São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/FUNDOS DE PENSÃO

Parlamentares petistas são contra, alegando que fim de sigilo traria instabilidade econômica; oposição não chega a consenso

CPI votará a quebra de sigilos de fundos

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Como a convocação do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) já é dada como certa, a polêmica na sessão de hoje da CPI dos Correios deve ficar por conta dos requerimentos de quebra de sigilo bancário de fundos de pensão. Os petistas são contra, alegando que essa quebra de sigilo geraria instabilidade econômica, e a oposição se divide quanto à amplitude da medida.
O relator da comissão, deputado Osmar Serraglio, do PMDB paranaense, propõe a limitação da quebra de sigilo às aplicações dos fundos no Banco Rural e no BMG. "Não queremos desestabilizar nada economicamente. Ninguém quer implodir banco, fundo de pensão nem qualquer instituição", disse Serraglio.
A quebra atingiria dez fundos, entre eles: Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil; Petros, da Petrobras; e Funcef, da Caixa Econômica Federal. Parlamentares querem investigar se há relação entre investimentos feitos pelos fundos e os empréstimos bancários tomados pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, repassados depois ao PT.
Serraglio conversou com o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS), autor de um dos requerimentos, e Lorenzoni concordou com a limitação. A oposição, no entanto, não está unida quanto a esse assunto.
O senador Heráclito Fortes (PFL-PI) defende que sejam abertas as informações relativas a todas as aplicações "atípicas". Aplicações atípicas seriam os investimentos desses fundos em bancos pequenos, como o Panamericano e o BRB (Banco de Brasília).
Se depender dos petistas, no entanto, a CPI não terá acesso aos dados bancários dos fundos de pensão, seja de forma restrita ou de forma ampliada. "Eu acho essa discussão extremamente delicada e sem nexo com o que está sendo investigado pela CPI dos Correios", afirmou um dos subrelatores da comissão, deputado Carlos Abicalil (PT-MT).
O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), e Serraglio têm sido cautelosos, preocupados com a repercussão dos atos da CPI no mercado financeiro. Delcídio tem recebido ligações de operadores do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Eles tentam conter ímpetos de alguns integrantes da CPI, que propõem, por exemplo, a liqüidação extrajudicial do Banco Rural como retaliação pela falta de colaboração dessa instituição com as investigações.
Além das aplicações financeiras já identificadas, o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato afirmou, em entrevista à Folha, que havia interferência política nas decisões da Previ.
A convocação de Pizzolato também deve ser votada hoje. Os parlamentares da CPI querem esclarecer, por exemplo, a destinação de R$ 326 mil sacados de uma conta da DNA, da agência de Marcos Valério no Banco Rural, para o ex-diretor de Marketing do BB.
O fato mais importante da sessão de hoje, no entanto, deve ser a aprovação da convocação do ex-ministro José Dirceu, embora isso não vá gerar debate entre governo e oposição. Como contrapartida à convocação de Dirceu, os petistas querem a convocação também do banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity. O grupo, que controla empresas de telefonia, depositou R$ 127 milhões na conta da DNA Propaganda. Apesar de as empresas controladas por Dantas serem ou terem sido clientes da DNA, a CPI dos Correios suspeitou do volume depositado.
"A CPI está seguindo a lógica dos fatos. Aquilo que a realidade vai apresentando vai se tornando objeto da comissão", declarou a senadora Ideli Salvatti, do PT catarinense.
Ela se referia ao depoimento da mulher de Marcos Valério, Renilda Santiago, à CPI dos Correios. A mulher do publicitário afirmou que José Dirceu se reuniu com a diretoria do Rural e do BMG para tratar do pagamento dos empréstimos tomados pelo publicitário e repassados ao PT. O ex-ministro negou que tenha tratado desse assunto.
A senadora também citou matéria da revista "Veja" segundo a qual o amigo e ajudante de Dirceu Roberto Marques foi autorizado a sacar R$ 50 mil da conta da SMPB, da qual Valério é sócio, no Banco Rural.


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