São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2009

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Candidatos fogem de temas polêmicos

Descriminação do aborto e casamento gay estão fora dos planos dos congressistas que disputam comando de Câmara e Senado

Sobre economia, todos se mostram interessados em abrir as portas do Congresso para debater a crise, mas não sabem qual será a saída

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os candidatos a presidente do Senado e da Câmara evitam se comprometer com temas polêmicos. Embora prolixos, detalham pouco suas propostas para comandar o Congresso e mostram conservadorismo na área de costumes.
Nenhum dos dois candidatos a presidir o Senado nem dois dos três que disputam o mesmo cargo na Câmara, por exemplo, acham necessário uma lei que garanta integralmente o direito de pessoas do mesmo sexo se casarem.
José Sarney (PMDB-AP), 78 anos, favorito na disputa no Senado, diz acreditar que a lei atual já garante "os direitos de companheiros". Cita o fato de ser possível a adoção de crianças por homossexuais. Tião Viana (PT-AC), 47, também na corrida para presidir os senadores, não vê necessidade de uma legislação específica para um "assunto que só diz respeito à individualidade de cada um".
Na Câmara, as respostas são igualmente ambíguas. A discussão "deve ser enfrentada pelos legisladores", diz Ciro Nogueira (PP-PI), 40. Para Aldo Rebelo (PC do B-SP), 52, "a lei deve proteger os direitos dos cidadãos, independentemente de sua orientação sexual".
A Folha enviou uma série de perguntas sobre temas variados a todos os candidatos na última segunda-feira (veja quadro abaixo). O único a não responder foi o deputado Michel Temer (PMDB-SP), 68.
Apesar de uma certa aversão à objetividade, às vezes alguns candidatos foram meticulosos em trechos de seus comentários. Foi caso da pergunta a respeito de qual seria a opção eleitoral de cada um na eleição presidencial de 2010.
José Sarney enviou sua resposta em duas etapas. Primeiro, veio uma afirmação direta: "Já tornei pública a minha simpatia pela ministra Dilma Rousseff (PT)".
Em seguida, chegou um adendo. O ponto final virou uma vírgula, seguida do complemento: "Ao mesmo tempo que reconheço a competência dos governadores Aécio Neves e José Serra (ambos do PSDB)".
Tião Viana disse apenas que seguirá a orientação de seu partido, o PT. Ciro Nogueira acha que "definitivamente" não é o momento de discutir 2010. Aldo Rebelo afirmou que ainda está indefinido.
Quando o assunto é se são a favor de uma lei para acabar com as restrições ao aborto no Brasil, há uma unanimidade conservadora. Nenhum defende a descriminação da prática.
O único que, embora contrário, mostrou-se um pouco mais flexível foi Ciro Nogueira, justamente o filiado ao mais conservador dos partidos, o PP -herdeiro direto da Arena, a sigla que deu sustentação à ditadura militar (1964-1985).
"Sou favorável a abrir as discussões, principalmente quando vejo o grande número de adolescentes e jovens morrendo em clínicas clandestinas de aborto ou utilizando medicamentos proibidos e perigosos", respondeu Ciro.

Crise financeira
Sobre economia todos se mostram interessados em abrir as portas do Congresso para debater a atual crise financeira mundial. No entanto, ninguém sabe ao certo como encontrar uma saída.
Indagados sobre se concordam com as indicações políticas para as agências reguladoras, os quatro responderam afirmativamente.
A Folha quis saber também se eles são a favor de uma lei para dar independência e autonomia ao Banco Central. Somente Sarney e Ciro Nogueira responderam favoravelmente. Tião e Aldo Rebelo pronunciaram-se contra.
O petista Viana foi além, sugerindo poderes extras para que o Senado possa eventualmente destituir a direção do Banco Central.
Sarney e Ciro Nogueira também estão de acordo em relação a acabar com a reeleição e aumentar o mandato presidencial de quatro para cinco ou seis anos. Tião afirma que prefere manter o atual sistema. Aldo se declara indeciso.

Internet
Um ponto de concordância entre todos os concorrentes é a liberação da internet para uso político, inclusive em campanhas eleitorais.
Os candidatos refletem um sentimento geral no Congresso Nacional, que possivelmente aprovará uma lei a respeito antes das eleições de 2010.
Quando indagados sobre o uso da web para arrecadação de fundos de campanha, apenas Sarney fez uma ressalva, dizendo que vai depender de qual sistema de financiamento estará em vigor.
Todos os outros candidatos acham que o uso de doações eletrônicas deve ser liberado -alguns citam a experiência dos Estados Unidos, onde o democrata Barack Obama usou muito esse recurso no ano passado durante sua campanha eleitoral à presidência.

Livros
O gosto literário dos postulantes a comandar o Congresso é variado. Os livros prediletos são "Dom Quixote", de Cervantes (Sarney), o "Novo Testamento" (Tião), "Vidas Secas", de Graciliano Ramos (Aldo).
Ciro não informou qual obra mais apreciou, entretanto afirmou que está lendo "How Obama Won" (Como Obama ganhou), de autoria de Earl Ofari Hutchinson.
Sarney no momento lê "A era da turbulência", de Alan Greenspan. Tião tem na sua cabeceira "Feiticeira de Florença", de Salman Rushdie. E Aldo Rebelo lê "uma biografia do jornalista Tarso de Castro" escrita por Tom Cardoso.


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