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Brasil sediará reunião sobre biocombustíveis em 2008
Anúncio feito em Camp David foi ofuscado por pouco progresso na Rodada Doha
Falta de decisões concretas e
foco em temas em que não
há consenso entre Lula e
Bush esvaziam 2º encontro
dos presidentes em um mês
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CAMP DAVID
O Brasil sediará um fórum
mundial de biocombustíveis
em 2008. A iniciativa, anunciada na tarde de sábado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, faz parte da estratégia do
país de formar um mercado
global para o álcool combustível como maneira de se consolidar como líder no setor.
Além disso, missões de cientistas brasileiros visitarão uma
unidade de pesquisa de ponta
em energias renováveis do Departamento de Energia norte-americano no Estado do Colorado e uma missão conjunta
dos departamentos de Energia
e de Agricultura norte-americanos irá ao Brasil nos próximos dias.
Para frustração dos envolvidos no encontro entre Lula e o
norte-americano George W.
Bush, no entanto, as únicas
ações concretas que resultaram
da segunda reunião dos dois
presidentes em menos de 30
dias -a anterior foi em São
Paulo, no início de março- foi
ofuscada pelo fracasso na evolução das negociações comerciais e pela ênfase dada em temas nos quais os dois líderes
têm opiniões divergentes.
O brasileiro e o norte-americano se encontraram na tarde
de sábado em Camp David, nas
montanhas do Estado de Maryland, vizinho a Washington, para discutir em menos horas do
que estiveram juntos em São
Paulo uma ambiciosa agenda,
que ia de assento permanente
no Conselho de Segurança da
ONU a um destravamento da
Rodada Doha de liberalização
do comércio mundial.
Nenhum dos dois pontos andou -segundo as palavras do
próprio presidente Lula, ele
saía da reunião com "nada",
apesar de considerá-la uma das
"mais produtivas".
O que andou, o detalhamento
do memorando bilateral, não
mereceu muita atenção, mesmo com o anúncio dos países
que serão os primeiros recipientes dos recursos do memorando, Haiti, República Dominicana, São Cristóvão e Névis e
El Salvador.
Outros pontos da declaração
conjunta soltada pelas chancelarias, como o tratado trilateral
de ajuda legislativa a Guiné-Bissau, a ação para tentativa de
erradicação da malária em partes da África, a criação de um
fórum de CEOs de empresas
brasileiras e americanas e um
acordo de trocas de informação
que pode ser a base para um
tratado de tributação, já haviam sido anunciados durante
a semana.
Tensão
Parte do problema foi o foco
em pontos de tensão tanto na
fala de Lula (um discurso escrito entremeado por improvisos
que duraria mais de 20 minutos, ante os cerca de 4 minutos
da fala de Bush) quanto na entrevista coletiva que se seguiu,
no hangar preparado para esses
eventos no retiro presidencial
dos Estados Unidos.
O brasileiro gastou boa parte
do tempo para defender uma
postura mais agressiva em relação ao meio ambiente, assunto
que é o calcanhar-de-aquiles da
administração do republicano
e bandeira de um de seus principais opositores, o ex-vice-presidente democrata Al Gore,
a quem derrotou nas eleições
presidenciais de 2000.
Instado pela imprensa doméstica, o norte-americano
passaria boa parte de seu tempo defendendo seu secretário
de Justiça, alvo de acusações,
ou comentando a situação dos
militares britânicos capturados
pelo Irã. Que, aliás, seria outro
ponto de tensão no encontro
entre os dois líderes, pela defesa de Lula da permanência da
Petrobras no país, que é qualificado de integrante do "eixo do
mal" por Bush.
"No final, o que houve foi
muito simbolismo e pouca
ação", afirmou à Folha um diplomata, que prefere não ter
seu nome publicado.
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