São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2006

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Kroll nega ter investigado governo brasileiro

Companhia afirma que procurou autoridades do país para assegurar que não cometeu ilegalidades

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente mundial da divisão de consultoria da Kroll, Andrés Antonius, afirmou que a empresa não espionou autoridades autoridades. Antonius admitiu que a Kroll procurou o governo brasileiro, com a ajuda da ex-embaixadora americana Donna Hrinak, para assegurar que a empresa não havia cometido qualquer ato ilegal no país. Ele também reconheceu que Frank Holder trabalhava para a empresa quando elaborou o documento no qual relata ter obtido informações da CIA sobre autoridades brasileiras. Antonius diz, no entanto, que não pode saber de Holder diz a verdade. Segundo Antonius, Holder não estava acompanhado de funcionário da Kroll nas reuniões que diz ter tido com americanos, incluindo a CIA. A embaixada americana nega que Holder tenha estado com o ex-embaixador John Danilovich, mas confirmou encontro com o ministro-conselheiro John Harris. Leia abaixo trechos da entrevista à Folha.

 

FOLHA - Frank Holder é um ex-agente da CIA?
ANDRÉS ANTONIUS -
Ele nunca falou nada sobre isso à Kroll.

FOLHA - Há muitas menções na Internet relacionando Holder à CIA.
ANTONIUS -
Eu li uma declaração do encarregado da embaixada dos EUA negando que ele tenha sido agente da CIA.

FOLHA - Sabe-se que os EUA impedem que autoridades do país falem sobre assuntos da CIA.
ANTONIUS -
Sim, mas ele nunca me falou nada sobre a CIA.

FOLHA - Por que a Kroll contratou Holder como consultor quatro dias após sua saída como diretor da empresa?
ANTONIUS -
Essa é uma questão que não posso responder por conta da ação que temos contra ele. O que posso dizer é que havia um projeto para esse cliente [Brasil Telecom] e houve um período de transição.

FOLHA - Holder trabalhava para a Kroll quando fez o relatório mencionando a CIA. Por que a Kroll põe agora o trabalho de Holder em dúvida?
ANTONIUS -
Eu não estou colocando nada em dúvida. Holder diz no documento que essas pessoas [autoridades americanas] contaram coisas. O que estou dizendo é que a Kroll não tinha conhecimento dessas conversas, ninguém da Kroll esteve com Holder nesses encontros.

FOLHA - Se a Kroll não estava certa dos procedimento de Holder, porque usou seu trabalho para traçar planos para um cliente?
ANTONIUS -
Estamos processando-o, então é claro que temos algumas questões sobre seu trabalho. Descobrimos coisas que nos levaram a processá-lo. Quando o artigo da revista "Veja" foi publicado, foi um choque [Holder teria feito uma lista com autoridades brasileiras com contas no exterior].

FOLHA - Foi a primeira vez que Holder falou de informações conseguidas pela CIA?
ANTONIUS -
Sim.

FOLHA - Ao duvidar de um trabalho de Holder para a Kroll, a Kroll não coloca o nome da companhia em jogo?
ANTONIUS -
Acho que a Kroll tinha que fazer a coisa certa quando tomou conhecimento do potencial de quebra de cláusulas contratuais. Não agir seria muito pior.

FOLHA - Com quais autoridades o sr. e Jules Kroll falaram no Brasil?
ANTONIUS -
Tivemos muitos encontros, todos transparentes. Queríamos dizer diretamente ao governo que a Kroll é uma empresa respeitada, que a Kroll não se envolveu em atividades ilegais, que não investigou autoridades brasileiras e que estávamos à disposição para fornecer qualquer informação que eles precisassem.

FOLHA - O sr. poderia citar as autoridades com quem se encontraram?
ANTONIUS -
O ministro Thomaz Bastos, José Dirceu e o senador Tuma. Houve também conversas em Davos (Suíça) com o ministro Antonio Palocci.


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