São Paulo, domingo, 02 de março de 2008

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Crise florestal pára economia de cidade do PA

Demitidos de madeireiras e carvoarias ilegais e comerciantes colocam casas à venda e já pensam em deixar Tailândia

Criado em 1988, município dobrou sua população e já perdeu 60% da cobertura vegetal original com os desmatamentos irregulares

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TAILÂNDIA (PA)

A constatação do envolvimento do setor madeireiro de Tailândia (a 218 km de Belém, PA) em crimes ambientais paralisou a economia da cidade e ameaça reverter o fluxo migratório que fez dobrar a população do município em 11 anos.
Casas estão sendo vendidas por toda a parte, principalmente nos bairros do Aeroporto e do Macarrão, onde mora a maioria dos trabalhadores demitidos das madeireiras e carvoarias envolvidas na extração e venda ilegal de madeira.
Sem emprego e perspectiva de melhora a curto prazo, eles planejam voltar às cidades de origem. Muitos vieram do Maranhão. Acham que o ciclo da madeira de Tailândia acabou e que a hora é de partir em busca de novas oportunidades.
Enquanto tentam conseguir dinheiro para a mudança, vendendo suas casas e fazendo bicos, os desempregados se reúnem todos os dias no canteiro central da rodovia estadual PA-150, que corta a cidade. Alguns exibem placas oferecendo-se para qualquer tipo de serviço.
"A cidade está uma tristeza só", disse o mecânico João Pereira, 60, ao lado de outros nove desempregados no canteiro da rodovia. "Os homens que estão no poder nunca sentem o que passam os fracos", afirmou.
Criado em maio de 1988, o município, com área de 4.440 km2, já perdeu 60% da sua cobertura vegetal original com os desmatamentos ilegais. A população cresceu proporcionalmente à prática dos crimes ambientais: saltou de 29.693 habitantes, em 1996, para 64.281 moradores em 2007, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em fevereiro, fiscais do governo do Pará iniciaram uma inspeção nas madeireiras e carvoarias. Foram rechaçados pela população quando, no dia 19, confiscaram 13 mil m3 de madeira ilegal encontrados em sete madeireiras. Os manifestantes atearam fogo em barreiras e depredaram repartições públicas. A Polícia Militar foi acionada e reprimiu o protesto com bombas de efeito moral.
Dias depois, o governo federal enviou a Tailândia 300 homens da Força Nacional de Segurança, Polícia Federal e fiscais do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para uma nova devassa. Acuadas, as empresas demitiram 2.018 empregados.
Com 70% da sua movimentação financeira atrelada às madeireiras e carvoarias, a cidade parou. A crise se alastrou. No comércio, as vendas caíram 50%. Nas oficinas mecânicas, borracharias e postos de combustíveis, o movimento ficou até 70% menor.
Comerciante de estacas de madeira há 19 anos no município, Celso Gatinho Feitosa, 40, pela primeira vez faz planos para sair da cidade. Colocou à venda a casa de dois quartos, onde mora com mais 11 pessoas da família, para "procurar um lugar melhor para viver".
"Sem emprego, isso aqui vai virar um inferno de assaltos e criminalidade, depois que a polícia for embora", disse. Ao menos mais seis casas estão à venda num raio de 50 m da casa de Feitosa, no bairro Aeroporto.
Uma delas pertence ao pedreiro Valmir Souza Galvão, 47. Há nove anos em Tailândia, ele quer vender o imóvel por R$ 10 mil para procurar trabalho em outra cidade.
Das sete pessoas que vivem na casa de Galvão, apenas o filho mais novo, o ajudante de mecânico Wagner, 18, continua empregado. Mesmo assim, seu patrão reduziu o salário, de R$ 50 por semana, para R$ 30.


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