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MÍDIA
Boa parte das novas rádios e TVs continuam sendo dadas a grupos políticos
"Coronelismo eletrônico" sobrevive com concessões
Teotônio Vilela Filho (PSDB), cujo irmão tem concessão de rádio
ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio
FERNANDO GODINHO
da Sucursal de Brasília
Levantamento feito pela Folha
mostra que parte das novas concessões de rádio e TV oferecidas
em concorrência pública pelo Ministério das Comunicações está
sendo adquirida por grupos políticos, reforçando o "coronelismo
eletrônico" no interior.
No Amapá, a família do senador
Gilvam Borges (PFL) comprou as
cinco concessões para o Estado leiloadas pelo governo federal: uma
de TV (em Macapá) e quatro concessões de rádio, sendo duas FM
(Santana e Oiapoque) e duas AM
(Santana e Mazagão).
No Maranhão, o secretário da
Assembléia Legislativa, Leão Santos Neto, do PSDB, arrematou as
quatro concessões de rádio que o
ministério colocou em licitação
pública.
Ex-prefeito no interior do Estado, Santos Neto vai instalar emissoras de rádio em Codó, Viana, Vitória do Mearim e Urbano Santos,
cidades importantes no mapa político do Maranhão.
Em Alagoas, a concessão de rádio para a cidade de Viçosa foi adquirida por Elias Brandão Vilela
Neto, irmão do presidente nacional do PSDB, senador Teotônio Vilela Filho.
O Ministério das Comunicações
acaba de concluir a primeira licitação pública para venda de concessões de radiodifusão no Brasil. Iniciada em fevereiro do ano passado,
ela envolve 48 rádios FM, 17 rádios
AM e nove TVs. A venda de 12 concessões está parada na Justiça. Nos
demais casos, os vencedores terão
de aguardar a homologação das
concessões pelo Congresso Nacional, o que pode se arrastar por, pelo menos, mais seis meses.
O resultado desse primeiro lote
mostra que as concessões acabaram divididas entre empresas, políticos e igrejas. Ou seja, manteve-se o perfil atual da radiodifusão.
Nas grandes e médias cidades, as
novas concessões foram absorvidas por grupos empresariais, principalmente por empresas de comunicação interessadas em ampliar seu campo de atuação. Políticos e igrejas ganharam em cidades
menores, onde as emissoras ainda
são vistas mais como armas eleitorais e de conquista de fiéis do que
como atividade empresarial.
Os políticos, na maioria dos casos, fizeram-se representar por parentes ou aliados. O senador Gilvan Borges, por exemplo, não aparece como sócio da Beija-Flor Radiodifusão, que comprou todas as
concessões do primeiro lote para o
Amapá. Quem aparece são seus irmãos Geovani e Luiz Gionilson.
Fazer-se representar por parentes e aliados é recurso comum entre políticos. Domingos Feitosa
Perim, sócio da empresa Rádio
Cultural Venda Nova FM, que
comprou a concessão de rádio de
Itatiba (ES), diz que "emprestou"
o nome para o irmão Décio Perim,
presidente local do PMDB. "O intuito da rádio é comunitário e não
empresarial", diz ele.
Um dos poucos casos em que o
político aparece como sócio ocorreu no Rio Grande do Sul. O prefeito de Guarani das Missões, Jerônimo Jaskulki (PMDB), e o vice-prefeito, Cilon Karkow (PPB), compraram a primeira concessão de
rádio da cidade.
Segundo Karkow, os dois decidiram disputar a licitação para impedir que grupos de fora comprassem a concessão.
Ainda não é possível precisar o
número de concessões assumidas
por políticos. Em Minas Gerais,
pelo menos três concessões de rádio -as de Salinas, Sacramento e
Ouro Preto- foram adquiridas
por grupos ligados a políticos.
No setor de radiodifusão, dá-se
como certa a informação de que o
grupo que comprou a concessão
de TV na cidade de Santos seria ligado ao prefeito, Paulo Roberto
Mansur. A empresa que comprou
a concessão -por R$ 2,57 milhões- se chama PRM, ou seja, as
iniciais do nome do prefeito.
O proprietário da empresa, Marcos Vieira, nega vínculo com o prefeito e diz que escolheu a sigla por
"coincidência". Proprietário de
uma firma de assistência técnica a
emissoras de TV, ele foi, por dez
anos, técnico da Rádio Cultura de
Santos, de Mansur.
²
Empresas
A maior parte das empresas que
compraram concessões de rádio e
TV vem do setor de comunicação.
É o caso do "Diário de Mogi", que
venceu a disputa pela concessão de
uma TV em Mogi das Cruzes, na
Grande São Paulo.
Foi uma das concessões mais disputadas. A família San Biagio, dona do jornal local, pagou R$ 3,2 milhões pela concessão, quando o
preço mínimo era de R$ 200 mil. O
segundo colocado -a empresa
Astral, do cantor Fábio Júnior-
ofereceu R$ 1,35 milhão.
"É melhor ganhar por muito do
que perder por pouco", afirma Túlio Da San Biagio, diretor-superintendente da empresa.
Ele diz que a TV era um sonho
antigo da família.
Entre as empresas que saíram
vencedoras no primeiro lote de
concessões, está o grupo Arisco
(do setor alimentício), que comprou uma concessão de TV para a
cidade de Palmas (TO) e a rádio
FM de Aparecida de Goiânia (GO).
²
Igrejas
Pelo menos duas concessões de
rádio foram arrematadas por grupos religiosos. A rádio FM de Nova
Granada (SP) foi adquirida por
pastores evangélicos da Assembléia de Deus e da Igreja Pentecostal Sermão da Montanha, que se
associaram para o empreendimento.
No Rio Grande do Sul, a Fundação Navegantes de Porto Lucena,
ligada à Igreja Católica, comprou
aconcessão de rádio FM para a cidade de Campina das Missões. A
fundação já possui duas rádios no
interior do Estado.
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