A Norberto Odebrecht (líder do consórcio Rio Melhor), vencedora do lote do Complexo do Alemão, não comentou o fato até a conclusão desta edição.
O consórcio formado pela Construcap, Convap e Arvek foi inabilitado por razões técnicas, bem como a empresa Sanerio. Nenhuma das empresas reprovadas fez doação à campanha de Cabral ou ao PMDB. A Construcap tentou anular o edital, dizendo que as exigências poderiam dirigir o resultado da licitação. O recurso foi negado, e a licitação seguiu.
O custo das obras, orçadas inicialmente em R$ 859,9 milhões, ficou em R$ 900 milhões. Nos três lotes, a diferença entre o preço previsto e o vencedor foi praticamente a mesma: de 4,7% a 4,8% a mais.
A secretaria publicou uma errata após a divulgação do edital e passou a aceitar um valor 5% maior que o previsto "tendo em vista a complexidade" das obras. Assim, todas as propostas foram, no máximo, 0,3% menor do que o valor-teto permitido. Nenhuma proposta ultrapassou o preço tolerado.
Para a Odebrecht, "a diferença nos valores se justifica porque a concorrência é pela modalidade de preço máximo". Os outros consórcios não comentaram a diferença de preços.
O edital impedia que um consórcio fosse responsável pelas obras de mais de um lote. Caso um grupo vencesse mais de uma disputa, ficaria responsável pelo projeto em que foi verificado a maior diferença entre o preço vencedor e o segundo colocado. No lote com a menor diferença, o segundo colocado teria cinco dias para assumir ou não o preço vencedor.
No entanto, cada consórcio venceu um lote. A diferença entre o maior e o menor preço nos três lotes não superou 0,23% da proposta mais cara.


Texto Anterior: Justiça admite manter taxa sobre armas
Próximo Texto: Edital de licitação previa aumento de 5% nos preços, diz secretaria de obras
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.