São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2004

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CAMPO MINADO

Líder do MST afirma que Lula não cumprirá metas da reforma agrária

Falta coragem ao governo, diz Stedile

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de ter atenuado o tom das palavras, trocando o termo "infernizar" por "azucrinar", o coordenador nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stedile, 50, disse, em depoimento à CPI da Terra, que o governo federal "não vai conseguir" cumprir as metas da reforma agrária por sua "falta de coragem".
Segundo o líder de sem-terra, por causa da "política econômica perversa" e da "falta de estrutura" no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), o suplemento de R$ 1,7 bilhão no orçamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário, prometido nesta semana pelo Palácio do Planalto, não será utilizado.
"Tenho certeza de que o governo não tem condições de aplicar [o orçamento de R$ 3,1 bilhão do Ministério do Desenvolvimento Agrário]. Não vai conseguir [cumprir a meta]", afirmou, durante sessão da CPI que durou cerca de três horas e meia.
Em seguida, falou na "falta de coragem" do governo: "O governo está engessado como se fosse um fantasma. Não consegue avançar. Falta coragem e mais transparência para chamar o povo para ajudá-lo". Apesar disso, disse: "O nosso inimigo não é o governo, e sim o latifúndio".
Stedile fez mea-culpa sobre suas recentes declarações. Disse que foi "infeliz" ao ter utilizado o termo "infernizar" ao anunciar a "jornada de lutas" do movimento. "Há palavras com conotações exageradas. As palavras azucrinar e pressionar são as mais corretas neste momento. Somos contrários ao uso da força para resolver os problemas sociais."
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), presidente da CPI, disse ter entendido as explicações de Stedile: "Sempre entendi as declarações como um desabafo, e não como uma ameaça. Foi uma força de expressão, figura de retórica".
A sessão de ontem da CPI mista, com senadores e deputados, foi concorrida. Meia hora antes do início, militantes e simpatizantes do MST já haviam ocupado as 20 cadeiras disponíveis para a platéia. Muitos sentaram no chão.


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