São Paulo, sexta-feira, 03 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Em entrevista à revista "The Economist", presidente diz que PIB não pode deprimir o governo

Brasil não tem pressa de fazer a economia crescer, diz Lula

DA REDAÇÃO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em extensa entrevista à revista britânica "The Economist", que não tem pressa "de fazer a economia decolar imediatamente". É o primeiro comentário público do presidente sobre o crescimento do PIB do ano passado, que foi de 2,3% e ficou abaixo das previsões governamentais.
Lula ressaltou que sua principal preocupação é fazer com que o Brasil entre em um ciclo de crescimento sustentado e disse que o governo não deveria ficar deprimido com as críticas sobre o baixo crescimento da economia.
O presidente falou com a "Economist", considerada a revista de economia mais influente, no último dia 24 de fevereiro, duas semanas antes de sua visita ao Reino Unido, que ocorrerá entre segunda-feira e quinta-feira que vem. A pauta do encontro deverá ser marcada por temas como comércio de produtos agrícolas, biodiesel e combate à pobreza.
O semanário ainda dedicou ao brasileiro um editorial com o título "A mágica de Lula" no qual diz que o presidente tem "potencial de se tornar um dos políticos latino-americanos mais notáveis".
Embora diga que o crescimento deste ano decepciona se comparado com outros países, a revista afirma que Lula foi mais corajoso do que seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, no combate à inflação e que "para os padrões do seu passado recente, contudo, o Brasil está indo bem". Sobre escândalos de corrupção, diz que "feriram" mais o PT do que Lula.
Leia trechos da entrevista:

 

SUPERÁVIT PRIMÁRIO - Sobre o contraste entre a rígida meta de superávit primário do governo com o alto crescimento de gastos não-financeiros, Lula relembrou a tese econômica recorrente dos anos 80 de que o "bolo tem de crescer para depois ser repartido": "Por muitos anos, o Brasil viveu um eterno dilema. Primeiro o país tinha de crescer para depois distribuir as riquezas. E, como se vê, nós temos que distribuir riquezas junto com o crescimento".

COMÉRCIO E TERRORISMO - Lula apelou ao humanismo europeu para defender a redução do protecionismo agrícola nos países da região. Defendeu que os países ricos deveriam tornar o comércio de produtos agrícolas "mais favoráveis aos países pobres": "A Europa precisa ter uma posição mais progressista". Porém, o presidente também relacionou liberação de comércio com o combate ao terrorismo, tema caro aos ingleses, que sofreram atentados no ano passado: "Eu acho que a paz, a luta contra o terrorismo e a redução do fundamentalismo estão conectadas com o aumento da qualidade de vida dos pobres".

AMÉRICA LATINA - O presidente manifestou duas idéias sobre como atenuar os problemas da região. A primeira é melhorar a relação entre os EUA e a Venezuela: "Eles [EUA] têm de ser amigos da Venezuela e da democracia venezuelana". Ao falar sobre a Bolívia, o presidente disse que uma solução para o país vizinho seria substituir a plantação de coca por vegetais que podem servir para a produção de biodiesel. Também defendeu como solução que os países ricos, como os EUA, comprassem a produção de coca da Bolívia por preços mais altos do que os praticados pelos traficantes, destruindo-a em seguida.

"MENSALÃO" - Questionado se o PT perdeu o direito de ser o "guardião" da ética no Brasil depois do escândalo do "mensalão", o presidente diz que o PT foi massacrado e que nos próximos anos o partido terá muito a explicar para a sociedade. Segundo Lula, a melhor referência de caráter do PT serão os resultados das CPIs. "Os relatórios [das CPIs] serão um importante instrumento de defesa para o PT."

CAIXA DOIS - Sobre a afirmação de que as CPIs deverão mostrar evidências de que fundos de pensão foram usados para financiar partidos políticos, entre eles o PT, Lula não quis se pronunciar e disse preferir esperar pelos resultados das investigações das CPIs. O presidente afirmou, entretanto, que o PT não pode ser julgado por causa de um erro cometido por "meia dúzia de pessoas". "Quando eu concorri para a Presidência, eu não era presidente da República. Então, o PT não podia ser financiado com o dinheiro do sistema, porque era oposição. Eu não sei nada sobre essa história."

BOLSA-FAMÍLIA - Para Lula, trata-se do mais importante programa de transferência de renda no mundo. "A única coisa melhor [que o Bolsa-Família] é trabalho em tempo integral e salário." Sobre irregularidades no programa, diz que não são culpa do governo federal. "Nós não somos os únicos a fazer cadastros. Nas cidades, são as autoridades municipais."

FÓRUM SOCIAL X DAVOS - Colocado diante da metáfora de que seria uma ponte entre dois mundos tão diversos como o Fórum Social Mundial e o Fórum Econômico Mundial, por sua participação em ambos, Lula concorda. "Tenho um bom relacionamento com os dois mundos." E afirma que, se for candidato e for reeleito, ou mesmo que não seja candidato, quer participar dos dois fóruns em 2007 e mostrar ao mundo o que tem acontecido no Brasil nestes últimos quatro anos.


Texto Anterior: Governo Alckmin é ótimo ou bom para 65% dos paulistas
Próximo Texto: Isto é Lula
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.