São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2004

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Federações esportivas fazem lobby pró-bingos

ELVIRA LOBATO
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

As federações de Judô, Aquática e Atletismo do Estado do Rio farão um protesto amanhã em Brasília, ao lado de empresários de bingos, contra o fechamento das casas de jogos. As entidades dependem financeiramente do negócio, o que explica o engajamento dos dirigentes.
Segundo o presidente da Federação de Atletismo, Luiz Corrêa Greco, todas as instituições que recebem subvenção dos bingos deverão integrar a caravana. A intenção é juntar atletas e funcionários dos bingos em uma caravana de 50 ônibus. "A gente quer gritar, mostrar a cara. O presidente não pode ficar insensível."
Ele diz que 271 pessoas, entre funcionários e atletas, dependem da subvenção dos bingos na sua federação. Até o mês passado, a entidade recebia 7% da receita declarada dos bingos Arpoador, Assembléia e Central. Nos últimos meses, o repasse variou de R$ 150 mil a R$ 170 mil, mas já atingiu R$ 360 mil por mês em 1995 e 1996, quando havia menos bingos.
O presidente da Federação de Judô, Ney Wilson Pereira da Silva, diz que a entidade recebia R$ 40 mil mensais de bingos, enquanto sua receita própria é de R$ 14 mil mensais. Ele diz que o fechamento dos bingos não vai acabar com a corrupção. O presidente da Federação Aquática do Estado do Rio, Marcos Firmino Santos, vai participar do protesto, mas considera "constrangedora" essa dependência financeira.
No ano passado, ele foi chamado a depor em um inquérito da PF (Polícia Federal) sobre supostas irregularidades no bingo Scala, que repassa cerca de R$ 23 mil por mês à instituição. O Scala atrasou o repasse durante três meses, em 2003, e a entidade denunciou o fato à Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro).
Uma das irregularidades investigadas pela PF é o fato de os bingos exigirem das associações recibos com valores maiores que os efetivamente pagos -o que caracterizaria falsidade ideológica e fraude na contabilidade.
O presidente da ABDA (Associação Brasileira de Desportos para Amputados), Ademir Cruz de Almeida, disse que sua entidade forneceu aos bingos Ilha, Nova Iguaçu e Barra Mansa recibos com valores superiores aos pagos mensalmente pelas casas de jogo.
Segundo ele, a diferença era lançada na contabilidade como dívida a receber. Os bingos faziam o pagamento depois, e a cada mês a operação do recibo com valor superior se repetia.
Almeida disse que a ABDA opera com bingos desde 2000 e que, quando assumiu a presidência da associação, em abril de 2003, as casas de jogo deviam cerca de R$ 50 mil à entidade. Segundo ele, em sua gestão, a dívida foi paga e os recibos passaram a ser fornecidos com valores reais.
Segundo Almeida, a ABDA chegou a ser avisada de que, caso não quisesse fazer o negócio pelo valor abaixo do registrado no recibo, haveria outras entidades interessadas. Mesmo assim, Almeida disse que não considera isso uma coação dos bingos. "Não é uma ação correta nossa, mas é aquilo: confiabilidade que a entidade tinha na pessoa [dos bingos]."
O presidente da ABDA depôs no inquérito da PF presidido pelo delegado Hebert Reis Mesquita. Não foi indiciado. "As associações são vítimas da coação dos bingos", afirma Mesquita.
A Folha procurou os bingos Barra Mansa, Ilha e Nova Iguaçu, mas os responsáveis não foram localizados ontem.


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