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Liderança do Brasil na América do Sul é tema de conversa com Bush
DO ENVIADO A EVIAN
O presidente George Walker
Bush disse ontem a seu colega
brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, que está muito interessado no
encontro que os dois terão no dia
20, em Washington, por causa do
"papel de liderança na América
do Sul" que, segundo Bush, o novo governo brasileiro vem exercendo.
A versão foi transmitida por
Marco Aurélio Garcia, assessor
internacional do presidente brasileiro, depois que os dois mandatários conversaram por alguns minutos no jardim do Hotel Royal
Evian, o QG tanto do diálogo ampliado entre G8 e 12 países em desenvolvimento (mais Suíça) como da cúpula do próprio G8, que
começa hoje.
A conversa se iniciou em espanhol, que, diz Garcia, Lula "domina muito bem". Bush gaba-se de
fazê-lo também, mas a mídia norte-americana tem suas dúvidas.
Ao que tudo indica, o tradutor
pessoal de Lula, Sérgio Ferreira,
também tem dúvidas, tanto que
logo que viu os dois conversando,
tratou de se aproximar para fazer
a tradução.
Lula não quis, na entrevista coletiva, comentar os temas tratados
com Bush. Tampouco antecipou
muito do que pretende discutir
com o presidente dos EUA no encontro de Washington.
Disse o óbvio- que tratará das
relações Brasil/Estados Unidos-
para acrescentar que "se permitirem, discutiremos as relações entre o Brasil e a América do Sul".
Parece alusão ao fato de que o
governo brasileiro está tentando
construir uma frente sul-americana para negociar a Alca (Área de
Livre Comércio das Américas)
com os Estados Unidos em melhores condições.
O chanceler Celso Amorim tratou ontem de afastar a versão, segundo ele frequente, de que o Brasil tem medo de negociar a Alca.
"O Brasil não tem medo de negociar a Alca, mas quer fazê-lo com
o tabuleiro e a configuração adequados".
Garcia também foi econômico
ao relatar a conversa entre Bush e
Lula, mas disse que Colômbia e
Venezuela foram dois dos tópicos
mencionados. Claro que, pelo
pouco tempo, a conversa foi apenas inicial.
Avanços na UE
Bem mais prolongado foi o diálogo com Romano Prodi, presidente da Comissão Européia, o
braço executivo do conglomerado de 15 países europeus.
Dela resultou uma boa notícia e
uma má perspectiva, ao menos do
ponto de vista dos brasileiros.
A boa notícia: Prodi disse acreditar que, logo, haverá novidades
positivas sobre a remoção de alguns obstáculos protecionistas na
área agrícola européia. Não entrou em detalhes.
Trata-se de velha reivindicação
do Brasil e de outros produtores
agrícolas competitivos: reduzir o
muro de proteção agrícola montado tanto por europeus como
por norte-americanos.
Na entrevista coletiva, Lula referiu-se à conversa com Prodi para
dizer que "não é fácil [remover os
obstáculos agrícolas], mas há
uma sensibilidade para a necessidade de mudanças".
A notícia ruim: Prodi disse que,
embora julgue boa a situação econômica do Brasil, "a má imagem
da América Latina contamina o
quadro e afugenta investidores".
Tanto o presidente Lula como o
ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, retrucaram que a situação da Argentina - principal
causa da suposta má imagem latino-americana- está melhorando. O presidente elogiou muito o
novo governo. Por isso, emendou
Palocci, "a Europa não deveria ficar prisioneira de uma visão do
passado".
De todo modo, os brasileiros
saíram do encontro com o anúncio de Prodi de que o programa de
bolsas para pós-graduação chamado Erasmus será ampliado para brasileiros. É uma maneira de
os europeus recuperarem parte
dos estudantes que trocaram a
Europa pelos EUA.
Já o encontro com o presidente
russo, Vladimir Putin, foi de "boa
química", na descrição de Celso
Amorim. Lula disse, na coletiva,
que Putin é "mais simpático do
que parece na TV e revelou excepcional qualidade de informação
sobre vários assuntos, inclusive o
Brasil".
Os dois trocaram convites para
visitas aos respectivos países, mas
a de Lula deverá sair primeiro,
porque Putin enfrenta eleições
em março.
(CR)
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