São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2005

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Para Genoino, é injusto premiar "atos atrozes"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do PT, José Genoino, que ficou preso cinco anos por ter participado da Guerrilha do Araguaia, manifestou-se contra a eventual indenização a militares que combateram a luta armada liderada pelo PC do B no Pará na primeira metade da década de 70. "Seria uma injustiça premiar quem praticou atrocidades a serviço do Estado", disse.
A Folha revelou ontem que militares que participaram do combate à guerrilha pretendem pedir indenização à União nos mesmos moldes dos reparos concedidos aos pracinhas da FEB (Força Expedicionária Brasileira) que lutaram na Segunda Guerra Mundial.
"Não se trata de julgá-los nem de indenizá-los. Eles eram agentes de um Estado que cometeu barbaridades", disse Genoino. Segundo ele, esses militares não foram prejudicados pelo Estado, mas estavam a serviço dele.
Para Genoino, a reportagem da Folha foi "muito importante, porque reforça a necessidade de abertura dos arquivos da ditadura e traz depoimentos de quem praticou crimes". Ele defendeu ainda que os civis prejudicados pela ação dos militares na região do Bico do Papagaio, no Pará, possam eventualmente ser indenizados.

Limite a indenizações
Um pedido de indenização solicitado pelo próprio Genoino no governo FHC está parado por iniciativa dele. No início do governo Lula, o presidente do PT procurou o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e solicitou a suspensão da tramitação do pedido.
"Fiz isso por discordar de indenizações vultosas que estavam sendo concedidas. Acho que o limite máximo deve ser o dos familiares dos mortos e desaparecidos, que é de R$ 150 mil. Quem sobreviveu não merece mais do que as famílias de quem morreu e desapareceu", declarou Genoino.
O presidente do PT ficou preso 10 dias na região do Bico do Papagaio, em 1972. Em Brasília, foi reconhecido e voltou a ser encarcerado no Pará, onde sofreu tortura.
Ficou preso por mais nove meses em Brasília e por três anos em São Paulo. O resto de sua pena de 5 anos foi cumprido em Fortaleza. Ele foi o único militante condenado por ter "participado da preparação da guerrilha". "Não me arrependo. Corri riscos conscientemente", disse, na época, militante do PC do B. (KENNEDY ALENCAR)


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