São Paulo, segunda, 2 de março de 1998

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QUESTÃO AGRÁRIA
UDR deve eleger uma mulher à presidência para mudar imagem radical da entidade ruralista
Médica deve ser nova presidente da UDR

Pierra Duarte/Folha Imagem
Tânia Tenório de Farias, virtual presidente da UDR, que considera o MST 'um movimento criminoso'


EDMILSON ZANETTI
em Mirante do Paranapanema

A UDR (União Democrática Ruralista) deve eleger até o final do mês uma mulher como presidente para tentar mudar a imagem de "radical", frequentemente associada à instituição.
Até o momento, a médica ginecologista Tânia Tenório de Farias, nascida em Recife (PE), é apontada como candidata única ao cargo até agora só ocupado por homens. Casada com um médico, mãe de dois filhos -um de 15 e outro de 21 anos-, Tânia tem uma propriedade rural de 10 alqueires e arrenda outros 100 alqueires que utiliza para criação de gado de leite e de corte, o que faz dela uma produtora de médio porte em Mirante do Paranapanema (SP).
Sua candidatura, surpreendente para alguns, foi lançada no encontro de fazendeiros do Pontal do Paranapanema, no último sábado.
O padrinho político da indicação é o atual presidente da entidade, Roosevelt Roque dos Santos, que no dia 28 deixa a UDR para disputar uma vaga de deputado federal.
"A Tânia é uma pessoa de bom senso, enxerga a realidade e, como mulher, se mostra até com mais credibilidade que o homem."
As posições políticas da virtual presidente da entidade ruralista coincidem com as da atual diretoria. Ela critica a política fundiária do governo FHC e considera o MST um "movimento criminoso".
Filha de coronel da Polícia Militar, Tânia admite que pegaria em armas para defender sua propriedade de uma invasão "como último recurso".
Em agosto, ela estava entre os mais de cem ruralistas que se reuniram na fazenda São Domingos, em Sandovalina, para tentar inibir uma ameaça de invasão.
No último sábado, Tânia falou à Agência Folha, em sua clínica médica e em seu sítio, o Schangri-lá.

Agência Folha - Como a senhora analisa a condução da reforma agrária pelo governo FHC?
Tânia Tenório de Farias -
O governo está conduzindo a reforma agrária por pressão política. Minifúndios voltados para subsistência não se desenvolvem regionalmente. Teria que ter uma visão mais empresarial e técnica, não essa maneira artesanal de produzir.
Agência Folha - Se sua propriedade fosse invadida, a senhora pegaria em armas para defendê-la?
Tânia -
Não é por aí que se resolve o problema. Tem que tentar coibir de vez as invasões. Isso é uma decisão política. Pegar em arma é um direito da pessoa que quer defender sua propriedade. Não sou contra isso. A arma não é solução definitiva mas, em algumas situações, é o único modo de evitar a destruição da propriedade.
Eu tentaria primeiro negociar. Só como última opção utilizaria armas. Não tem nenhum bem material que vale uma vida humana.
Agência Folha - A senhora pretende mudar a imagem da UDR?
Tânia -
Esta imagem de radical é deturpada. A UDR agora está muito mais "light".
Agência Folha - O que a senhora acha do MST?
Tânia -
Tem uma estrutura extremamente organizada, mas defasada no tempo e no espaço. Tem uma ideologia obsoleta, que não corresponde mais à realidade.
Agência Folha - E do Rainha (José Rainha, líder do MST)?
Tânia -
O Rainha está indo para o Nordeste. Poderia ir para o Alasca. Ele fez escola e tem seguidores. Vamos ver se a saída dele diminui as invasões, mas não acredito.
Agência Folha - A senhora é contra a reforma agrária?
Tânia -
A reforma agrária é uma necessidade, mas dentro da lei e da ordem e sob o comando do governo. Não de movimentos radicais de esquerda.



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