São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

QUESTÃO AGRÁRIA
Segundo CNBB, que intermediou as negociações, decisão deve acabar com impasse entre governo e MST
FHC concorda com pedido dos sem-terra

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso cedeu e concordou ontem à noite com quase a totalidade dos pedidos que o MST havia feito para a liberação de créditos para o plantio da safra. Segundo a CNBB, que intermediou as negociações, essa decisão deve pôr fim ao impasse entre governo e sem-terra.
Segundo dom Raymundo Damasceno, secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e um dos interlocutores do MST, o governo concordou em liberar até R$ 2.000 de crédito para cada uma das 110 mil famílias assentadas. Além disso, os juros serão de aproximadamente 2% ao ano e haverá o rebate (desconto) de 40% da dívida na hora do pagamento.
Os sem-terra pediam juros de 1,15% ao ano -o mesmo que existe na chamada linha A, que atende exclusivamente os assentados no programa de reforma agrária. O governo inicialmente apontava juros de 4% -os mesmos cobrados na chamada linha C- e rebate fixo de R$ 200.
Dom Raymundo não deu detalhes sobre outros aspectos do financiamento que haviam sido requeridos pelos sem-terra, como facilidades em oferecer garantias aos bancos para o empréstimo. Disse apenas que outras reivindicações, como o de retorno do projeto Lumiar (de assistência agrícola) e de alfabetização e educação, também tiveram avanço.
A reunião da CNBB com o presidente durou mais de duas horas. Foi encerrada às 23h15 de ontem. Também participaram das conversas o vice-presidente, Marco Maciel, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, e o secretário-executivo do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (Conic), pastor Ervino Schimidt.
Dom Raymundo disse que hoje pela manhã seria emitida nota oficial das entidades mediadoras em que seriam apresentados todos os detalhes. Também hoje cedo a coordenação nacional do MST seria informada sobre a reunião.
"Somos apenas mediadores. Cabe à direção do movimento (MST) avaliar se a proposta é do seu interesse e se atende às suas necessidades", afirmou o bispo. "Mas, na minha opinião, ela pode pôr fim ao impasse."
Desde o início de setembro, o MST decidiu intensificar a invasão de prédios públicos como forma de pressionar o governo a ceder os recursos para o plantio. No dia 12, iniciou um movimento de ameaça de invasão -que durou 11 dias- da fazenda Córrego da Ponte, em Buritis (MG), que pertence aos filhos de FHC.
Integrantes do movimento passaram o final de semana em compasso de espera. A orientação da coordenação nacional do MST era aguardar o resultado da conversa com o presidente para só depois decidir a estratégia de mobilização dos militantes.
A maior preocupação de Gilberto Portes de Oliveira, um dos coordenadores do MST, era desfazer os boatos de que o movimento estaria preparando, para o final de semana, um novo acampamento nas proximidades da fazenda Córrego da Ponte.


Texto Anterior: Lideranças começaram com ação na Pastoral
Próximo Texto: Questão agrária: PF envia agentes para fazenda em Buritis
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.