São Paulo, domingo, 02 de abril de 2006

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Motorista de Mattoso depõe na PF e envolve ex-assessor de Palocci

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal está tentando localizar o jornalista Marcelo Netto, ex-assessor do ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Segundo levantamento da PF, há seis dias ele não aparece em sua residência em Brasília, um apartamento no bairro da Asa Norte.
Surgiu na noite de sexta-feira o principal indicativo de que Marcelo Netto estaria envolvido no vazamento para a imprensa dos extratos bancários do caseiro Francenildo Costa, obtidos por meio de uma operação ilegal da Caixa Econômica Federal.
Em depoimento na PF, o motorista do ex-presidente da Caixa Jorge Mattoso afirmou que, ao levar o antigo chefe à residência de Palocci, na noite de 16 de março, viu que na casa havia um veículo Mercedes, modelo Classe A, "escuro". Marcelo Netto possui um veículo que corresponde à descrição. A Folha apurou que ele estava lá, mas, para a PF, o que importa é que agora há um indício que justifica sua intimação.
Antes de ser exonerado, "a pedido", conforme publicado no Diário Oficial da União, na sexta-feira, diariamente ele chegava ao Ministério da Fazenda dirigindo um Classe A preto. Exceção feita a Ademirson Ariosvaldo da Silva e Juscelino Dourado, que acompanham o ex-ministro desde os tempos em que Palocci era prefeito de Ribeirão Preto, Marcelo Netto foi o assessor mais próximo de Palocci na Fazenda.

Digitais
Desde que os dados bancários de Francenildo foram veiculados pela imprensa, na noite de 17 de março, o nome de Marcelo Netto surgiu como o responsável pela ponte entre duas operações ilegais: a quebra de sigilo e o vazamento para a revista "Época".
O nome do motorista ouvido na noite de sexta-feira é mantido sob sigilo. Seu depoimento trouxe o primeiro indício formal de que o ex-assessor de Palocci tem algum envolvimento no episódio.
Em depoimento à PF, no dia 27 de março, Jorge Mattoso assumiu ter pedido ao consultor Ricardo Schumann dados relacionados ao caseiro. A ordem foi dada e cumprida na noite de 16 de março.
Schumann colocou os extratos bancários em um envelope e os levou a Mattoso, que jantava no restaurante La Torreta com dois outros assessores da Caixa, Antonio Carlos Ferreira, do departamento jurídico, e Gabriel Nogueira, da assessoria de imprensa.
Ouvidos pela PF, ambos afirmam ter presenciado a entrega do envelope. Negam, porém, ter conhecimento de seu conteúdo ou participação no episódio.
Ao final do jantar, de posse do envelope, Mattoso seguiu em seu carro oficial para entregá-lo a Palocci. Ao chegar à casa, o motorista que conduzia o veículo encontrou o Mercedes Classe A, que pertenceria a Marcelo Netto.
Mattoso, que foi indiciado pela PF por violação de sigilo funcional e quebra ilegal de sigilo (cujas penas podem chegar a seis anos de prisão), será ouvido novamente. Seu depoimento não foi marcado porque ele não foi encontrado para receber a intimação.
A PF aguarda para segunda-feira a decisão judicial relativa a quebras de sigilo bancário, telefônico e telemático requisitadas no caso.


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