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Fui induzido ao erro, diz deputado
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O escândalo do "mensalão"
provocou ontem a primeira de
uma série de renúncias de deputados que recebiam recursos de
Marcos Valério de Souza por indicação do ex-tesoureiro do PT
Delúbio Soares: a do deputado
Valdemar Costa Neto (PL-SP).
Presidente do PL, Costa Neto disse na tribuna ter sido "induzido
ao erro" pelo PT ao admitir que
recebeu dinheiro de caixa dois.
O próximo a renunciar deve ser
o ex-presidente da Câmara João
Paulo Cunha (PT-SP). Segundo
interlocutores do petista, ele deve
renunciar hoje ou amanhã.
Cerca de 20 deputados federais
aparecem ligados ao esquema.
Com a renúncia, evita-se a cassação por quebra de decoro e a perda de direitos políticos, garantindo a possibilidade de se candidatar em 2006. "Fui induzido ao erro
quando aceitei receber recursos
destinados à campanha sem a devida documentação que oficializasse a doação", disse Costa Neto.
O deputado, que completa 56
anos no dia 11, estava no quarto
mandato consecutivo como deputado. Com a renúncia, escapa
da ameaça de ficar inelegível até
2015, já que Jefferson prometia
entrar nesta semana com uma representação contra ele no Conselho de Ética. Depois que o conselho abre um processo, a renúncia
perde o efeito prático porque, se
for cassado, ele ficará inelegível.
O último parlamentar a renunciar foi Pinheiro Landim (CE), em
2003, para evitar cassação sob
acusação de vínculo com um esquema de venda de sentenças.
No discurso, ele assumiu ter recebido dinheiro das contas de
Marcos Valério, o que negara anteriormente, mas disse que tudo
foi direcionado para pagamento
de compromissos eleitorais de
2002. A exemplo de outros deputados, Valdemar assume um crime eleitoral, mas nega o suborno.
"Não tínhamos razões para suspeitar da origem dos recursos que
recebíamos. Em nenhum momento poderíamos colocar sob
suspeita as ações de um partido
aliado que junto conosco venceu
as eleições", afirmou. "Posso garantir que os recursos que o PL recebeu do PT não serviram para
pagar mesada a deputados."
Costa Neto foi, ao lado do ex-ministro José Dirceu (PT-SP) e de
José Alencar, um dos principais
responsáveis em dobrar as resistências do PT e do PL para acertar
a aliança de apoio a Lula em 2002.
"Mensalão"
Segundo Roberto Jefferson, o
presidente do PL coordenava o
pagamento de mesada pelo PT a
parlamentares do PP e do PL em
troca de apoio, e o mesmo dizia
sua ex-mulher Maria Christina
Caldeira. Valdemar deu a entender que não tem comprovação de
que usou o dinheiro para quitar
dívidas eleitorais: "Errei mais
uma vez quando aceitei a pressão
dos credores e concordei em fazer
os pagamentos informalmente".
O ex-tesoureiro do PL Jacinto
Lamas sacou pelo menos R$ 1,65
milhão das contas das empresas
de Valério, segundo dados em poder da CPI dos Correios. Há suspeita de que o irmão de Jacinto,
Antônio de Pádua, ex-funcionário da Liderança do PL na Câmara, também tenha feito saques.
"Durante a campanha eleitoral
de 2002 tive a promessa do PT de
que receberia recursos financeiros para fazer frente às despesas
da coligação PT-PL. (...) Nove meses após o início dos mandatos vitoriosos, o PT passou a honrar os
compromissos que assumiu durante a campanha", disse ele.
"Tínhamos e temos a clareza de
que enquanto não fosse recebido
o instrumento de legalização daquele dinheiro doado, os recursos
não poderiam dar entrada [oficial] no caixa do PL. (...) Aguardamos por todo esse tempo pela documentação que oficializasse as
doações do PT, mas as circunstâncias, como sabemos, reivindicam o fim de qualquer espera",
disse Valdemar, que ressaltou:
"Esses valores se destinavam especificamente aos compromissos
da campanha da aliança PT-PL".
O deputado é quem assina a representação que pede a cassação
do mandato de Jefferson, mas sua
renúncia não muda o trâmite do
processo. O petebista também
afirma ter recebido recursos do
PT em 2002, R$ 4 milhões, sem
declaração à Justiça eleitoral.
Na semana passada, PTB e PL
tentaram um acordo, com o aval
de Severino Cavalcanti (PP-PE),
para evitar as cassações: o PL retiraria a representação, e Jefferson
não pediria a cassação de Valdemar e mais dois integrantes do
PL, como anunciara. A repercussão negativa da tentativa de acordo fez as duas partes recuarem.
Ele tentou isentar Sandro Mabel
(GO) e Carlos Rodrigues (RJ) de
responsabilidade no caso: "Um
representante do povo, eleito pelo
voto direto, deve explicações sobre seus atos à sociedade e, diante
das circunstâncias, não pode buscar a proteção da imunidade".
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