São Paulo, domingo, 02 de junho de 2002

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JANIO DE FREITAS

O jogo duro

Quem tiver meio de campo eficiente é que vai desequilibrar a disputa e sair com vantagem para chegar ao segundo tempo, perdão, ao segundo turno -se houver.
Começou a importante fase de definições nos dois grandes contingentes que são o PMDB dividido e o PFL isolado, o mesmo se dando com o intermediário PL e com alguns dos grupos nanicos. Os acertos que resultem dessa fase não refletirão logo nas pesquisas, mas envolvem massas enormes de votos, aqueles passíveis da influência de lideranças políticas e cabos eleitorais partidários. É uma hora em que os candidatos dependem muito de dispor, ou não, de argúcia tática e de negociadores habilidosos.
Com bastante atraso, a crônica política enfim começa a perceber que o PFL não está imóvel. No jogo de contestações e adoções que se trava no jornalismo político, quando aqui se registrou, semanas atrás, a aproximação dos pefelistas a Ciro Gomes, as várias negativas incluíram até a conclusão de que "o PFL está condenado a apoiar Serra". Pois bem, o noticiário já admite que em 17 Estados a tendência mais evidente dos pefelistas é apoiar Ciro Gomes no primeiro turno.
Mesmo que não venham a ser tantas as definições pefelistas por Ciro Gomes, estão indicando, além do seu peso no primeiro turno, dificuldades para Luiz Inácio Lula da Silva caso o candidato da frente PPS-PDT-PTB seja seu adversário no segundo turno, e problema ainda maior para José Serra se chegar lá, seja qual for seu adversário.
Enquanto o PFL vai demonstrando mais uma vez sua capacidade de agir partidariamente, como um todo que digere e metaboliza as dissenções, o multifacético PMDB deblatera-se entre corruptos, fisiológicos, ressentidos, desorientados e, enfim, autênticos. O desentrosamento não dá indícios de que ameace o acordo que custou à candidatura de José Serra a entrega precipitada da vice ao PMDB. Mas a corrente que se opõe à aliança com o PSDB mostra-se mais forte do que a crônica política admitira, e hoje a espanta com a presença da divergência em mais de dez Estados.
Cada palmo de território peemedebista está sob disputa entre Serra e Lula. Mas não será de admirar que daí resultem para Ciro Gomes alguns nacos de lucro inesperado. José Dirceu, presidente do PT, tem-se mostrado negociador muito hábil, o que ficou claro já pelo inacreditável silêncio que obteve do petismo em relação à adocicada fisionomia dada à candidatura petista.
Não só em São Paulo, o PT está negociando com várias bases peemedebistas e tem boas possibilidades de êxito. Mas o afã de conquistar apoios não precisa nem justifica que a negociação política distribua avais morais, como fez Lula a Orestes Quércia, um dos políticos mais eticamente contestados, inclusive por Lula mesmo.
Entre as interrogações peemedebistas, a mais importante é a de Minas. Caso se consolide o presumido acordo de Itamar Franco em apoio a Aécio Neves para governador e isso inclua apoio ao candidato do PSDB, os governistas se beneficiam com a contradição de ser apoiados, talvez de modo decisivo na contagem eleitoral, pelo adversário mais explícito de Fernando Henrique Cardoso. A fase de eliminatórias foi encerrada e começou a disputa direta, por vitórias nas negociações que valem massas de votos. Em alguns dias, semanas no máximo, o quadro eleitoral deverá estar muito mais nítido, e as promessas de novidades são numerosas.



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