São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2004

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LAVAGEM DE DINHEIRO

Para presidente, prática criminosa está infiltrada na política, no empresariado e no Judiciário

Crime organizado tem "café no bule", diz Lula

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em evento no STJ (Superior Tribunal de Justiça) sobre as formas de combate à lavagem de dinheiro no país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou ontem a política, o empresariado e o Judiciário como setores que abrigam integrantes do crime organizado.
Para enfatizar o grau de periculosidade dessas pessoas, Lula citou frases, segundo ele, do cantor Zeca Pagodinho e do apresentador de TV Carlos Massa, o Ratinho. Depois, na parte lida de seu discurso, o presidente chamou de "inócuos" os resultados obtidos pelo governo FHC (1995-2002) no combate à lavagem de dinheiro.
"Todos vocês têm consciência, como diria o Zeca Pagodinho, que essa gente que vocês querem pegar, "tem bala na agulha", ou como diria o Ratinho: "Essa gente tem café no bule". São pessoas que estão ligadas às mais diferentes instituições, com seus braços na política, no empresariado, no sistema financeiro, no Poder Judiciário, ou seja, são pessoas que, se a gente olhar a fisionomia, até pensa que é gente do bem, a gente até pensa que são pessoas que estão trabalhando a serviço da sociedade."
O presidente ainda sugeriu que alguns deles possam estar lavando dinheiro em obras sociais. "Por que não dizer, talvez até alguns tenham alguma ação social em algum lugar do mundo. Mas, na verdade, tudo isso é para acobertar a quantidade enorme de dinheiro público, de dinheiro sujo que entra nos países para incentivar o narcotráfico, o crime organizado e, eu diria, um processo de corrupção muito sério", afirmou.
Além de Lula, o presidente do STJ, Edson Vidigal, os ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Waldir Pires (Controladoria Geral), o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, e o procurador-geral da República, Claudio Fonteles, participaram da abertura do Encontro Internacional de Combate à Lavagem de Dinheiro e de Recuperação de Ativos.
Lula abriu sua fala de forma improvisada, partindo, em seguida, para o texto produzido por sua assessoria. Neste momento, atacou seu antecessor. "Desde 1998, o Brasil possui uma legislação específica de combate à lavagem de dinheiro. Até agora, porém, seus resultados tinham sido praticamente inócuos. Havia algo de errado a ser corrigido, tenham certeza."
Na fala, o presidente enalteceu a Polícia Federal e o Ministério da Justiça. Disse que o governo tem sido "implacável" no combate à delitos financeiros. Segundo ele, a população, além de "pressa", tem "motivos para cobrar resultados".
Para Lula, a prioridade deve ser a recuperação das verbas desviadas. "A coisa que mais entristece é saber que uma pessoa foi punida, que está há quatro anos na cadeia, e, depois de todo esse tempo, você percebe que não se conseguiu trazer um único centavo que essa pessoa roubou de volta para os cofres da instituição que foi roubada", disse. (EDUARDO SCOLESE)

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