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RETA FINAL
Antônio Palocci diz que governo terá de manter superávit acertado com FMI no primeiro ano; CUT promete trégua
PT diz a empresários que fará 'ajuste brabo'
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O ajuste fiscal que o PT terá que
implementar, se ganhar a eleição,
é descrito pelo partido como
"brabo", o que representa o reconhecimento de que a margem de
manobra para políticas que envolvam gasto público é pequena.
O conceito de ajuste "brabo"
("muito forte", "intenso", "violento", segundo o "Aurélio") foi
anunciado no sábado pelas principais lideranças do partido, à
frente o próprio candidato Luiz
Inácio Lula da Silva, no encontro
que mantiveram com empresários, executivos e sindicalistas.
Ontem, Antônio Palocci, prefeito de Ribeirão Preto e coordenador do programa de governo,
afirmou que "o primeiro ano [do
governo] será restrito demais",
em razão da necessidade de manter o superávit fiscal acertado com
o Fundo Monetário Internacional. É sintomático que, na mesma
reunião, o presidente da Central
Única de Trabalhadores, João Felício, tenha dito que a central não
pretende pressionar por empregos no início de um governo Lula.
O que a CUT quer é, primeiro, a
"humanização das relações de
trabalho" e, segundo, a criação de
um "espaço" para negociação entre a sociedade e o poder público
(Felício citou CUT, Força Sindical
e MST). O pressuposto é o de que
o "espaço" de negociação acalmaria as bases sindicais, pelo menos
num primeiro momento.
As lideranças petistas anunciaram também que pretendem conceder "autonomia", mas não independência, ao Banco Central.
A independência do BC é uma
das mais recorrentes reivindicações apresentadas pelos agentes
de mercado, no pressuposto de
que políticos são menos confiáveis que os burocratas que comandariam o banco e evitariam
gastos públicos exagerados. Ao
falar em "autonomia", e não em
independência, o PT está enviando um sinal aos mercados para
tranquilizá-los, o que, de resto, foi
a tônica do encontro de sábado.
A agenda do que José Dirceu,
presidente do partido, chamou de
"assuntos importantes", inclui:
1 - Reforma tributária, centrada
na desoneração da produção e,
em especial, da exportação.
2 - Reforma da Previdência.
3 - Relações com os EUA. Os petistas disseram que o atual embaixador em Washington, Rubens
Barbosa, está dando indicações
para as falas de Lula a respeito.
O PT aproveitou a reunião para
anunciar que vai, sim, negociar a
Alca (Área de Livre Comércio das
Américas), prevista para englobar
os 34 países americanos, excluída
apenas Cuba. Como Lula disse
que a Alca, nos termos que está
proposta, é um processo de "anexação" do Brasil pelos EUA, não
uma zona de livre comércio, pairava no ar a hipótese de que o PT
abandonasse a negociação. É claro que o partido diz que fará a negociação em "condições favoráveis ao Brasil". Ninguém anunciaria de público algo diferente.
4 - Regulamentação do artigo
192 da Constituição. É o artigo
que impõe a limitação de 12%
(anuais) para os juros e que abre a
brecha para a independência (ou
"autonomia") do Banco Central.
Como se tratava de uma reunião
para expor posições, não de uma
sabatina, não houve pedidos de
esclarecimento nem sobre o que é
exatamente "autonomia" do BC
ou que é um "ajuste fiscal brabo"
(Palocci diz que não haverá aumento na meta combinada com o
FMI, que é de 3,75% do PIB).
"Seleção brasileira"
Durante o encontro houve uma
cobrança mais ou menos velada
de nomes que comporiam o Ministério Lula, em especial na área
econômica. Nome algum foi, no
entanto, mencionado, até onde a
Folha pôde saber.
O que, sim, foi anunciado, é que
o governo do PT "não será exclusivamente do PT nem só da CUT
nem apenas dos partidos ligados
ao PT. Será uma seleção brasileira", na expressão de Aloizio Mercadante (SP), candidato ao Senado e um dos dois principais porta-vozes econômicos do partido.
A perspectiva de um ajuste fiscal "brabo" combina com o fato
de que, nas conversas que líderes
do PT vêm mantendo tanto com o
presidente do BC, Armínio Fraga,
como com o próprio Fernando
Henrique Cardoso, a avaliação é a
de que a situação é "muito difícil".
A margem de manobra do próximo governo será reduzida, ao menos no início, para o que contribui
o pessimismo que as autoridades
brasileiras vêem no mundo todo.
O diálogo entre o PT e FHC está
sendo o melhor possível. José Dirceu não apenas fala pelo telefone
com o chefe do governo como se
reúne com ele, sem holofotes, juntamente com Antônio Palocci, o
coordenador do programa de governo de Lula, que vai assumindo
funções cada vez mais relevantes.
Dirceu chegou a dizer aos presentes no encontro de sábado que
a transição do governo FHC para
um governo Lula "será a mais organizada possível". Por isso quase
não houve críticas dos petistas à
gestão do câmbio pelo BC. Quem
atacou o BC, paradoxalmente, foi
um empresário (Lawrence Pih).
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