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Candidatos fogem de temas polêmicos
Descriminação do aborto e casamento gay estão fora dos planos dos congressistas que disputam comando de Câmara e Senado
Sobre economia, todos se mostram interessados em abrir as portas do Congresso para debater a crise, mas não sabem qual será a saída
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os candidatos a presidente
do Senado e da Câmara evitam
se comprometer com temas
polêmicos. Embora prolixos,
detalham pouco suas propostas
para comandar o Congresso e
mostram conservadorismo na
área de costumes.
Nenhum dos dois candidatos
a presidir o Senado nem dois
dos três que disputam o mesmo
cargo na Câmara, por exemplo,
acham necessário uma lei que
garanta integralmente o direito
de pessoas do mesmo sexo se
casarem.
José Sarney (PMDB-AP), 78
anos, favorito na disputa no Senado, diz acreditar que a lei
atual já garante "os direitos de
companheiros". Cita o fato de
ser possível a adoção de crianças por homossexuais. Tião
Viana (PT-AC), 47, também na
corrida para presidir os senadores, não vê necessidade de
uma legislação específica para
um "assunto que só diz respeito
à individualidade de cada um".
Na Câmara, as respostas são
igualmente ambíguas. A discussão "deve ser enfrentada pelos legisladores", diz Ciro Nogueira (PP-PI), 40. Para Aldo
Rebelo (PC do B-SP), 52, "a lei
deve proteger os direitos dos cidadãos, independentemente de
sua orientação sexual".
A Folha enviou uma série de
perguntas sobre temas variados a todos os candidatos na última segunda-feira (veja quadro abaixo). O único a não responder foi o deputado Michel
Temer (PMDB-SP), 68.
Apesar de uma certa aversão
à objetividade, às vezes alguns
candidatos foram meticulosos
em trechos de seus comentários. Foi caso da pergunta a respeito de qual seria a opção eleitoral de cada um na eleição
presidencial de 2010.
José Sarney enviou sua resposta em duas etapas. Primeiro, veio uma afirmação direta:
"Já tornei pública a minha simpatia pela ministra Dilma
Rousseff (PT)".
Em seguida, chegou um
adendo. O ponto final virou
uma vírgula, seguida do complemento: "Ao mesmo tempo
que reconheço a competência
dos governadores Aécio Neves
e José Serra (ambos do
PSDB)".
Tião Viana disse apenas que
seguirá a orientação de seu
partido, o PT. Ciro Nogueira
acha que "definitivamente"
não é o momento de discutir
2010. Aldo Rebelo afirmou que
ainda está indefinido.
Quando o assunto é se são a
favor de uma lei para acabar
com as restrições ao aborto no
Brasil, há uma unanimidade
conservadora. Nenhum defende a descriminação da prática.
O único que, embora contrário, mostrou-se um pouco mais
flexível foi Ciro Nogueira, justamente o filiado ao mais conservador dos partidos, o PP
-herdeiro direto da Arena, a
sigla que deu sustentação à ditadura militar (1964-1985).
"Sou favorável a abrir as discussões, principalmente quando vejo o grande número de
adolescentes e jovens morrendo em clínicas clandestinas de
aborto ou utilizando medicamentos proibidos e perigosos",
respondeu Ciro.
Crise financeira
Sobre economia todos se
mostram interessados em abrir
as portas do Congresso para debater a atual crise financeira
mundial. No entanto, ninguém
sabe ao certo como encontrar
uma saída.
Indagados sobre se concordam com as indicações políticas para as agências reguladoras, os quatro responderam
afirmativamente.
A Folha quis saber também
se eles são a favor de uma lei
para dar independência e autonomia ao Banco Central. Somente Sarney e Ciro Nogueira
responderam favoravelmente.
Tião e Aldo Rebelo pronunciaram-se contra.
O petista Viana foi além, sugerindo poderes extras para
que o Senado possa eventualmente destituir a direção do
Banco Central.
Sarney e Ciro Nogueira também estão de acordo em relação a acabar com a reeleição e
aumentar o mandato presidencial de quatro para cinco ou
seis anos. Tião afirma que prefere manter o atual sistema. Aldo se declara indeciso.
Internet
Um ponto de concordância
entre todos os concorrentes é a
liberação da internet para uso
político, inclusive em campanhas eleitorais.
Os candidatos refletem um
sentimento geral no Congresso
Nacional, que possivelmente
aprovará uma lei a respeito antes das eleições de 2010.
Quando indagados sobre o
uso da web para arrecadação de
fundos de campanha, apenas
Sarney fez uma ressalva, dizendo que vai depender de qual sistema de financiamento estará
em vigor.
Todos os outros candidatos
acham que o uso de doações
eletrônicas deve ser liberado
-alguns citam a experiência
dos Estados Unidos, onde o democrata Barack Obama usou
muito esse recurso no ano passado durante sua campanha
eleitoral à presidência.
Livros
O gosto literário dos postulantes a comandar o Congresso
é variado. Os livros prediletos
são "Dom Quixote", de Cervantes (Sarney), o "Novo Testamento" (Tião), "Vidas Secas",
de Graciliano Ramos (Aldo).
Ciro não informou qual obra
mais apreciou, entretanto afirmou que está lendo "How Obama Won" (Como Obama ganhou), de autoria de Earl Ofari
Hutchinson.
Sarney no momento lê "A era
da turbulência", de Alan
Greenspan. Tião tem na sua cabeceira "Feiticeira de Florença", de Salman Rushdie. E Aldo
Rebelo lê "uma biografia do jornalista Tarso de Castro" escrita
por Tom Cardoso.
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