São Paulo, domingo, 02 de setembro de 2001

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INVESTIGAÇÃO

Operação foi feita por subsidiária do banco nas Ilhas Cayman

Citibank abriu empresa de Maluf em paraíso do Caribe

ROBERTO COSSO
ENVIADO ESPECIAL A CAYMAN

A subsidiária do grupo Citibank em Cayman, chamada Cititrust Limited, foi responsável pela abertura da empresa Red Ruby Limited, pertencente ao ex-prefeito paulistano Paulo Maluf.
De acordo com informações fornecidas à Folha pelo Registro de Companhias de Cayman, uma espécie de Junta Comercial do paraíso fiscal caribenho, a Red Ruby Ltd. é uma empresa de não-residente na ilha, registrada em 21 de junho de 1985 e encerrada em 2 de julho de 1997.
Segundo o governo da Suíça, Maluf abriu, em julho de 1985, uma conta no Citibank daquele país e, em janeiro de 1997, a transferiu para o mesmo banco em Jersey, no canal da Mancha.
No ofício que encaminhou ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, órgão ligado ao Ministério da Fazenda), o governo suíço diz que a conta foi aberta originalmente em nome da empresa Blue Diamond Ltd., constituída em Cayman, e que, mais tarde, ela mudou de nome para Red Ruby Ltd..
Contudo os suíços inverteram a ordem das empresas. A data de registro da Red Ruby Ltd. coincide com a data da abertura da conta de Maluf na Suíça e o fechamento oficial da empresa em Cayman ocorreu sete meses após o encerramento da conta na Suíça -e sua transferência para Jersey.
Segundo o Registro de Companhias de Cayman, a Blue Diamond Ltd. foi aberta em 18 de fevereiro de 1998 e segue ativa. Seu agente é Admiral Administration.
As operações financeiras de Maluf no exterior foram descobertas porque, seguindo a legislação internacional de combate à lavagem de dinheiro, o Citibank informou aos governos da Suíça e de Jersey que ele é o beneficiário do dinheiro das contas.
Em 10 de junho, a Folha divulgou a existência de recursos em nome do ex-prefeito no exterior. As autoridades de Jersey haviam bloqueado cerca de US$ 200 milhões pertencentes a Maluf e a seis familiares dele. Maluf nega depósitos em Jersey e na Suíça, diz que nunca teve ações de empresas em qualquer paraíso fiscal.
A Folha apurou que o Citibank oferece a seus clientes especiais a possibilidade de abrir empresas em paraísos fiscais, como Cayman. Na ilha, o serviço é prestado pelo Cititrust Limited.
A lei de Cayman permite a abertura de empresas com ações ao portador, sem registrar o nome de seus donos. São as off shore (além da maré), autorizadas a funcionar em qualquer lugar do mundo, mas proibidas de exercer atividades em Cayman. Por isso a ilha é acusada de auxiliar em operações internacionais de lavagem de dinheiro pelo Gafi (Grupo de Ação Financeira Internacional, principal organismo internacional de combate à lavagem de dinheiro).
Para abrir uma empresa em Cayman basta registrar o seu contrato social no Register of Companies (Registro de Companhias), um órgão ligado ao Cayman Islands Monetary Authority (o Ministério da Fazenda da ilha).
O contrato social diz quais são as atividades que a empresa pode desenvolver fora de Cayman. A realização de aplicações financeiras sempre está presente entre os objetivos dessas empresas.
A companhia off shore rarissimamente tem sede física em Cayman e seu dono é a pessoa que detém as ações ao portador. A única informação que as autoridades de Cayman mantêm nos arquivos sobre as off shore é o nome do agente que a representa. É ele que assina o pedido de abertura da companhia e que deve fornecer as informações sobre a empresa. O agente -ou qualquer pessoa por ele designada- pode abrir uma conta ou fazer aplicações em qualquer lugar do mundo.



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