São Paulo, sexta-feira, 02 de novembro de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Governador, que pretende montar escritório político em Brasília, se reúne com presidente no Alvorada

Tasso vai a FHC e "explica" crítica ao governo

RAYMUNDO COSTA
WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governador do Ceará, Tasso Jereissati, pretende montar um escritório político em Brasília para dar mais visibilidade à sua pré-candidatura à Presidência da República e acompanhar mais de perto as articulações em relação à sucessão presidencial de 2002.
O tucano esteve três vezes em Brasília nas últimas três semanas. Ontem, encontrou-se com o presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio da Alvorada, e conversou com o líder do governo no Congresso e futuro secretário-geral da Presidência, deputado Arthur Virgílio (PSDB-AM).

Ambiente carregado
Apesar do avanço de sua candidatura presidencial nas últimas semanas, inclusive na reorganização ministerial feita por FHC, Tasso encontrou o ambiente carregado. Logo cedo, o governador ficou sabendo que o presidente não gostara das críticas que ele fizera ao governo em uma palestra na Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro).
Na palestra, anteontem, o governador cearense considerou como distorção o peso preponderante do Ministério da Fazenda nas decisões estratégicas e defendeu uma correção desta situação no próximo governo.
Na conversa com Arthur Virgílio, Tasso disse que suas declarações no Rio haviam sido "esquentadas". E saudou a indicação do deputado amazonense para a Secretaria Geral da Presidência. Na visão de Tasso e de seu grupo político, a nomeação do deputado dará ao presidenciável tucano um interlocutor confiável dentro do Palácio do Planalto.
Tasso e seus aliados ressentiam-se de um representante no centro das articulações políticas no Planalto, ambiente até agora dominado por adeptos da candidatura do ministro José Serra (Saúde): o atual secretário-geral e futuro ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, os líderes no Senado, Artur da Távola, na Câmara, Arnaldo Madeira, e o assessor especial Moreira Franco.
A esse grupo, juntava-se também o secretário de Comunicação Andréa Matarazzo, que está de partida para Roma, onde será o embaixador do Brasil.
Agora, Tasso e seus aliados têm Arthur Virgílio, embora publicamente refiram-se ao deputado como um "independente" na disputa entre Tasso e Serra pela indicação da candidatura tucana.
Sem alguém permanentemente próximo a FHC, os "tassistas" acreditam que são vítimas fáceis de intrigas que procuram colocá-lo como sendo de oposição a FHC, um candidato que vê com desdém o apoio do presidente.
Após conversar com Arthur Virgílio e almoçar com os senadores Luiz Pontes (PSDB-CE) e Antonio Carlos Magalhães Júnior (PFL-BA), Tasso foi ao Alvorada explicar-se com FHC. Ficou cerca de 30 minutos. À saída, disse que o presidente estava de acordo com o que ele disse.
Uma das críticas de Tasso que mais incomodaram FHC foi a que o governador fez à preponderância do Ministério da Fazenda sobre os demais ministérios. Tasso explicou: "Não é bem assim. Quando o presidente assumiu, o foco era a inflação, que era um verdadeiro câncer", disse, justificando a força dada à Fazenda no primeiro mandato.
Mas ressaltou: "Agora a circunstância é diferente. Já era diferente em 98 [reeleição de FHC". Nem agora a inflação está vencida". Tasso disse que está de acordo com o que tem sido feito pelo governo. "Não posso nem falar "eles", eu falo "nós"."
Segundo o tucano, o presidente "sabe que qualquer pessoa que for sucedê-lo terá um enfoque diferente", assim como sabe "que nós vivemos num mundo diferente: o Brasil é outro, o mundo é outro".
Em Minas, onde esteve ontem, Serra saiu em defesa do adversário: "Não acho que ele esteja atacando o governo".
Segundo Serra, algumas frases de Tasso têm sido retiradas de seu contexto, fazendo-as parecer de oposição.


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