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São Paulo, segunda-feira, 03 de fevereiro de 2003

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NOVO CONGRESSO

Petista recebe 434 votos para presidir a Câmara e prega "resultados com celeridade

Eleito, João Paulo defende pressa para votar emendas

Alan Marques/Folha Imagem
O deputado João Paulo Cunha recebe beijo de sua filha Juliana, após ser eleito presidente da Câmara


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Eleito ontem presidente da Câmara com 434 votos, num amplo acordo partidário, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) defendeu urgência na definição do "ritmo de tramitação" das reformas previdenciária, tributária e política: "Fomos eleitos para mudar este país e o faremos. O nosso compromisso é com os resultados, e eles têm de vir com celeridade".
Em entrevista à Folha, João Paulo havia antecipado a proposta de reduzir os prazos de tramitação das reformas constitucionais, estratégia criticada pela oposição e por parte dos partidos aliados. Ontem, em coletiva, deu um passo atrás. Afirmou que não sabe como vai ser essa mudança, mas sabe como ela não deve ser. "Não devemos cortar prazos e impedir que o debate se processe."
Presidente eleito, disse que vai tratar o Executivo com "a cortesia, a seriedade e a consequência necessárias", mas prometeu não transigir na defesa da "independência institucional" do Parlamento. Disse que a Casa "não ficará à margem nem se colocará como obstáculo" às profundas mudanças que o Brasil quer "em suas estruturas e instituições".
O único incidente na sessão de ontem foi provocado pela intervenção do líder do PT, Nelson Pellegrino (BA), que saudou a participação do ministro José Dirceu (Casa Civil) nas negociações para a formação da Mesa Diretora. O líder do PFL, José Carlos Aleluia (BA), reagiu imediatamente, negando que tenha ocorrido a intervenção do ministro e defendendo a independência da instituição.
No discurso de posse, João Paulo Cunha tomou o cuidado de não citar o nome de José Dirceu justamente para evitar as especulações de que sofre forte influência do ministro-chefe da Casa Civil.
O PSDB e o PFL, no final do ano passado, chegaram a articular a formação de um bloco parlamentar para lançar um candidato de oposição ao nome do PT. As assinaturas para a formação do bloco foram recolhidas, mas o PFL desistiu da composição, preferindo negociar um cargo na Mesa Diretora. O PFL optou pela 1ª vice-presidência da Casa e indicou para o cargo o ex-líder da bancada Inocêncio Oliveira (PE).

Discurso
O deputado João Paulo elogiou a investigação de irregularidades cometidas por membros da Casa nos últimos anos e afirmou que "isso não mudará": "Cortar na própria carne dói e exige serenidade, mas não podemos deixar todo o Parlamento sob suspeição só por causa do mau comportamento de um de nós", disse..
Na entrevista, o presidente da Câmara disse que "algum tipo de medida" a Mesa deve tomar em relação ao deputado Pinheiro Landim (ex-PMDB, agora PSL-CE), que renunciou ao mandato na legislatura passada para fugir a um processo de cassação por suspeita de intermediar a venda de habeas corpus para traficantes.
Lembrando que é o primeiro presidente egresso de uma legenda "marcadamente de esquerda", fez homenagens especiais ao presidente nacional do PT, José Genoino, a Ulysses Guimarães, a quem chamou de "o grande timoneiro", e ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, "homem de rara sensibilidade social, cuja biografia explica tamanha determinação em se converter no dínamo das mudanças".
João Paulo afirmou que o Congresso Nacional, que, "durante a ditadura militar foi fechado, calado, amordaçado, impedido de funcionar em sua plenitude", agora "voltará a ser o centro produtor de inteligência e de teses que pautarão as acaloradas discussões latentes na sociedade".
O momento de descontração da sessão ficou por conta de cerca de dez sobrinhos do deputado João Paulo. Apertados num canto do plenário da Câmara, eles gritaram: "Tio João Paulo, tio João Paulo", sendo seguidos no coro pelos demais deputados.


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