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JANIO DE FREITAS
Ordens fora da ordem
A reação das companhias às ordens técnicas do Conac de redistribuir as linhas aéreas tem a lei ao seu lado
AS MEDIDAS determinadas para
desanuviar a crise da aviação
comercial indicam a adoção
de um curioso método: o de recorrer
à desordem a título de fazer o reordenamento.
A redistribuição radical das linhas
aéreas, com a finalidade de desafogar o aeroporto de Congonhas, foi
determinada pelo Conac (Conselho
Nacional da Aviação Civil), a isso induzido pelo ministro Nelson Jobim.
Mas o Conac é apenas "órgão auxiliar de consulta", como outros conselhos. E, portanto, desprovido de
poder legal para determinar a composição da rede de linhas aéreas, ou
qualquer outra providência executiva. Por lei, tal atribuição é exclusiva
da Anac (Agência Nacional da Aviação Civil), que também por lei é dotada de autonomia para determinar
as normas operacionais da aviação
civil. Autonomia, logo, sem subordinação ao Conac.
Em relação à Anac e seus poderes
e atribuições legais, pode-se dizer do
ministro da Defesa o mesmo dito a
respeito do Conac. Daí a frase irritada que custou tanto ao então ministro Waldir Pires na imprensa, quando se isentou de responsabilidade
sobre o tráfego aéreo com a recomendação aos jornalistas: "Leiam a
lei, leiam a lei".
O ministro Nelson Jobim não está
sujeito à mesma recomendação.
Mas está, ou deve estar, sujeito à lei.
Assim como os outros que, integrantes do Conac, extravasem os poderes
do conselho e os seus próprios. As
empresas aéreas estavam em situação frágil, dado o abuso das conexões lucrativas com que inflaram
Congonhas e contribuíram muito
para a crise. Mas sua reação às ordens técnicas do Conac tem a lei ao
seu lado. O governo, não.
Proteção ampliada
Mais de uma vez em seus depoimentos e entrevistas, sempre valiosos pela franqueza e desembaraço incomuns, o brigadeiro José
Carlos Pereira deixou clara a existência de injunções políticas e pessoais que sustaram, ou deformaram, providências por ele desejadas na Infraero. No bom depoimento à CPI do Apagão, terça-feira
na Câmara, disse o brigadeiro que
só no caso de "ser louco" suporia
ter força política para demitir a diretora de engenharia da Infraero,
Eleuza Terezinha, de cuja política
favorável à construção de shoppings, em vez de melhorias técnicas, discordou sempre.
Em nenhuma das referências às
injunções deformadoras, nem
mesmo diante dos deputados da
CPI, o brigadeiro foi indagado sobre as fontes das nomeações e da
proteção. Eleuza Pinto e seus shoppings já foi encontrada como peça
irremovível pelo brigadeiro Pereira
ao assumir a Infraero do primeiro
para o segundo mandato de Lula.
Aguarde-se
Por falar em nomeações, Lula parece ter resistido à de Luiz Paulo
Conde, por longo meio ano, só para
tornar mais degradante a sua capitulação agora. Passa a ser co-responsável pela resposta, que um dia
aparecerá, sobre os motivos da exigência do PMDB-RJ para a entrega
de Furnas ao atual secretário de
Cultura do governo fluminense. A
resposta não será boa.
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