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TENSÃO NO CAMPO
Para dom Tomás Balduíno, governo evita "confronto com latifúndio" para não ferir "lógica da governabilidade"
Pastoral diz sentir "frustração" com Lula
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente da CPT (Comissão
Pastoral da Terra), dom Tomás
Balduíno, disse ontem que existe
um sentimento de frustração na
entidade em relação à política de
reforma agrária do governo Luiz
Inácio Lula da Silva.
"Não se tocou ainda na questão
do latifúndio", disse Balduíno,
que participou da reunião da CPT
que avaliou ontem a política agrária do governo federal. A discussão faz parte da 16ª Assembléia
Nacional da pastoral, que acontece até amanhã, em Goiânia (GO).
Segundo Balduíno, a análise da
entidade é que "não houve resposta sinalizadora clara de confronto com o latifúndio, como era
esperado" nesses primeiros três
meses de governo Lula.
Ou seja, a avaliação dos integrantes da CPT é que a desapropriação de terras para assentamento de trabalhadores rurais é
lenta. A opinião é secundada por
dom Pedro Casaldáliga, bispo
aposentado de São Félix do Araguaia (MT, divisa com TO) e um
dos fundadores da CPT -braço
agrário e progressista da Igreja
Católica que tem como tradição o
apoio às ações do MST e que no
governo Lula comanda duas superintendências estaduais do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Casaldáliga afirma que o sentimento na reunião foi de "um certo cansaço na paciência" com o
governo.
Em discurso para trabalhadores
sem-terra em Mato Grosso do Sul
na semana passada, Lula disse
que a prioridade do governo é
com a "qualidade" dos assentamentos, e não com a quantidade.
Dom Tomás Balduíno avalia
que a "ausência de confronto com
o latifúndio" se deve à prioridade
dada pelo governo à "lógica da
governabilidade".
"Talvez considerem que isso iria
tocar nesse ponto sensível. Então
essa expectativa passa para o segundo plano", afirmou. O bispo
diz acreditar que a lógica seguida
pelo governo independe da vontade do presidente. "Lula representa a esperança ainda."
Balduíno afirma que ainda há a
expectativa de que ocorra "enfrentamento ao latifúndio". Ele
diz, entretanto, que isso geraria
"descontentamento de uma força
que está dentro do próprio governo". "Essas expectativas contrariam o que para o capital é dogma:
a propriedade privada."
Balduíno comentou a aparente
mudança de opinião do ministro
Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) sobre a medida
provisória herdada do governo
anterior que torna terras invadidas indisponíveis para vistorias
com fins de desapropriação por
dois anos. Em palestra a proprietários rurais anteontem em São
Paulo, Rossetto disse que o governo não pretende modificar a MP.
O presidente da CPT disse preferir acreditar em afirmações anteriores do ministro, contrárias à
MP. Questionado sobre se Rossetto não teria mudado de opinião,
disse: "Terá mudado ou é tática?".
Ele diz, repetindo trecho de nota
da CPT à imprensa, que "a medida provisória que criminaliza as
ocupações no campo é a principal
responsável pelo aumento da violência contra os trabalhadores". A
entidade critica também a formação de milícias privadas pagas pelos proprietários rurais no país e
cobra do governo o seu "desmantelamento".
Na mesma nota, a CPT afirma
que nos primeiros dois meses
deste ano foram assassinados 10
trabalhadores -um aumento de
10% em relação ao mesmo período do ano passado- e defende o
encaminhamento de um projeto
de lei que limite o tamanho das
propriedades rurais.
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