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SALÁRIO MÁXIMO
Senado barrou articulação entre Câmara e STF para aprovar proposta
Pressionado, Severino recua
de aumento para deputados
MÔNICA BERGAMO
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O presidente da Câmara dos
Deputados, Severino Cavalcanti
(PP-PE), desistiu do aumento de
salários para deputados e senadores. "Não vou mais mexer com isso. Cumpri minha palavra. Não
querem, não querem", disse ontem à noite, após o Senado ter
barrado tentativa de reajuste salarial sem votação em plenário.
"Não vou botar mais esse assunto para funcionar, porque os deputados não querem", afirmou
Severino, que defendeu o aumento em sua campanha pela presidência da Casa.
Ele desabafou para alguns deputados que estavam em sua sala:
"Vou dizer uma coisa: eles são
uns idiotas mesmo".
O desabafo foi feito após um dia
tenso de negociações, ao final do
qual o Senado acabou barrando a
articulação feita entre o presidente do STF, Nelson Jobim, e o presidente da Câmara para aprovar o
aumento salarial dos deputados
por meio de um simples ato administrativo.
Com apoio insuficiente entre os
partidos para aprovar no plenário
o aumento de 67% para os deputados e senadores -que elevaria
a remuneração de R$ 12.847 para
R$ 21.500-, Severino e Jobim
tentaram, então, emplacar um
reajuste menor, de 48,8%.
A idéia era fazer um ato administrativo, assinado pelas Mesas
da Câmara e do Senado, sem necessidade de votação em plenário.
Ele elevaria o salário mensal dos
594 congressistas de R$ 12.847 para R$ 19.115, R$ 2.385 a menos do
que os R$ 21.500 até então pretendidos.
"O Senado não tem condição de
fazer compromisso com nenhuma proposta senão como produto
da vontade da maioria. Então,
não vamos evoluir nessa proposta
da Câmara. O aumento do salário
é irreal e não tem conexão com a
realidade do país", afirmou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Embate
O episódio criou o primeiro embate entre as novas cúpulas da Câmara e do Senado e deixou em situação desconfortável o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), que se apresentou como
principal avalista da proposta
"meio-termo".
Tudo começou quando na noite
de anteontem, em reunião entre
Severino e líderes partidários. Nela, o presidente da Câmara reclamou da falta de apoio para a medida e ameaçou os deputados:
"Quem não assinar a proposta vai
sofrer as conseqüências, principalmente se for beneficiado pelo
aumento", disse.
Severino se elegeu no último dia
15 com a proposta de elevar o salário dos deputados, mas seus
correligionários não haviam até
ontem conseguido reunir as 257
assinaturas mínimas para que o
projeto fosse direto para votação
em plenário, sem necessidade de
tramitar pelas comissões da Câmara. "Se não tiver apoio, não vamos votar, mas vocês se expliquem com os deputados", afirmou, em tom irritado, aos líderes.
Nessa mesma reunião, surgiu a
hipótese de que, em retaliação ao
naufrágio da proposta, fosse rejeitado o projeto de lei do STF que
cria o teto de R$ 21.500 para o funcionalismo público e que eleva a
esse valor o maior salário recebido hoje por um ministro do Supremo, que é R$ 19.115. "Se é para
moralizar, vamos rejeitar tudo",
teria dito um deputado.
Principal defensor do projeto
do STF, Jobim começou a telefonar para deputados para tentar
amainar os ânimos. A Folha apurou que Severino disse a Jobim
que caso não ficasse assegurado o
aumento dos deputados, ele não
votaria o aumento do Judiciário.
Na tarde de ontem, Jobim se
reuniu com líderes partidários e
com Severino na casa do presidente da Câmara. Lá foi formatada a proposta "meio-termo", de
reajuste para R$ 19.115, não mais
R$ 21.500.
"Plano Jobim"
Coube ao presidente do STF dizer que era perfeitamente aceitável conceder o reajuste menor
sem a necessidade de votação em
plenário. Ele se baseava no decreto legislativo 444/02, que permite
a equiparação entre os salários
dos parlamentares e a maior remuneração do Supremo, hoje em
R$ 19.115.
Ou seja, se os R$ 21.500 eram difíceis, já que era necessária a aprovação em plenário, os R$ 19.115
seriam a saída. Isso se o Senado
Concordasse.
Jobim e Severino tentaram convencer Renan pessoalmente. Como mora na casa ao lado de Severino, no lago sul, região nobre de
Brasília, Renan recebeu a visita
dos presidentes da Câmara e do
STF imediatamente depois que
eles chegaram a um acordo, na casa de Severino.
No encontro, o presidente do
Senado disse que iria discutir a
proposta com os senadores. Mais
tarde, após ouvir os líderes partidários no Senado, descartou o
apoio à idéia.
"Na verdade, ele [Severino] percebeu que não passaria [o reajuste] em plenário e está buscando
alternativa. Esse acordo não tem
nenhuma concordância dos líderes partidários", afirmou o deputado Renato Casagrande (ES), líder da bancada do PSB.
Ameaçados por Severino na
noite anterior, os líderes partidários disseram ter sido surpreendidos na reunião de ontem. "Fui lá
pensando que iríamos discutir
processos para o Judiciário. Se
soubesse que era aquilo, não teria
ido", afirmou Alberto Goldman
(SP), líder do PSDB, que deixou o
encontro antes do final.
Colaboraram RANIER BRAGON, FERNANDA KRAKOVICS, FÁBIO ZANINI E
SILVANA DE FREITAS, Da Sucursal de
Brasília
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