São Paulo, sábado, 02 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Secretário-geral do partido se diz preocupado com efeitos inflacionários

Governo esperou eleição para aumentar gasolina, acusa PT

FÁBIO ZANINI
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT acusou ontem o governo federal de ter esperado o período eleitoral terminar para aumentar o preço dos combustíveis.
O recado foi dado por Luiz Dulci, secretário-geral do PT e um dos homens fortes de Luiz Inácio Lula da Silva na transição.
"Consideramos que o governo deixou passar as eleições para tomar essa decisão [aumento dos combustíveis]", declarou Dulci, em entrevista coletiva em São Paulo.
O secretário-geral não fez uma afirmação direta de que FHC tenha protelado o aumento especificamente para ajudar seu candidato, José Serra (PSDB). Demonstrou apenas "estranheza" quanto ao cronograma do aumento.
Dulci disse que a equipe de transição do presidente eleito está "preocupada" com o aumento, principalmente com relação ao efeito inflacionário que pode ter no ano que vem.
"Evidentemente estamos preocupados. Esse aumento reflete a política econômica do último período. Estaremos empenhados, no governo, em um combate à inflação", afirmou.
As declarações do secretário-geral do partido refletem uma mudança de tom na equipe petista. Desde a eleição de Lula, o PT tem procurado evitar entrar em confronto direto com a atual administração, para não comprometer a perspectiva de passagem de poder sem sobressaltos.
Em seus primeiros pronunciamentos, o presidente eleito não economizou elogios a Fernando Henrique Cardoso. Ressaltou o caráter "democrático" de FHC e sua disposição em colaborar.
O PT conta inclusive com o auxílio do presidente para que dê "aval" a Lula no relacionamento com autoridades internacionais e organismos multilaterais.
Ao mesmo tempo, petistas demonstram cada vez mais estar incomodados com a tentativa do atual governo de passar uma imagem de que a tarefa de Lula será simplesmente "prosseguir" no que FHC considera "avanços" da atual administração.
Nas palavras de um aliado de Lula, "seria bom colocar as coisas em seus devidos lugares". A partir da semana que vem a cortesia petista deverá diminuir de tom, dando lugar a declarações mais enfáticas a aspectos do legado da "era FHC", como as taxas de desemprego e o baixo índice de crescimento econômico.

Recursos
Dulci disse ontem também que o presidente eleito mantém o compromisso de dedicar seu primeiro ano de mandato ao combate à fome, mesmo com as restrições orçamentárias.
Para engordar o caixa dos programas sociais, o PT pretende contar também com recursos extra-orçamentários.
O secretário-geral citou especificamente como exemplos verbas do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Recursos angariados junto à iniciativa privada seriam agregados também, mas o PT não apresentou detalhes de como isso seria feito.
Quanto ao aumento do salário mínimo, o dirigente petista declarou apenas que será "o maior possível". "O percentual do aumento ainda está sendo analisado", declarou Dulci.
Na previsão orçamentária de 2003, o salário mínimo previsto é de R$ 211.



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