São Paulo, quarta-feira, 03 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Se Magno Malta insistir em comissão, petistas retirarão assinaturas de documento

PT e aliados pressionam, e senador não protocola CPI

Sérgio Lima/Folha Imagem
Encontro da bancada de senadores do PT na casa do senador Tião Viana no qual se decidiu a retirada do apoio à CPI dos bingos


FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de sofrer pressão do PT e dos partidos da base aliada, o líder do PL no Senado, Magno Malta (ES), desistiu de protocolar ontem o requerimento para a abertura da CPI dos bingos como havia prometido.
Mesmo se o senador insistir na instalação da CPI, o que já é considerado improvável pelo governo, os senadores petistas vão retirar suas assinaturas do documento, o que o inviabiliza no caso de não haver novos apoios.
A CPI tem o objetivo de investigar denúncias de lavagem de dinheiro através de casas de bingo e máquinas caça-níqueis, mas a oposição pretende transferir o foco para o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência Waldomiro Diniz.
Waldomiro foi flagrado cobrando propina de um empresário de loterias em 2002, quando era presidente da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro). O Ministério Público e a Polícia Federal também investigam supostas irregularidades cometidas por ele na relação com os bingos.
A promessa inicial de Malta era protocolar o requerimento ontem, o que não foi feito. Ele disse que ainda tem que conversar com partidos da base aliada hoje. "Uma CPI não se solidifica sem o apoio de partidos", afirmou.
A decisão do PT de retirar as assinaturas foi tomada em jantar, na noite de anteontem, na casa do senador Tião Viana (PT-AC), um dos signatários. Na última tentativa de poupar esse desgaste, eles buscam um recuo de Malta. Independentemente das negociações, Viana já retirou sua assinatura do requerimento.
A justificativa para o recuo é a de que os senadores embasaram a CPI antes da edição de medida provisória proibindo a atividade dos bingos. Segundo eles, é preciso esperar a votação da matéria para só depois pensar em investigação sobre o assunto.
"Tendo em vista que o presidente da República tomou uma medida de força, devíamos aguardar a votação da MP. Não tem cabimento CPI sobre algo que deixou de existir. Caberia à Polícia Federal e ao Ministério Público investigar", disse a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC).
Pressionado pelos petistas, o líder do PL disse que não ficará com o desgaste de derrubar a CPI. "Se protocolar o requerimento, sou o diabo para o governo, se não apresentar, sou o diabo para a opinião pública", disse Malta. Segundo ele, "o ônus de não fazer a CPI" não será dele.
No jantar na casa de Viana o líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), pediu aos petistas que antes de tomar decisões e assinar documentos consultem a líder da bancada ou ele. O requerimento de criação da CPI dos bingos possuía 33 assinaturas, seis a mais do que o necessário. Dessas, 15 eram da base aliada -sete do PT, cinco do PMDB, duas do PSB e uma do PL.
Com a retirada do apoio dos senadores do PT, fica faltando uma assinatura para viabilizar a CPI. O PMDB, que no dia anterior jogou a responsabilidade de derrubar a comissão para os petistas, acompanhou o partido do governo.
O governo já não conta com a ajuda do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) para derrubar a CPI. "Se o requerimento chegar à Mesa com 33 assinaturas a CPI vai ser instalada."


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