São Paulo, domingo, 03 de março de 2002

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CRISE NA SUCESSÃO

Sarney Filho decidiu deixar Ministério do Meio Ambiente

Roseana quer rompimento imediato com governo FHC

Alexandre Campbell - 20.fev.2002/Folha Imagem
A pré-candidata presidencial e governadora Roseana Sarney (MA), que quer o PFL fora do governo


OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), quer que seu partido rompa imediatamente com o governo de Fernando Henrique Cardoso e com o PSDB.
Inconformada com a ação de busca e apreensão feita em São Luís pela Polícia Federal à empresa Lunus, de propriedade de sua família, a presidenciável passou o dia de ontem ao telefone, pressionando lideranças do PFL para que o partido entregue nesta semana todos os cargos a FHC.
A pressão já teve seu primeiro resultado. José Sarney Filho, irmão de Roseana, decidiu deixar o Ministério do Meio Ambiente. Zequinha, que há mais de um mês entregou uma carta de demissão a FHC, comunicou ontem ao presidente que sairá nesta semana.
"O governo já nos deixou e declarou guerra. Isso ultrapassou todos os limites, não podemos continuar no governo, temos que entregar todos os cargos", disse Roseana ontem por telefone a um ministro de seu partido.
Na Bahia, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), que conversou, na noite de sexta-feira, sobre a apreensão com o senador José Sarney (PMDB-AP), pai de Roseana, disse que Sarney Filho não tinha como ficar no governo. "Sua família foi atingida. Ele não pode participar de um governo do arbítrio", disse ACM, por telefone, de Salvador. Segundo ele, a ação da PF foi uma armação.
A governadora chega amanhã à noite a Brasília para uma série de reuniões políticas. Na quinta-feira, a Executiva Nacional do partido se reúne para avaliar a crise.
Para ela, a manutenção dos cargos seria catastrófico para sua campanha, pois passaria a imagem de partido fisiológico, mais preocupado com as benesses do poder do que com a candidatura. José Sarney tomou parte na ofensiva antigoverno. Telefonou para FHC para reclamar da ação e conversou com vários líderes do PFL.
A ação da PF em São Luís ocorreu na tarde de anteontem. Oito policiais federais, com um mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça Federal no Tocantins, apreenderam documentos e computadores do escritório para apurar suposto envolvimento de Jorge Murad, marido de Roseana e supersecretário de seu governo, com o desvio de recursos da Sudam. Roseana é proprietária de cerca de 70% da empresa.
Ontem, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região determinou que o material apreendido deve ficar em São Luís, lacrado na sede da PF. Os documentos estarão a disposição do juiz relator do caso, que será definido amanhã.
Roseana atribui a ação da PF ao pré-candidato tucano à Presidência, José Serra, e ao governo FHC. Aloysio Nunes Ferreira, o ministro da Justiça, é um dos principais articuladores da campanha Serra.
"Não há dúvidas de que há motivação política. É uma tentativa de desestabilizar minha candidatura, mas não irão conseguir. Depois dessa ninguém me segura mais. Vou até o fim, aconteça o que acontecer", declarou Roseana à Folha por telefone.
Em conversa por telefone com FHC, na tarde de anteontem, Roseana mostrou toda sua insatisfação e afirmou que o "terrorismo de Serra e do PSDB" impedem qualquer tipo de composição entre os partidos no primeiro turno.
Roseana deixou claro ao presidente que não desistirá de sua candidatura. FHC pediu calma à governadora, negou que soubesse com antecedência da operação policial e disse que não há campanha orquestrada contra ela.
Roseana está decidida a processar os responsáveis pela operação da PF. Um dos argumentos que será utilizado é que, por ser governadora, ela tem foro especial.


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