São Paulo, sexta-feira, 02 de agosto de 2002

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LIGAÇÕES PERIGOSAS

Decisão foi anunciada em troca de cartas entre petebista e candidato

Após denúncias, Martinez deixa coordenação de Ciro

DA REPORTAGEM LOCAL
DA ENVIADA A VARGINHA (MG)

Acuado pela revelação de ainda pagar prestações de uma dívida contraída com Paulo César Farias, o PC, o deputado José Carlos Martinez (PTB) anunciou ontem seu afastamento da coordenação-geral da campanha de Ciro Gomes (PPS) à Presidência.
O posto de Martinez será assumido pelo próprio Ciro, embora as tarefas executivas provavelmente sejam entregues ao irmão do candidato, Lúcio Gomes, ou ao Walfrido Mares Guia (PTB-MG).
A destituição ocorreu depois de a Folha ter revelado que o ex-coordenador paga até hoje parcelas de uma dívida de milhões de reais a parentes de PC, ex-tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Em 1999 a dívida equivalia a US$ 1,6 milhão. Nos últimos dias, não foram revelados os valores do saldo, recalculado com juros, nem a quantia exata entregue por PC a ao deputado.
O afastamento do petebista já era dado como certo anteontem à noite por integrantes dos três partidos que compõem a Frente Trabalhista -PPS, PDT e PTB. Também os pefelistas que apóiam Ciro eram defensores da idéia de que a permanência era insustentável.
Depois de uma conversa por telefone com o candidato, o deputado viajou anteontem à noite a São José do Rio Preto (SP), onde Ciro passou o dia em campanha.
Na reunião, disse ter consciência de que prejudicaria o presidenciável caso permanecesse.
Os dois discutiram sobre a melhor forma de oficializar o anúncio. Embora tenha sido cogitada uma nota de esclarecimento e uma entrevista coletiva, optaram por uma troca de cartas.
Com isso, pretendiam não só simplificar a destituição, como também dar a ela o caráter de uma conversa entre amigos.
Pelo fato de Martinez presidir o PTB, uma das maiores preocupações da frente era impedir que o episódio provocasse uma crise interna na campanha.
Por exigência do candidato, dois aspectos teriam de ser contemplados nas mensagens: que a iniciativa de deixar o cargo não havia partido dele e que Martinez se retirava da campanha para poder se dedicar à sua defesa.
Enquanto a carta de Ciro foi enviada por e-mail de São José do Rio Preto, de onde ele foi impedido de decolar por problemas no tráfego aéreo, a de Martinez foi escrita em São Paulo, em reunião com vários coordenadores da campanha durante toda a tarde.
Além do próprio deputado, participaram do encontro, entre outros, o deputado João Herrmann, o secretário-geral do PDT, Manoel Dias, o marqueteiro da campanha, Einhart Jacome da Paz, Flávio, irmão de Martinez, o empresário Marcio Lacerda, integrante do comitê financeiro e, por telefone, do Rio, o deputado Roberto Jefferson (PTB).
Depois de pronta, a carta de Martinez, escrita pelos coordenadores, foi lida, por telefone, para Ciro.Em sua carta, Martinez promete levar ""às barras dos tribunais" seus acusadores, ataca o governo federal e elogia Ciro. ""Não podendo atacá-lo por sua biografia, honestidade e integridade moral, procuram desqualificar aqueles que o apóiam."
""Estou certo de que será capaz de voltar desagravado à militância de nossa causa comum de oferecer ao povo brasileiro um caminho de mudança", escreveu Ciro.
Por telefone, também Brizola conversou com os dois ainda na noite de anteontem.
Mesmo fora da coordenação, o deputado deverá permanecer no conselho político da campanha, composto pelos presidentes dos três partidos. Segundo amigos, passará os próximos dias ""em recolhimento" e depois se dedicará à sua campanha de reeleição.

Varginha
Ciro admitiu ontem, em Varginha (MG), que vai assumir a coordenação-geral. "Não temos grandes aparatos, grande tarefas para desenvolver. Nada que eu não possa reunir uma equipe uma vez por semana e dar diretrizes."
O candidato afirmou ter aceitado a renúncia para que Martinez se defenda. "Ele tem direito, como qualquer cidadão."
O presidenciável também classificou como uma "violência" o que estaria ocorrendo com seu ex-coordenador. Declarou ainda que o fato foi consequência da utilização política "radical" da vida prividada de uma pessoa.
Reportagem publicada anteontem pela Folha revelou, entretanto, que o empréstimo foi, na verdade, uma transferência de recursos quase totalmente feita por meio de contas bancárias em nome de "fantasmas", expediente usado por PC em suas operações.
Na cidade, Ciro recebeu o apoio de dois pefelistas que ocuparam ministérios no governo FHC, Carlos Melles, ex-ministro dos Esporte, e Roberto Brant, ex-ocupante da pasta de Minas e Energia.



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