São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2005

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Fui induzido ao erro, diz deputado

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O escândalo do "mensalão" provocou ontem a primeira de uma série de renúncias de deputados que recebiam recursos de Marcos Valério de Souza por indicação do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares: a do deputado Valdemar Costa Neto (PL-SP). Presidente do PL, Costa Neto disse na tribuna ter sido "induzido ao erro" pelo PT ao admitir que recebeu dinheiro de caixa dois.
O próximo a renunciar deve ser o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP). Segundo interlocutores do petista, ele deve renunciar hoje ou amanhã.
Cerca de 20 deputados federais aparecem ligados ao esquema. Com a renúncia, evita-se a cassação por quebra de decoro e a perda de direitos políticos, garantindo a possibilidade de se candidatar em 2006. "Fui induzido ao erro quando aceitei receber recursos destinados à campanha sem a devida documentação que oficializasse a doação", disse Costa Neto.
O deputado, que completa 56 anos no dia 11, estava no quarto mandato consecutivo como deputado. Com a renúncia, escapa da ameaça de ficar inelegível até 2015, já que Jefferson prometia entrar nesta semana com uma representação contra ele no Conselho de Ética. Depois que o conselho abre um processo, a renúncia perde o efeito prático porque, se for cassado, ele ficará inelegível.
O último parlamentar a renunciar foi Pinheiro Landim (CE), em 2003, para evitar cassação sob acusação de vínculo com um esquema de venda de sentenças.
No discurso, ele assumiu ter recebido dinheiro das contas de Marcos Valério, o que negara anteriormente, mas disse que tudo foi direcionado para pagamento de compromissos eleitorais de 2002. A exemplo de outros deputados, Valdemar assume um crime eleitoral, mas nega o suborno.
"Não tínhamos razões para suspeitar da origem dos recursos que recebíamos. Em nenhum momento poderíamos colocar sob suspeita as ações de um partido aliado que junto conosco venceu as eleições", afirmou. "Posso garantir que os recursos que o PL recebeu do PT não serviram para pagar mesada a deputados."
Costa Neto foi, ao lado do ex-ministro José Dirceu (PT-SP) e de José Alencar, um dos principais responsáveis em dobrar as resistências do PT e do PL para acertar a aliança de apoio a Lula em 2002.

"Mensalão"
Segundo Roberto Jefferson, o presidente do PL coordenava o pagamento de mesada pelo PT a parlamentares do PP e do PL em troca de apoio, e o mesmo dizia sua ex-mulher Maria Christina Caldeira. Valdemar deu a entender que não tem comprovação de que usou o dinheiro para quitar dívidas eleitorais: "Errei mais uma vez quando aceitei a pressão dos credores e concordei em fazer os pagamentos informalmente".
O ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas sacou pelo menos R$ 1,65 milhão das contas das empresas de Valério, segundo dados em poder da CPI dos Correios. Há suspeita de que o irmão de Jacinto, Antônio de Pádua, ex-funcionário da Liderança do PL na Câmara, também tenha feito saques.
"Durante a campanha eleitoral de 2002 tive a promessa do PT de que receberia recursos financeiros para fazer frente às despesas da coligação PT-PL. (...) Nove meses após o início dos mandatos vitoriosos, o PT passou a honrar os compromissos que assumiu durante a campanha", disse ele.
"Tínhamos e temos a clareza de que enquanto não fosse recebido o instrumento de legalização daquele dinheiro doado, os recursos não poderiam dar entrada [oficial] no caixa do PL. (...) Aguardamos por todo esse tempo pela documentação que oficializasse as doações do PT, mas as circunstâncias, como sabemos, reivindicam o fim de qualquer espera", disse Valdemar, que ressaltou: "Esses valores se destinavam especificamente aos compromissos da campanha da aliança PT-PL".
O deputado é quem assina a representação que pede a cassação do mandato de Jefferson, mas sua renúncia não muda o trâmite do processo. O petebista também afirma ter recebido recursos do PT em 2002, R$ 4 milhões, sem declaração à Justiça eleitoral.
Na semana passada, PTB e PL tentaram um acordo, com o aval de Severino Cavalcanti (PP-PE), para evitar as cassações: o PL retiraria a representação, e Jefferson não pediria a cassação de Valdemar e mais dois integrantes do PL, como anunciara. A repercussão negativa da tentativa de acordo fez as duas partes recuarem.
Ele tentou isentar Sandro Mabel (GO) e Carlos Rodrigues (RJ) de responsabilidade no caso: "Um representante do povo, eleito pelo voto direto, deve explicações sobre seus atos à sociedade e, diante das circunstâncias, não pode buscar a proteção da imunidade".


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