São Paulo, quinta, 2 de julho de 1998

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SUCESSÃO
Candidato petista diz que país está "à beira do caos' e que há "cheiro de maracutaia' na privatização da Vale
Lula afirma que Plano Real é "fantasia"

CARLOS EDUARDO ALVES
da Reportagem Local

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, atacou ontem de maneira dura o Plano Real e se propôs, durante a campanha eleitoral, a transformar seu palanque em escola para a população.
"O povo tem que aprender que ninguém pode viver de fantasia o tempo inteiro", disse sobre a disposição de pregar em praça pública contra o plano mesmo que isso signifique o risco de perder votos.
A afirmação de Lula foi feita em entrevista depois de um ato em que a CUT (Central Única dos Trabalhadores), o braço sindical do PT, apresentou propostas para combater o desemprego.
O evento de ontem foi marcado às pressas para que Lula e seus aliados fizessem um contraponto às comemorações pelo quarto aniversário do Plano Real.

"À beira do caos'
Lula ouviu críticas de desempregados à situação econômica do país e, no final, afirmou que não existem motivos para festa.
"Não há o que comemorar. O Brasil está à beira do caos com essa política econômica", declarou Lula. O candidato listou banqueiros, especuladores e o ministro Pedro Malan entre os que teriam razão para festejar o aniversário do Plano Real.
Lula classificou de "absurdo" o fato de o país importar arroz e feijão. "É essa a estabilidade monetária, que causa instabilidade social", disse.
No entender do candidato da frente de esquerda (PT, PDT, PSB, PC do B e PCB), o Plano Real é escorado no tripé dependência externa, juros altos e abertura "descontrolada" da economia, o que inviabilizaria o casamento da estabilidade com um crescimento que gerasse empregos.
O petista não aceitou que a oposição teria responsabilidade de defender o plano econômico adotado por FHC. "Ele que jogou o Brasil nessa enrascada e é ele que tem que resolver", afirmou.

Mudança de rumo
O discurso de ontem, se não foi baseado em análise emocional gerada pelas comemorações governistas, sinaliza uma mudança de curso da campanha petista. Até então, Lula evitava bater de frente no Plano Real, limitando as críticas ao aumento do desemprego.
Lula manteve que, caso seja eleito, suspenderá o programa de privatizações e foi claro ao defender uma auditoria para investigar o processo que levou a Companhia Vale do Rio Doce à iniciativa privada. "Onde houver cheiro de maracutaia, como no caso da Vale, vamos auditar", declarou.



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