|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/FUNDOS DE PENSÃO
Parlamentares petistas são contra, alegando que fim de sigilo traria instabilidade econômica; oposição não chega a consenso
CPI votará a quebra de sigilos de fundos
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Como a convocação do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) já é
dada como certa, a polêmica na
sessão de hoje da CPI dos Correios deve ficar por conta dos requerimentos de quebra de sigilo
bancário de fundos de pensão. Os
petistas são contra, alegando que
essa quebra de sigilo geraria instabilidade econômica, e a oposição
se divide quanto à amplitude da
medida.
O relator da comissão, deputado Osmar Serraglio, do PMDB
paranaense, propõe a limitação
da quebra de sigilo às aplicações
dos fundos no Banco Rural e no
BMG. "Não queremos desestabilizar nada economicamente. Ninguém quer implodir banco, fundo
de pensão nem qualquer instituição", disse Serraglio.
A quebra atingiria dez fundos,
entre eles: Previ, fundo de pensão
dos funcionários do Banco do
Brasil; Petros, da Petrobras; e
Funcef, da Caixa Econômica Federal. Parlamentares querem investigar se há relação entre investimentos feitos pelos fundos e os
empréstimos bancários tomados
pelo publicitário Marcos Valério
Fernandes de Souza, repassados
depois ao PT.
Serraglio conversou com o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS), autor de um dos requerimentos, e Lorenzoni concordou
com a limitação. A oposição, no
entanto, não está unida quanto a
esse assunto.
O senador Heráclito Fortes
(PFL-PI) defende que sejam abertas as informações relativas a todas as aplicações "atípicas". Aplicações atípicas seriam os investimentos desses fundos em bancos
pequenos, como o Panamericano
e o BRB (Banco de Brasília).
Se depender dos petistas, no entanto, a CPI não terá acesso aos
dados bancários dos fundos de
pensão, seja de forma restrita ou
de forma ampliada. "Eu acho essa
discussão extremamente delicada
e sem nexo com o que está sendo
investigado pela CPI dos Correios", afirmou um dos subrelatores da comissão, deputado Carlos
Abicalil (PT-MT).
O presidente da CPI, senador
Delcídio Amaral (PT-MS), e Serraglio têm sido cautelosos, preocupados com a repercussão dos
atos da CPI no mercado financeiro. Delcídio tem recebido ligações
de operadores do Rio de Janeiro e
de São Paulo.
Eles tentam conter ímpetos de
alguns integrantes da CPI, que
propõem, por exemplo, a liqüidação extrajudicial do Banco Rural
como retaliação pela falta de colaboração dessa instituição com as
investigações.
Além das aplicações financeiras
já identificadas, o ex-diretor de
Marketing do Banco do Brasil
Henrique Pizzolato afirmou, em
entrevista à Folha, que havia interferência política nas decisões
da Previ.
A convocação de Pizzolato também deve ser votada hoje. Os parlamentares da CPI querem esclarecer, por exemplo, a destinação
de R$ 326 mil sacados de uma
conta da DNA, da agência de
Marcos Valério no Banco Rural,
para o ex-diretor de Marketing do
BB.
O fato mais importante da sessão de hoje, no entanto, deve ser a
aprovação da convocação do ex-ministro José Dirceu, embora isso
não vá gerar debate entre governo
e oposição. Como contrapartida à
convocação de Dirceu, os petistas
querem a convocação também do
banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity. O grupo, que
controla empresas de telefonia,
depositou R$ 127 milhões na conta da DNA Propaganda. Apesar
de as empresas controladas por
Dantas serem ou terem sido clientes da DNA, a CPI dos Correios
suspeitou do volume depositado.
"A CPI está seguindo a lógica
dos fatos. Aquilo que a realidade
vai apresentando vai se tornando
objeto da comissão", declarou a
senadora Ideli Salvatti, do PT catarinense.
Ela se referia ao depoimento da
mulher de Marcos Valério, Renilda Santiago, à CPI dos Correios. A
mulher do publicitário afirmou
que José Dirceu se reuniu com a
diretoria do Rural e do BMG para
tratar do pagamento dos empréstimos tomados pelo publicitário e
repassados ao PT. O ex-ministro
negou que tenha tratado desse assunto.
A senadora também citou matéria da revista "Veja" segundo a
qual o amigo e ajudante de Dirceu
Roberto Marques foi autorizado a
sacar R$ 50 mil da conta da SMPB,
da qual Valério é sócio, no Banco
Rural.
Texto Anterior: Rumo a 2006, Maia inaugura blog na internet Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/Dia D: Dirceu testemunha e enfrenta acusador Índice
|