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Desnutrição não depende só da renda
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Segundo o Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada), a
população mais pobre de dez regiões metropolitanas pode estar
sofrendo os efeitos da insuficiência de alimentos, mas nem sempre o consumo de calorias está diretamente ligado à renda familiar.
Um dos co-autores da pesquisa,
Luís Carlos Garcia de Magalhães,
exemplifica com o caso de Belém.
Uma família com renda de até
dois salários mínimos, disse ele à
Folha, compra o equivalente a
1.807 calorias diárias per capita.
Em São Paulo, uma família com a
mesma renda compra bem menos: 1.132 calorias. O consumo recomendado é de 2.200 calorias.
Apesar da diferença, inexiste
subnutrição crônica entre os mais
pobres paulistanos, em contraste
com a relativa opulência alimentar do pobre de Belém. O Ipea, ligado ao Ministério do Planejamento, publicou o trabalho em
junho de 2002. Trata-se do "Texto
para Discussão" nš 884, um dos
documentos da rotina de produção do instituto. Embora não fosse seu objetivo, ele indicou que
uma parcela desconhecida dos
mais pobres consome alimentos
que não precisou comprar.
O tema ganha agora temperatura porque, sem outro critério, é na
baixa renda que se baseiam as estimativas sobre o tamanho da
clientela a ser atingida pelo Fome
Zero, prioridade do governo.
Já que "não há indicações de
que as populações com risco nutricional estejam vivendo uma situação de fome endêmica", diz o
estudo, "uma explicação plausível, que deve ser melhor investigada, é a existência de redes de
proteção sociais privadas, comunitárias e públicas que estão assegurando o acesso à alimentação a
um importante contingente dessa
população de risco".
Uma família de baixíssima renda corre o risco de passar fome.
Mas o risco diminui se parte da
nutrição tiver como origem alimentos que não foram obtidos
em troca de dinheiro. É o caso da
merenda escolar, distribuída no
último semestre a 37 milhões de
crianças, ou então das refeições
do PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador), que atingem
8 milhões de assalariados.
Outra indicação indireta é dada
pelo estudo "A Iniciativa Privada
e o Espírito Público", publicado
pelo Ipea (2000), em que a socióloga Anna Peliano pesquisou as
redes sociais mantidas por empresas nos Estados do Sudeste. De
um grupo de 300 mil empresas,
40% atendem à comunidade por
meio de ajuda alimentar.
Não há pesquisa recente sobre
os nutrientes que o cidadão consome sem comprar. Os pesquisadores do Ipea dizem ter ficado
surpresos com a quantidade relativamente baixa de calorias compradas pelos pesquisados: "Existem redes informais e formais,
programa de merenda escolar,
prefeituras. Se não essa gente não
teria como viver", diz Magalhães.
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