São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O PUBLICITÁRIO

Publicitário refaz proposta de colaborar com apuração para receber benefício legal; Folha apurou que empresário promete "entregar" cinco petistas

Valério diz ter "fatos novos" e tenta acordo

SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O publicitário Marcos Valério de Souza protocolou ontem ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, por meio de seus advogados, um documento colocando-se à disposição para colaborar com a investigação sobre o "mensalão", com a revelação de novos fatos, em troca do benefício futuro da redução da pena, no momento do processo criminal, ainda inexistente.
Ele também entregou uma lista com 31 nomes de pessoas que receberam dinheiro de saques feitos em contas bancárias de suas empresas, com o nome completo, o valor e a data da retirada do dinheiro. Ele volta a depor hoje às 14h na Procuradoria.
Conforme a Folha apurou, Marcos Valério prometeu apresentar "fatos novos" como uma reunião do vice-presidente do banco BMG, Roberto Rigotto, com cinco petistas -um deles é hoje integrante do governo-, à época da edição da medida provisória 130, que trata de crédito consignado para aposentados.
O BMG teve exclusividade de crédito consignado durante alguns meses e, conforme Valério antecipou a assessores, os cinco petistas que se reuniram com Rigotto depois integraram a lista dos que sacaram de suas contas.

Dirceu é o alvo
O empresário entregou documentos novos à Procuradoria Geral, entre os quais a lista de sacadores, ratificou a proposta de acordo de colaboração, chamado delação premiada, pediu que Antonio Fernando não peça sua prisão preventiva ao STF (Supremo Tribunal Federal) e solicitou o desbloqueio do R$ 1,8 milhão de aplicação financeira da mulher dele, Renilda de Souza.
O fato de Valério reiterar ao procurador-geral a proposta de delação premiada um dia antes do primeiro depoimento público do deputado e ex-chefe da Casa Civil José Dirceu (PT-SP) é mais um sinal de que o empresário pode estar disposto a incriminá-lo.
Hoje, José Dirceu depõe no Conselho de Ética da Câmara. Ele vai falar no processo de cassação do mandato do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), autor das acusações sobre o suposto "mensalão", por quebra de decoro parlamentar. Quando depôs na CPI, na semana passada, Renilda acusou o ex-ministro de saber dos empréstimos de empresas de que o marido é sócio para o PT.
No último fim de semana, a SMPB Comunicação disse que Roberto Marques, amigo e assessor de Dirceu em São Paulo, fora autorizado a fazer um saque de R$ 50 mil de uma conta da empresa.
O publicitário sugeriu o acordo de colaboração a Souza quando prestou o primeiro depoimento a ele, em 14 de julho último. Naquele momento, o procurador-geral disse que achava precipitado aceitar a colaboração porque a apuração ainda estava no início.
O benefício da delação premiada está previsto em várias leis e garante ao réu a redução ou até mesmo a extinção da pena do crime de que é acusado.
No início da tarde de ontem, o procurador-geral disse que decidiria até o final do dia se acolhia ou não o pedido do empresário de prestar outro depoimento.
Antonio Fernando afirmou que também estava analisando se pedirá ou não ao STF a prisão preventiva e o bloqueio dos bens de Marcos Valério. Essas duas solicitações foram feitas pela CPI dos Correios na semana passada.


Colaborou LUIZ FRANCISCO, da Agência Folha, em Brasília

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