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CRIME ORGANIZADO
STJ decide se processa ministro e se o afasta durante investigação
"Não quero o perdão nem a piedade" de colegas, diz Leal
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro do STJ (Superior
Tribunal de Justiça) Vicente Leal,
60, disse não querer perdão nem
piedade dos colegas do órgão, que
decidirão hoje, em sessão inédita,
se abrem processo administrativo
contra ele e se o afastam do cargo
durante a investigação, mas afirmou que espera a rejeição das
duas propostas por ser inocente.
"Não quero perdão, não quero
decisão amena e corporativa, não
quero piedade dos meus companheiros de trabalho. Quero que
eles decidam como juízes, de forma imparcial, porque assim sendo eu me sentirei restabelecido na
minha honra."
Em entrevista à Folha, ele anunciou que não participará da sessão
plenária para evitar constrangimento aos colegas. O processo
administrativo será aberto e ele
será afastado se dois terços dos
ministros rejeitarem a sua defesa.
Caso isso ocorra, ele recorrerá ao
STF (Supremo Tribunal Federal).
As duas medidas foram sugeridas por comissão de sindicância,
composta por três ministros. Para
eles, há indícios de conduta indevida de Leal no cargo em razão do
suposto envolvimento em esquema de venda de habeas corpus a
traficantes de drogas, no qual o
ex-deputado Pinheiro Landim
também atuaria.
Seu nome surgiu em inquérito
da Polícia Federal em Goiás, em
razão de referências indiretas a ele
em conversas telefônicas gravadas envolvendo um lobista.
A seguir, trechos da entrevista.
Folha - O que o sr. tem a dizer sobre as acusações que serão examinadas hoje pelo STJ?
Vicente Leal - Esse é um dos
grandes equívocos que podem
ocorrer na vida. Surgiu de um relatório policial fundado em uma
gravação autorizada por juiz federal de Goiânia. O agente policial
entendeu que, por eu ter sido relator de quatro habeas corpus, dos
quais dois negados, lobistas teriam contato comigo por meio do
ex-deputado Pinheiro Landim,
pela circunstância de ele [Landim] ser cearense e eu ter vivido
em Fortaleza de 1961 a 1982. É
uma acusação absolutamente improcedente e absurda.
Folha - O sr. acredita que dois terços dos ministros acolham hoje as
recomendações da comissão de
sindicância?
Leal - O processo corre em segredo de Justiça. Estou certo de
que os próprios membros da comissão, ao analisar as razões da
minha defesa, em que se demonstra com provas inequívocas a inconsistência da acusação, poderão rever a sua posição.
Folha - O sr. vai participar da sessão?
Leal - Por uma postura ética, entendo que não devo estar presente
para deixar os meus colegas decidirem sem constrangimento. Não
quero perdão, não quero decisão
amena e corporativa, não quero
piedade dos meus companheiros
de trabalho. Quero que eles decidam como juízes, de forma imparcial, porque assim sendo eu
me sentirei restabelecido na minha honra.
Folha - O sr. se sente traído por
colegas?
leal - Não. Eu sinto um grande
sofrimento pessoal de ver destruída, em nível nacional, a minha
história de honra e de trabalho.
Esse processo hoje ou amanhã
não conseguirá provar fatos indignos ou criminosos apontados
contra mim. Até lá estarei sofrendo a cada dia que abro o jornal,
que é o meu vício diário.
Folha - Em depoimento à comissão de sindicância, José Antônio de
Souza, que foi motorista de Pinheiro Landim, disse ter levado várias
vezes o ex-deputado à sua casa. Isso não o compromete?
Leal - Não posso entrar nessa
área, porque ela é reservada. Só
posso dizer que a defesa vai demonstrar a absoluta idoneidade
desse depoimento.
Folha - O sr. conhece o ex-deputado Pinheiro Landim?
Leal - Eu conheço ele e os demais membros da bancada do
Ceará de encontros no aeroporto
às quintas-feiras à noite, ao longo
de 2001 e 2002, quando viajei muito para lá por causa da grave enfermidade do meu pai, que morreu em outubro.
Folha - Caso o STJ decida pela
abertura do processo administrativo e o afaste, como o sr. receberá
essa decisão?
Leal - Eu receberei de fronte erguida, mas absolutamente consciente de que uma decisão administrativa é passível de revisão judicial. Se ela for contrária aos
meus direitos, vou usar os recursos para assegurar o meu foro
próprio, que é o STF.
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