São Paulo, domingo, 03 de março de 2002

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CRISE NA SUCESSÃO

José Carlos Madeira recebeu telefonema de Roseana Sarney

Juiz diz que recebeu pressão do PFL para intervir em ação

RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO LUÍS

O juiz federal do Maranhão José Carlos Madeira recebeu anteontem pressão do grupo ligado à governadora e presidenciável Roseana Sarney (PFL) para que interviesse na busca e apreensão que a Polícia Federal realizava no escritório da empresa Lunus, de propriedade de Roseana e de seu marido, Jorge Murad, gerente de Planejamento e Desenvolvimento Econômico do Estado.
O juiz Madeira recebeu ligações da própria Roseana Sarney, que, segundo ele, estaria muito "aflita" e "preocupada", do gerente de Justiça, Segurança Pública e Cidadania, Raimundo Soares Cutrim, e do advogado de Roseana e Murad, Vinícius Martin.
Pelo que afirma o juiz, pelo menos nas duas últimas ligações houve pedido explícito para intervenção contra a ação da Polícia Federal, que durou mais de dez horas em São Luís. ""Mas isso [a intervenção" não ocorreu", declarou o magistrado.

Carta precatória
Madeira foi o responsável pela determinação da busca e apreensão, tendo acatado um pedido feito em carta precatória pela Justiça Federal de Tocantins, Estado que concentra as investigações sobre irregularidades na extinta Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia).
A Lunus, empresa de assessoria que tem como objetivo principal a participação em outras empresas, estaria sob suspeita de integrar projetos irregulares da Sudam.
Sobre as ligações que recebeu, o juiz relatou que a governadora Roseana Sarney reclamou de não ter sido ""avisada de nada" e queria explicações sobre o que embasava o pedido de busca e apreensão no escritório.
O juiz afirmou que, por ser um assunto técnico, pediu para falar com o advogado da governadora. Disse então ele que apenas cumpria o pedido da Justiça de Tocantins, não podendo dar mais detalhes por causa do sigilo que envolveria o processo.

Advogado
Quando já estava acompanhando a vistoria da PF, o advogado Vinícius Martin ligou novamente para o juiz. Desta vez, segundo Madeira, "demonstrando preocupação com um fato das buscas" e pedindo para que o juiz falasse com o delegado da PF que estava chefiando os trabalhos. "Falei com o delegado, ele confirmou a existência do fato, mas eu nada pude fazer, pois isso estava determinado no texto do mandado vindo de Tocantins", disse.
O juiz Madeira não quis revelar do que se tratava, dizendo que, como o caso tem repercussão nacional, não tinha uma avaliação certa sobre qual seria o impacto da revelação.
Já no telefonema do gerente de Segurança Pública, que já foi superintendente da Polícia Federal no Estado, Madeira foi questionado sobre se Murad, por ter status de secretário de Estado, não teria foro privilegiado.
O juiz afirma ter respondido que não poderia emitir juízo de valor sobre uma determinação do colega de Tocantins.

Polícia Federal
No final da tarde ontem, a Polícia Federal informou que teria apreendido no local computadores, disquetes e outros documentos. Também havia informações não oficiais de que foi apreendido dinheiro -estima-se que cerca de R$ 1,4 milhão e US$ 200 mil.
"Há informações a esse respeito, mas ainda são extraoficiais", disse Madeira. O juiz confirmou que outras empresas em São Luís também estariam sendo vistoriadas pela Polícia Federal -especula-se que tenham sido até 12 escritórios devassados, mas o juiz declarou que não poderia falar sobre isso devido ao segredo de Justiça que envolve o caso.



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