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REFORMA AOS PEDAÇOS
Planalto endurece na reforma fiscal e planeja atropelar PSDB e PFL com troca de votos por verbas
Governo ameaça oposição com fisiologismo
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo de Luiz Inácio Lula
da Silva ameaça usar um método
eficiente, mas que condenava na
gestão de Fernando Henrique
Cardoso: liberar verbas para atender emendas parlamentares para
alcançar maioria no Congresso e
aprovar os projetos de seu interesse atropelando a oposição.
Essa ameaça é parte de um endurecimento do governo com
PSDB e PFL, o núcleo da atual
oposição, para votar amanhã em
primeiro turno na Câmara a reforma tributária. Setores tucanos
e pefelistas dizem que, se o Palácio
do Planalto não negociar com
eles, o governo federal não aprovará a reforma tributária.
Para aprovar uma emenda
constitucional, o governo necessita de 60% dos 513 deputados e dos
81 senadores, em dois turnos de
votação em cada Casa do Congresso. Na reforma da Previdência, o governo precisou do PFL e
do PSDB, que, juntos, deram cerca de 60 votos ao projeto. Por isso
o Planalto recorreu pouco à liberação de emendas parlamentares.
Nos bastidores, falou-se numa liberação total de R$ 100 milhões, o
que é considerado um valor não
muito elevado por deputados
acostumados a esse tipo de negociação no governo passado.
Varejo
Agora, na reforma tributária, o
governo ameaça negociar no chamado "varejo político", ignorando cúpulas partidárias e caciques
políticos com os quais se acertou
anteriormente na reforma da Previdência Social.
Oficialmente, o governo mantém o discurso de que a liberação
de emendas é feita desde o início
do ano segundo critérios técnicos.
Mas articuladores políticos foram
claros ontem em suas conversas
com a Folha: vão usar o instrumento se necessário.
É uma estratégia arriscada, mas
o governo avalia que, depois que
precisou da oposição para aprovar a reforma da Previdência, está
colando um discurso de que virou
refém da oposição. Daí a necessidade de uma demonstração de
força. Por isso, ontem, num tenso
dia de negociações entre governo
federal, governadores e congressistas sobre reforma tributária, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu a ordem para o endurecimento nas negociações.
A interlocutores, Lula disse que
a oposição quer ter poder de veto
em sua gestão, ditando quando o
governo pode votar as reformas e
até o limite das concessões da
União nas negociações.
Reação
Também pegaram mal no Palácio do Planalto declarações recentes de oposicionistas. "Se não
houver entendimento até amanhã, a orientação dos governadores [às bancadas estaduais] é não
votar o projeto", disse ontem o
governador de Minas, Aécio Neves (PSDB).
Pefelistas baianos como o líder
do partido na Câmara, o deputado José Carlos Aleluia (BA), e o
deputado ACM Neto têm dito
que, se o governo decidir atropelá-los, impedirão a votação da reforma. ACM Neto, por exemplo,
já ameaçou não dar os cerca de 30
votos na Câmara dos Deputados
do grupo político do senador Antonio Carlos Magalhães, cacique
do PFL baiano.
Na avaliação do Palácio do Planalto, se ceder à oposição nos termos defendidos por Aécio, Aleluia e ACM Neto, o governo poderá se enfraquecer. Segundo um
auxiliar de Lula, Aécio não fala
pelo governadores e "não é presidente da República para dizer
quando o governo deve votar".
Negociações
Para enfraquecer a oposição, os
ministros José Dirceu (Casa Civil)
e Antonio Palocci Filho (Fazenda)
têm feito negociações pontuais
com os governadores a fim de assegurar maioria, caso seja preciso
partir para o confronto na reforma tributária. Ontem, Palocci dedicou boa parte do dia a um corpo-a-corpo com governadores.
A Folha apurou que emissários
do governador Geraldo Alckmin
(PSDB) têm tratado com o Palácio do Planalto à revelia de Aécio
Neves, que pertence ao mesmo
partido do governador paulista.
Colaborou GABRIELA ATHIAS, da Sucursal de Brasília
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