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São Paulo, segunda-feira, 02 de junho de 2003

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Liderança do Brasil na América do Sul é tema de conversa com Bush

DO ENVIADO A EVIAN

O presidente George Walker Bush disse ontem a seu colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, que está muito interessado no encontro que os dois terão no dia 20, em Washington, por causa do "papel de liderança na América do Sul" que, segundo Bush, o novo governo brasileiro vem exercendo.
A versão foi transmitida por Marco Aurélio Garcia, assessor internacional do presidente brasileiro, depois que os dois mandatários conversaram por alguns minutos no jardim do Hotel Royal Evian, o QG tanto do diálogo ampliado entre G8 e 12 países em desenvolvimento (mais Suíça) como da cúpula do próprio G8, que começa hoje.
A conversa se iniciou em espanhol, que, diz Garcia, Lula "domina muito bem". Bush gaba-se de fazê-lo também, mas a mídia norte-americana tem suas dúvidas.
Ao que tudo indica, o tradutor pessoal de Lula, Sérgio Ferreira, também tem dúvidas, tanto que logo que viu os dois conversando, tratou de se aproximar para fazer a tradução.
Lula não quis, na entrevista coletiva, comentar os temas tratados com Bush. Tampouco antecipou muito do que pretende discutir com o presidente dos EUA no encontro de Washington.
Disse o óbvio- que tratará das relações Brasil/Estados Unidos- para acrescentar que "se permitirem, discutiremos as relações entre o Brasil e a América do Sul".
Parece alusão ao fato de que o governo brasileiro está tentando construir uma frente sul-americana para negociar a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) com os Estados Unidos em melhores condições.
O chanceler Celso Amorim tratou ontem de afastar a versão, segundo ele frequente, de que o Brasil tem medo de negociar a Alca. "O Brasil não tem medo de negociar a Alca, mas quer fazê-lo com o tabuleiro e a configuração adequados".
Garcia também foi econômico ao relatar a conversa entre Bush e Lula, mas disse que Colômbia e Venezuela foram dois dos tópicos mencionados. Claro que, pelo pouco tempo, a conversa foi apenas inicial.

Avanços na UE
Bem mais prolongado foi o diálogo com Romano Prodi, presidente da Comissão Européia, o braço executivo do conglomerado de 15 países europeus.
Dela resultou uma boa notícia e uma má perspectiva, ao menos do ponto de vista dos brasileiros.
A boa notícia: Prodi disse acreditar que, logo, haverá novidades positivas sobre a remoção de alguns obstáculos protecionistas na área agrícola européia. Não entrou em detalhes.
Trata-se de velha reivindicação do Brasil e de outros produtores agrícolas competitivos: reduzir o muro de proteção agrícola montado tanto por europeus como por norte-americanos.
Na entrevista coletiva, Lula referiu-se à conversa com Prodi para dizer que "não é fácil [remover os obstáculos agrícolas], mas há uma sensibilidade para a necessidade de mudanças".
A notícia ruim: Prodi disse que, embora julgue boa a situação econômica do Brasil, "a má imagem da América Latina contamina o quadro e afugenta investidores".
Tanto o presidente Lula como o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, retrucaram que a situação da Argentina - principal causa da suposta má imagem latino-americana- está melhorando. O presidente elogiou muito o novo governo. Por isso, emendou Palocci, "a Europa não deveria ficar prisioneira de uma visão do passado".
De todo modo, os brasileiros saíram do encontro com o anúncio de Prodi de que o programa de bolsas para pós-graduação chamado Erasmus será ampliado para brasileiros. É uma maneira de os europeus recuperarem parte dos estudantes que trocaram a Europa pelos EUA.
Já o encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, foi de "boa química", na descrição de Celso Amorim. Lula disse, na coletiva, que Putin é "mais simpático do que parece na TV e revelou excepcional qualidade de informação sobre vários assuntos, inclusive o Brasil".
Os dois trocaram convites para visitas aos respectivos países, mas a de Lula deverá sair primeiro, porque Putin enfrenta eleições em março. (CR)


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