São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Lula é cínico e faz farra fiscal, diz Alckmin

Candidato do PSDB critica presidente por discutir campanha no Palácio do Planalto e evita apoiar eventual fim da reeleição

Ministro Guido Mantega, da Fazenda, reage às críticas à política econômica e diz que nunca houve superávit primário tão alto no país


VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin tachou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de cínico, acusou-o de patrocinar uma "farra fiscal e cambial" e o criticou por "abusar" do uso do cargo para fazer campanha eleitoral.
O tucano, porém, não se comprometeu a acabar com o instrumento da reeleição, instituído no governo FHC e que permite ao presidente da República disputar um segundo mandato sem deixar o cargo.
Segundo o ex-governador, não é porque há "abuso" que se tem de "acabar com a reeleição". Ele defendeu a adoção de regras rígidas de controle em vez do seu fim. Sugeriu que o candidato deveria se afastar do posto na campanha, o que não fez quando se candidatou à reeleição ao governo paulista.
Ontem, ao comentar declarações do presidente, Alckmin disse que Lula estava passando da "omissão para o cinismo". Segundo o tucano, "primeiro ele dizia que de nada sabia, agora fala que corrupção não tem problema".
Em viagem a Manaus, Lula desafiou seus adversários a enfrentá-lo com denúncias na campanha pela televisão. "Quero que eles coloquem CPI na televisão todo dia, toda hora. Que coloquem as torturas que fizeram com muita gente lá."
"O presidente Lula, que já vinha cometendo omissão ao dizer que não sabia, que não ouviu, agora comete cinismo, passa da omissão para o cinismo, e isso é imperdoável. Mostra que eles não aprenderam nada com a crise, uma das maiores da política brasileira nos últimos tempos", disse Alckmin.
O tucano criticou Lula também por estar praticando, em sua opinião, "uma grande farra cambial e fiscal" com objetivos "meramente eleitoreiros".
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reagiu às críticas: "Aqui na União não há nenhuma farra fiscal, muito menos cambial. Muito pelo contrário, nunca se fez um superávit primário desta magnitude durante tantos anos seguidos. (...) "Quando se fala em farra cambial me vem à mente aquele período do governo FHC em que o câmbio era mantido artificialmente congelado, como se o real fosse mais valorizado que o dólar", afirmou.

Susto
O tucano disse ter levado um "susto" quando viu que Lula recebeu, no Palácio do Planalto, o ex-governador Orestes Quércia para oferecer a vaga de vice ao PMDB. "Eles estão abusando do uso do dinheiro público, escancaradamente, como se fosse algo normal", protestou.
Ao ser lembrado de que Lula ainda não é candidato oficial e que FHC disputou a reeleição no cargo, o tucano disse que o petista fere o princípio da "razoabilidade jurídica" e que, na época de seu colega de partido, "foi diferente".
Em 1998, FHC foi orientado a não fazer reuniões políticas de campanha no Palácio do Planalto. O uso do Palácio da Alvorada, no entanto, foi liberado na época por ser permitido pela legislação.
O fim da reeleição chegou a ser defendido neste ano pelos tucanos. A idéia surgiu para facilitar a escolha de Alckmin como candidato a presidente. Em retribuição a José Serra, preterido na disputa interna, Alckmin apoiaria o fim da reeleição. Abriria, assim, espaço para o ex-prefeito ser o candidato presidencial em 2010 mesmo na eventual vitória do ex-governador na eleição deste ano.
Hoje, porém, Alckmin joga o assunto para o Congresso, dizendo que cabe a ele decidir sobre o tema. Mas diz que ainda é cedo "para se ter uma avaliação mais acurada" da validade da reeleição. "Só tivemos uma até agora."

BC independente
Em café da manhã com jornalistas na casa de seu colega de chapa, o pefelista José Jorge, Alckmin falou sobre planos de governo.
Disse que, apesar de ser favorável à idéia, não considera prioridade propor a independência formal do Banco Central, manifestando preferência pelo sistema atual, de autonomia operacional.
"O problema hoje é de farra fiscal. Com isso, o único instrumento para combater a inflação é a taxa de juros", afirmou, prometendo adotar um ajuste fiscal para abrir espaço aos investimentos.
O tucano disse ainda que dará prioridade a duas reformas -política e tributária. Na primeira, a idéia é lutar pela fidelidade partidária. Na segunda, unificar a legislação do ICMS e, depois, implantar o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). Sobre reforma da Previdência, deixou de fazer comentários.


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