São Paulo, quinta, 2 de outubro de 1997.



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GOVERNO ITAMAR
Empresários e sindicalistas criticaram o então ministro
Ciro teve gestão turbulenta no Ministério da Fazenda

da Sucursal de Brasília

O presidenciável Ciro Gomes teve uma passagem turbulenta pelo Ministério da Fazenda, o cargo de maior projeção nacional que já ocupou.
Ciro foi ministro por menos de quatro meses, no final da gestão Itamar Franco, em 94. Desgastou-se nesse curto período e foi descartado como opção para a mesma pasta no governo Fernando Henrique Cardoso, o que ajuda a entender por que deixou os tucanos e se filiou ao PPS.
Ele começou sua vida de ministro chancelando uma radical abertura do país às importações, revista depois por FHC, e terminou com uma intervenção federal no Banespa e no Banerj, no último dia útil do ano.
Nesse meio tempo, recomendou "porradas" para combater a inflação, chamou consumidores de "otários" e classificou de "canalhice" uma suposta intenção das empresas de aumentar preços após as eleições.
A enxurrada de importações pôs o empresariado, especialmente o paulista, contra Ciro. Interferências em greves dos petroleiros e dos metalúrgicos fizeram o então ministro ser atacado pelo PT.
Lepra e catapora
Ciro Gomes chegou à Fazenda por um acidente -o que pôs no ar, por meio de antenas parabólicas, declarações desastrosas do ex-ministro Rubens Ricupero sobre seu apoio ao candidato oficial à Presidência, FHC.
Com a queda de Ricupero, Itamar quis um político de sua confiança à frente da equipe econômica, na qual não confiava.
Ciro, que governava o Ceará, foi alçado ao cargo com fama de bom administrador e, sobretudo, de bom comunicador.
Sem intimidade com temas econômicos, foi o papel de comunicador que Ciro tratou de priorizar. "Com umas quatro porradas, a gente faz a inflação cair", declarou um dia depois de anunciado ministro da Fazenda.
Defendeu o Plano Real -que, na época, ainda estava em fase de ajustes- em locais tão inusitados como Belford Roxo (região metropolitana do Rio), Mossoró (RN), Caruaru (PE) e Maringá (PR).
A primeira crítica à indicação de Ciro deveu-se a sua filiação partidária: depois do episódio Ricupero, temia-se que um ministro tucano usasse seu cargo para favorecer Fernando Henrique Cardoso. "Ser do PSDB não é lepra nem catapora", disse Ciro na época.
Apoio no PFL
O primeiro partido a declarar apoio à permanência de Ciro na Fazenda foi o PFL.
Logo após a escolha de Ciro, caciques pefelistas como Antonio Carlos Magalhães (BA) e Marco Maciel o definiram como o nome ideal para a pasta no governo Fernando Henrique.
"Ciro Gomes já era um ministro certo na equipe de FHC. Agora, se tiver êxito, terá lugar certo na pasta", disse ACM.
O destempero verbal de Ciro, porém, começou a fazer a atuação do ministro ser questionada por políticos e empresários -sem falar na própria equipe que comandava.
Em outubro, às vésperas do lançamento de um pacote de contenção do consumo, Ciro disse que poderia elevar os juros "lá para o céu" e restringir o crediário para "salvar o Plano Real".
Até então, não passava pela cabeça de ninguém que o Real precisasse ser salvo.
Cresciam as reclamações de empresários contra as importações e o arrocho ao crédito.
Ciro não evitava o tom de confronto. "Estou pouco ligando se a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) me apóia ou não", afirmou.
Ministério FHC
Em dezembro, o já eleito Fernando Henrique começa a anunciar nomes para seu ministério.
O primeiro nome divulgado é justamente o da Fazenda, que ficaria com o então presidente do Banco Central, Pedro Malan, de estilo oposto ao de Ciro Gomes.
Antes do anúncio oficial, Ciro já sabia da escolha de FHC. O futuro presidente da República reservava para ele um outro lugar em sua equipe: o Ministério da Saúde, pasta que Ciro recusou.
Esvaziamento
Esvaziado na Fazenda -Malan já dava as cartas da política econômica- e no final de sua gestão, Ciro trombou ainda com José Serra, escolhido ministro do Planejamento, e Henrique Santillo, ministro da Saúde do governo Itamar Franco.
Cobrou publicamente de Serra apoio à política de câmbio, criticada pelo futuro ministro, e disse haver irregularidades na Saúde.
Henrique Santillo divulgou nota cobrando provas, e Serra foi aconselhado a não polemizar com o ministro que saía.
(GUSTAVO PATÚ)



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