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Líder dos arrozeiros resiste à PF e só deixa reserva após mandado
Operação de retirada na Raposa/Serra do Sol, que deve continuar por 30 dias, foi pacífica e a maioria dos não índios saiu do local acompanhada por agentes
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, NA RAPOSA/SERRA DO SOL (RR)
A operação de retirada dos
não índios da terra indígena
Raposa/Serra do Sol começou
ontem de maneira pacífica,
mas com a expulsão do principal líder dos arrozeiros da região, Paulo César Quartiero.
Programada para a madrugada, a ação só começou por volta
das 9h, quando agentes da Polícia Federal, a FNS (Força Nacional de Segurança), a Funai
(Fundação Nacional do Índio)
e o Ibama iniciaram a movimentação na vila Surumu.
A despeito das expectativas
de prisões e expulsões à força, a
maior parte dos não índios saiu
apenas acompanhada pelos
agentes. Eram, basicamente,
funcionários das fazendas. A
PF disse que evitará conflitos.
Em ao menos uma delas, da
família Faccio, os proprietários
conseguiram negociar com a
cúpula da operação para que a
colheita dos grãos e a retirada
de máquinas agrícolas fossem
estendidas até o final da tarde.
Segundo decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), o
prazo máximo para essa saída
era até a 0h de ontem. Em março, o tribunal confirmou a demarcação contínua da Raposa/Serra do Sol.
Até a conclusão desta edição,
não havia um número exato das
pessoas que saíram escoltadas
pelos agentes. Apenas em uma
das propriedades dos Faccio
havia 30 pessoas na noite de
anteontem, colhendo o arroz.
Funcionários de ao menos
quatro fazendas foram levados
para fora da reserva ontem.
Além de outra dos Faccio, uma
de Quartiero e outra pequena
propriedade, na qual ainda havia 250 cabeças de gado -que
foram retiradas por um caminhão alugado pela Funai.
José Maria Fonseca, superintendente da PF em Roraima,
disse que o dia foi "tranquilo".
Em relação a Quartiero, ele
cumpriu sua promessa de resistir e foi encontrado pelos policiais por volta das 10h em outra
de suas fazendas, já vazia, chamada Providência. Estava só.
Passara a noite no local, retirando partes dos destroços da
sede da propriedade, que ele
mesmo mandou destruir. Esperou 16 horas para sair, porque disse que só o faria com
uma ordem judicial.
Como os primeiros agentes
da PF que chegaram não tinham o documento, resolveram chamar o presidente do
TRF da 1ª Região, Jirair Meguerian, que está na reserva para ajudar na ação.
O magistrado chegou no final
da tarde e redigiu à mão, em
uma folha em branco, debaixo
de uma mangueira, um "mandado de desocupação", no qual
ordenava que o fazendeiro saísse imediatamente, o que Quartiero, depois de discutir e voltar
a criticar o governo federal,
acabou fazendo.
"Estar escrevendo debaixo
de um pé de mangueira é muito
amadorismo. Só em Roraima
mesmo", ironizou Quartiero.
Ele passou dez anos tentando
na Justiça continuar na Raposa/Serra do Sol.
Quartiero não foi algemado.
Até onde a Folha o acompanhou, voltava a pé pela estrada
de terra, a mais de 50 km de
qualquer saída da reserva. "Estou esperando uma carona",
disse. A operação deve continuar pelos próximos 30 dias.
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