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Crise florestal pára economia de cidade do PA
Demitidos de madeireiras e carvoarias ilegais e comerciantes colocam casas à venda e já pensam em deixar Tailândia
Criado em 1988, município dobrou sua população e já perdeu 60% da cobertura vegetal original com os desmatamentos irregulares
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TAILÂNDIA (PA)
A constatação do envolvimento do setor madeireiro de
Tailândia (a 218 km de Belém,
PA) em crimes ambientais paralisou a economia da cidade e
ameaça reverter o fluxo migratório que fez dobrar a população do município em 11 anos.
Casas estão sendo vendidas
por toda a parte, principalmente nos bairros do Aeroporto e
do Macarrão, onde mora a
maioria dos trabalhadores demitidos das madeireiras e carvoarias envolvidas na extração
e venda ilegal de madeira.
Sem emprego e perspectiva
de melhora a curto prazo, eles
planejam voltar às cidades de
origem. Muitos vieram do Maranhão. Acham que o ciclo da
madeira de Tailândia acabou e
que a hora é de partir em busca
de novas oportunidades.
Enquanto tentam conseguir
dinheiro para a mudança, vendendo suas casas e fazendo bicos, os desempregados se reúnem todos os dias no canteiro
central da rodovia estadual PA-150, que corta a cidade. Alguns
exibem placas oferecendo-se
para qualquer tipo de serviço.
"A cidade está uma tristeza
só", disse o mecânico João Pereira, 60, ao lado de outros nove
desempregados no canteiro da
rodovia. "Os homens que estão
no poder nunca sentem o que
passam os fracos", afirmou.
Criado em maio de 1988, o
município, com área de 4.440
km2, já perdeu 60% da sua cobertura vegetal original com os
desmatamentos ilegais. A população cresceu proporcionalmente à prática dos crimes ambientais: saltou de 29.693 habitantes, em 1996, para 64.281
moradores em 2007, segundo o
IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística).
Em fevereiro, fiscais do governo do Pará iniciaram uma
inspeção nas madeireiras e carvoarias. Foram rechaçados pela população quando, no dia 19,
confiscaram 13 mil m3 de madeira ilegal encontrados em sete madeireiras. Os manifestantes atearam fogo em barreiras e
depredaram repartições públicas. A Polícia Militar foi acionada e reprimiu o protesto com
bombas de efeito moral.
Dias depois, o governo federal enviou a Tailândia 300 homens da Força Nacional de Segurança, Polícia Federal e fiscais do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis)
para uma nova devassa. Acuadas, as empresas demitiram
2.018 empregados.
Com 70% da sua movimentação financeira atrelada às
madeireiras e carvoarias, a cidade parou. A crise se alastrou.
No comércio, as vendas caíram
50%. Nas oficinas mecânicas,
borracharias e postos de combustíveis, o movimento ficou
até 70% menor.
Comerciante de estacas de
madeira há 19 anos no município, Celso Gatinho Feitosa, 40,
pela primeira vez faz planos
para sair da cidade. Colocou à
venda a casa de dois quartos,
onde mora com mais 11 pessoas
da família, para "procurar um
lugar melhor para viver".
"Sem emprego, isso aqui vai
virar um inferno de assaltos e
criminalidade, depois que a polícia for embora", disse. Ao menos mais seis casas estão à venda num raio de 50 m da casa de
Feitosa, no bairro Aeroporto.
Uma delas pertence ao pedreiro Valmir Souza Galvão,
47. Há nove anos em Tailândia,
ele quer vender o imóvel por
R$ 10 mil para procurar trabalho em outra cidade.
Das sete pessoas que vivem
na casa de Galvão, apenas o filho mais novo, o ajudante de
mecânico Wagner, 18, continua
empregado. Mesmo assim, seu
patrão reduziu o salário, de R$
50 por semana, para R$ 30.
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