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Federações esportivas
fazem lobby pró-bingos
ELVIRA LOBATO
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
As federações de Judô, Aquática
e Atletismo do Estado do Rio farão um protesto amanhã em Brasília, ao lado de empresários de
bingos, contra o fechamento das
casas de jogos. As entidades dependem financeiramente do negócio, o que explica o engajamento dos dirigentes.
Segundo o presidente da Federação de Atletismo, Luiz Corrêa
Greco, todas as instituições que
recebem subvenção dos bingos
deverão integrar a caravana. A intenção é juntar atletas e funcionários dos bingos em uma caravana
de 50 ônibus. "A gente quer gritar,
mostrar a cara. O presidente não
pode ficar insensível."
Ele diz que 271 pessoas, entre
funcionários e atletas, dependem
da subvenção dos bingos na sua
federação. Até o mês passado, a
entidade recebia 7% da receita declarada dos bingos Arpoador, Assembléia e Central. Nos últimos
meses, o repasse variou de R$ 150
mil a R$ 170 mil, mas já atingiu R$
360 mil por mês em 1995 e 1996,
quando havia menos bingos.
O presidente da Federação de
Judô, Ney Wilson Pereira da Silva,
diz que a entidade recebia R$ 40
mil mensais de bingos, enquanto
sua receita própria é de R$ 14 mil
mensais. Ele diz que o fechamento dos bingos não vai acabar com
a corrupção. O presidente da Federação Aquática do Estado do
Rio, Marcos Firmino Santos, vai
participar do protesto, mas considera "constrangedora" essa dependência financeira.
No ano passado, ele foi chamado a depor em um inquérito da PF
(Polícia Federal) sobre supostas
irregularidades no bingo Scala,
que repassa cerca de R$ 23 mil por
mês à instituição. O Scala atrasou
o repasse durante três meses, em
2003, e a entidade denunciou o fato à Loterj (Loteria do Estado do
Rio de Janeiro).
Uma das irregularidades investigadas pela PF é o fato de os bingos exigirem das associações recibos com valores maiores que os
efetivamente pagos -o que caracterizaria falsidade ideológica e
fraude na contabilidade.
O presidente da ABDA (Associação Brasileira de Desportos para Amputados), Ademir Cruz de
Almeida, disse que sua entidade
forneceu aos bingos Ilha, Nova
Iguaçu e Barra Mansa recibos
com valores superiores aos pagos
mensalmente pelas casas de jogo.
Segundo ele, a diferença era lançada na contabilidade como dívida a receber. Os bingos faziam o
pagamento depois, e a cada mês a
operação do recibo com valor superior se repetia.
Almeida disse que a ABDA opera com bingos desde 2000 e que,
quando assumiu a presidência da
associação, em abril de 2003, as
casas de jogo deviam cerca de R$
50 mil à entidade. Segundo ele,
em sua gestão, a dívida foi paga e
os recibos passaram a ser fornecidos com valores reais.
Segundo Almeida, a ABDA chegou a ser avisada de que, caso não
quisesse fazer o negócio pelo valor abaixo do registrado no recibo, haveria outras entidades interessadas. Mesmo assim, Almeida
disse que não considera isso uma
coação dos bingos. "Não é uma
ação correta nossa, mas é aquilo:
confiabilidade que a entidade tinha na pessoa [dos bingos]."
O presidente da ABDA depôs
no inquérito da PF presidido pelo
delegado Hebert Reis Mesquita.
Não foi indiciado. "As associações
são vítimas da coação dos bingos", afirma Mesquita.
A Folha procurou os bingos
Barra Mansa, Ilha e Nova Iguaçu,
mas os responsáveis não foram
localizados ontem.
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