|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIGAÇÕES PERIGOSAS
Decisão foi anunciada em troca de cartas entre petebista e candidato
Após denúncias, Martinez deixa coordenação de Ciro
DA REPORTAGEM LOCAL
DA ENVIADA A VARGINHA (MG)
Acuado pela revelação de ainda
pagar prestações de uma dívida
contraída com Paulo César Farias,
o PC, o deputado José Carlos
Martinez (PTB) anunciou ontem
seu afastamento da coordenação-geral da campanha de Ciro Gomes (PPS) à Presidência.
O posto de Martinez será assumido pelo próprio Ciro, embora
as tarefas executivas provavelmente sejam entregues ao irmão
do candidato, Lúcio Gomes, ou ao
Walfrido Mares Guia (PTB-MG).
A destituição ocorreu depois de
a Folha ter revelado que o ex-coordenador paga até hoje parcelas de uma dívida de milhões de
reais a parentes de PC, ex-tesoureiro do ex-presidente Fernando
Collor de Mello. Em 1999 a dívida
equivalia a US$ 1,6 milhão. Nos
últimos dias, não foram revelados
os valores do saldo, recalculado
com juros, nem a quantia exata
entregue por PC a ao deputado.
O afastamento do petebista já
era dado como certo anteontem à
noite por integrantes dos três partidos que compõem a Frente Trabalhista -PPS, PDT e PTB. Também os pefelistas que apóiam Ciro
eram defensores da idéia de que a
permanência era insustentável.
Depois de uma conversa por telefone com o candidato, o deputado viajou anteontem à noite a São
José do Rio Preto (SP), onde Ciro
passou o dia em campanha.
Na reunião, disse ter consciência de que prejudicaria o presidenciável caso permanecesse.
Os dois discutiram sobre a melhor forma de oficializar o anúncio. Embora tenha sido cogitada
uma nota de esclarecimento e
uma entrevista coletiva, optaram
por uma troca de cartas.
Com isso, pretendiam não só
simplificar a destituição, como
também dar a ela o caráter de
uma conversa entre amigos.
Pelo fato de Martinez presidir o
PTB, uma das maiores preocupações da frente era impedir que o
episódio provocasse uma crise interna na campanha.
Por exigência do candidato,
dois aspectos teriam de ser contemplados nas mensagens: que a
iniciativa de deixar o cargo não
havia partido dele e que Martinez
se retirava da campanha para poder se dedicar à sua defesa.
Enquanto a carta de Ciro foi enviada por e-mail de São José do
Rio Preto, de onde ele foi impedido de decolar por problemas no
tráfego aéreo, a de Martinez foi escrita em São Paulo, em reunião
com vários coordenadores da
campanha durante toda a tarde.
Além do próprio deputado, participaram do encontro, entre outros, o deputado João Herrmann,
o secretário-geral do PDT, Manoel Dias, o marqueteiro da campanha, Einhart Jacome da Paz,
Flávio, irmão de Martinez, o empresário Marcio Lacerda, integrante do comitê financeiro e, por
telefone, do Rio, o deputado Roberto Jefferson (PTB).
Depois de pronta, a carta de
Martinez, escrita pelos coordenadores, foi lida, por telefone, para
Ciro.Em sua carta, Martinez promete levar ""às barras dos tribunais" seus acusadores, ataca o governo federal e elogia Ciro. ""Não
podendo atacá-lo por sua biografia, honestidade e integridade
moral, procuram desqualificar
aqueles que o apóiam."
""Estou certo de que será capaz
de voltar desagravado à militância de nossa causa comum de oferecer ao povo brasileiro um caminho de mudança", escreveu Ciro.
Por telefone, também Brizola
conversou com os dois ainda na
noite de anteontem.
Mesmo fora da coordenação, o
deputado deverá permanecer no
conselho político da campanha,
composto pelos presidentes dos
três partidos. Segundo amigos,
passará os próximos dias ""em recolhimento" e depois se dedicará
à sua campanha de reeleição.
Varginha
Ciro admitiu ontem, em Varginha (MG), que vai assumir a coordenação-geral. "Não temos grandes aparatos, grande tarefas para
desenvolver. Nada que eu não
possa reunir uma equipe uma vez
por semana e dar diretrizes."
O candidato afirmou ter aceitado a renúncia para que Martinez
se defenda. "Ele tem direito, como
qualquer cidadão."
O presidenciável também classificou como uma "violência" o
que estaria ocorrendo com seu
ex-coordenador. Declarou ainda
que o fato foi consequência da utilização política "radical" da vida
prividada de uma pessoa.
Reportagem publicada anteontem pela Folha revelou, entretanto, que o empréstimo foi, na verdade, uma transferência de recursos quase totalmente feita por
meio de contas bancárias em nome de "fantasmas", expediente
usado por PC em suas operações.
Na cidade, Ciro recebeu o apoio
de dois pefelistas que ocuparam
ministérios no governo FHC, Carlos Melles, ex-ministro dos Esporte, e Roberto Brant, ex-ocupante
da pasta de Minas e Energia.
Texto Anterior: Nabo e Berinjela Próximo Texto: ACM e Tasso ganham espaço político Índice
|