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CRISE NO GOVERNO/CERCO AO EX-MINISTRO
Foram duas viagens: uma para comemorar eleição de Lula; outra como ministro, o que é proibido pelo Código de Conduta da Alta Administração Federal
Empresário pagou helicóptero para Palocci
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário Roberto Carlos
Kurzweil pagou as despesas de
um helicóptero que levou Antonio Palocci Filho a Angra dos Reis
e depois deixou-o em Ribeirão
Preto (SP) em novembro de 2002,
segundo os registros dos dois
vôos obtidos pela Folha.
Palocci foi a Angra comemorar
a eleição de Luiz Inácio Lula da
Silva à Presidência, de quem havia
sido o coordenador de campanha. Ficou numa casa de seis suítes, cuja diária costuma ser de
R$ 2.000. Em novembro de 2003,
quando já dirigia o Ministério da
Fazenda, Palocci voltou à mesma
casa, novamente convidado por
Kurzweil. O empresário tem uma
casa no mesmo condomínio em
que Palocci se hospedou.
A CPI dos Bingos tem informações não confirmadas de que o
próprio Kurzweil pagou pela casa
nas duas vezes em que Palocci foi
a Angra. Em 2002, Palocci era prefeito licenciado de Ribeirão e,
aparentemente, a viagem de helicóptero não fere nenhum norma
legal. Já em 2003, quando era ministro da Fazenda, o pagamento
da casa de praia, se confirmado,
viola o Código de Conduta da Alta
Administração Federal.
Esse código, que vigora desde
agosto de 2000, estabelece em seu
artigo 7º que: "A autoridade pública não poderá receber salário
ou qualquer outra remuneração
de fonte privada em desacordo
com a lei nem receber transporte,
hospedagem ou quaisquer favores de particulares de forma a permitir situação que possa gerar dúvida sobre sua probidade ou honorabilidade". Em 23 de julho de
2003, Palocci pegou carona num
jatinho do empresário José Roberto Colnaghi, conforme a Folha
revelou em fevereiro deste ano.
Kurzweil confirma que Palocci
ficou hospedado numa casa próxima a sua, que foi ele quem
achou esse imóvel, mas nega que
tenha pago as despesas nas duas
viagens. Kurzweil foi o empresário que intermediou a doação de
R$ 1 milhão que os empresários
de bingo teriam entregue ao PT
naquele mesmo ano, segundo o
advogado Rogério Buratti.
Era um dos freqüentadores da
"casa do lobby" mantida por ex-auxiliares de Palocci em Brasília,
alugou carros blindados para o
PT e fez um dos melhores negócios de sua vida quando Palocci
foi prefeito de Ribeirão Preto pela
primeira vez -obteve em 1995 a
concessão para tratar o esgoto da
cidade, que deve lhe render
R$ 400 milhões em 15 anos.
Aliás, foi Kurzweil e Buratti que
alugaram a primeira versão da
"casa do lobby", no setor de mansões Dom Bosco. Kurzweil buscava negócios para a sua empreiteira, a REK, e Buratti era vice-presidente da Leão Leão.
Helicóptero e bingo
O helicóptero que levou Palocci
a Angra pertence a um empresário que fabricava máquinas para
bingos, Artur José Valente de Oliveira Caio. Ele e José Paulo Teixeira, ambos nascidos em Angola e
que hoje têm cidadania portuguesa, teriam arrecadado o R$ 1 milhão doado ao PT, ainda de acordo com Buratti. Caio informou,
por meio do advogado Paulo José
de Morais, que não sabia quem
usava o helicóptero quando emprestava o aparelho a Kurzweil.
Palocci voou num helicóptero
Agusta, prefixo PT-YCB, de cor
vermelha, com capacidade para
dois tripulantes e seis passageiros.
Avaliado em US$ 1,5 milhão, é
uma aeronave capaz de fazer vôos
por instrumentos, segundo a anotação feita no plano de vôo entregue na época ao DAC (Departamento de Aviação Civil).
Foram dois vôos. Na ida, no dia
1º de novembro de 2002, o helicóptero saiu de Congonhas às
10h30 e pousou um hora depois
num heliponto dentro do condomínio Porto do Frade. Na volta, a
aeronave saiu às 15h44 de São
Paulo, foi a Angra apanhar Palocci e o levou até Ribeirão Preto, onde aterrissou às 21h03.
Kurzweil não pagou os R$ 4.000
por hora que são cobrados em
vôos com helicópteros semelhantes ao que Palocci voou. Como ele
foi sócio do dono do aparelho em
uma empresa na área de telecomunicações, a Cincotelecom, o
empresário só tinha de reembolsar o combustível gasto.
Foi por isso que o vôo de ida de
Palocci custou uma pechincha a
Kurzweil -R$ 558, pagos pelos
300 litros de combustível que foram usados em uma hora de vôo,
de acordo com a informação enviada ao DAC. A entrega em Ribeirão saiu mais cara. O combustível consumido em 4,2 horas de
vôo, como está anotado na ficha,
custou R$ 2.563,82.
República al mare
A primeira viagem reuniu em
Angra boa parte da "República de
Ribeirão", como depois ficaria conhecida a turma que orbitava em
torno de Palocci em busca de negócios. Foram a Angra Palocci, a
mulher e a filha, Ademirson Ariovaldo (que seria secretário de Palocci no ministério), Donizete Rosa (diretor do Serpro) e a mulher,
Isabel, e Ralf Barquete (ex-secretário de Palocci), com a mulher.
A segunda viagem a Angra, em
novembro de 2003, foi mais reservada. Acompanhavam o ministro
a mulher, a filha e Buratti com a
mulher e os três filhos. Kurzweil e
família estavam no condomínio.
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