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DESCOBRIMENTO
Para Diogo Curto, de Portugal, atribuir problemas brasileiros à colonização é "bode expiatório"
Historiador isenta o legado português
Patrícia Santos/Folha Imagem
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O historiador português Diogo Ramada Curto, professor da Universidade Nova de Lisboa |
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio
Culpar a herança
da colonização portuguesa pelos problemas brasileiros é
buscar "um bode
expiatório", avalia
Diogo Ramada Curto, 40, professor da Universidade Nova de Lisboa e especialista em história portuguesa a partir do século 16.
Membro da Comissão Portuguesa para a Celebração dos Descobrimentos e professor visitante
da Brown University (Rhode Island, EUA), o historiador português é um dos convidados do seminário "Que País É Este?", que
começou ontem no Centro Cultural Banco do Brasil, no centro do
Rio, e discute a constituição da
identidade nacional brasileira.
Do debate sobre a herança ibérica, ontem, participou o cientista
social Luiz Werneck Vianna, 60,
da Universidade Federal Rural do
Rio (leia texto ao lado). A seguir,
trechos da entrevista de Curto.
Folha - O que é o legado português no Brasil?
Diogo Ramada Curto - O legado português tem sido visto de
duas maneiras: pelo lado das manifestações mais específicas, como a língua, e pelo lado do desenvolvimento de elementos ligados
à discriminação, à exploração e à
violência. Como cidadão, estou
mais próximo dos elementos da
denúncia de um passado colonial
fundado na violência, mas como
historiador penso que é importante conciliar os dois aspectos.
Haverá sempre este dualismo
quando se fala de um legado português, que é no fundo o dualismo da capacidade dos portugueses nas colônias se adaptarem e
integrarem as populações, por
um lado, e da capacidade de discriminação e exploração que os
portugueses no fundo espalharam pelo mundo.
Folha - O senhor concorda
com a análise que atribui a tais
práticas de dominação parte da
responsabilidade pelos problemas brasileiros?
Curto - Isso seria muito pretensioso. Seria pensar que os portugueses teriam tido a capacidade
de determinar a sociedade brasileira, coisa que não aconteceu.
Existem problemas contemporâneos que o Brasil, tal como Portugal, tal como outras sociedades,
atravessa. Esses problemas geram
crises de identidade e, por vezes,
tende-se a buscar na história respostas para essas mesmas crises
de identidade.
A herança de um passado português pode ser um bom bode expiatório. É normal no comportamento das sociedades que se libertam atribuir à metrópole essas
marcas de arcaísmo.
Eu acho que é importante, e é isso que compete ao historiador,
entender as mudanças que as sociedades atravessaram, tanto Portugal quanto o Brasil. Por isso seria pretensioso julgar que Portugal tenha responsabilidade.
Folha - Pretensioso não só
com Portugal, mas também com
o Brasil, o senhor diz?
Curto - Exato. Há um exemplo
muito curioso, dado pelo historiador José Honório Rodrigues,
sobre a colônia portuguesa no
Rio, sobre as mudanças que acontecem. Essa colônia teria sido caracterizada por um espírito intolerante, conservador. Mas a segunda geração, de portugueses
nascidos no Rio, já tinha assimilado um espírito carioca. Essas
marcas que poderiam ser atribuídas a uma herança portuguesa já
teriam deixado de existir.
O exemplo pode ser generalizado para um passado mais longo.
Há uma capacidade inventiva da
sociedade brasileira para além
dos seus quadros institucionais. É
essa inventividade que me deslumbra em relação ao Brasil.
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