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Serra e Dilma antecipam debate econômico
Em discursos em inauguração em Sorocaba, ministra defende mercado interno e tucano destaca papel das exportações
Governador fez ainda crítica
velada a "subemprego", e foi
contraditado por Lula, que
repetiu comparações de seu
governo com antecessores
MALU DELGADO
ENVIADA ESPECIAL A SOROCABA
Lado a lado dois dias após a
divulgação da pesquisa Datafolha, o governador de São Paulo,
José Serra (PSDB), e a ministra
da Casa Civil, Dilma Rousseff
(PT), criaram ontem um ambiente de debate eleitoral antecipado e, pela primeira vez, explicitaram divergências sobre a
economia ao compararem gestões e políticas públicas.
O embate entre os dois pré-candidatos à Presidência ocorreu durante os respectivos discursos na inauguração do complexo industrial da Case New
Holland (máquinas agrícolas),
em Sorocaba.
Último a falar, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva enalteceu seu governo,
antes elogiado por Dilma, e deixou Serra sem direito a tréplica.
A petista destacou que os
dois elementos essenciais para
o crescimento dos últimos anos
foram o consumo e o crédito.
"O mérito do governo do presidente Lula é ter percebido que
esse mercado consumidor era
talvez uma das nossas maiores
riquezas", disse. A "pujança do
Brasil", acrescentou, se explica
pelo volume de crédito hoje
disponível: R$ 1,4 trilhão.
O tucano, por sua vez, fez
uma ressalva: "É importante
que a indústria se desenvolva
também exportando, não apenas atendendo (...) o mercado
interno". Para ele, são falaciosas as teses de que o Brasil deve
permanecer exportador de
produtos primários ou focar a
economia de serviços.
Em uma resposta indireta a
Dilma, que falou do recorde de
empregos na gestão Lula, o governador disse que "grande
parte da força de trabalho está
subempregada". "Não vamos
conseguir gerar os empregos
num país de 180 milhões de habitantes (...) sem indústria."
Dilma disse que "a palavrinha Bric" (sigla que designa
Brasil, Rússia, Índia e China)
não foi criada só por conta do
crescimento desses países, mas
pelos mercados consumidores.
Ela citou o programa Minha
Casa, Minha Vida como exemplo da visão de Lula sobre economia. Ele destacou o plano de
modernização da indústria automobilística quando era titular do Planejamento de FHC.
Lula respondeu a Serra ora
direta, ora veladamente. Disse
que o Brasil vive um "momento
ímpar" e que é preciso lembrar
"os últimos 30 anos para a gente saber de onde nós partimos e
aonde nós pretendemos chegar". Lembrando que "a Dilma
é economista, o Serra é economista", disse que ia a debates
com economistas e saía achando que o país tinha quebrado.
Por fim, em nova cutucada ao
tucano, Lula disse que foram os
bancos públicos que salvaram o
país na crise. Na gestão de Serra
foi concretizada a venda da
Nossa Caixa ao Banco do Brasil.
"Se tivesse mais banco para
vender, Serra, eu ia comprar
(...) para financiar o crédito."
Em almoço na Anfavea em
São Paulo, Lula afirmou ter sido vítima da "ideia imbecil" do
terrorismo eleitoral: "Mentiram tanto, que um dia o povo
não acreditou mais". Para o
presidente, "não existe possibilidade" de seu sucessor mudar
o que está sendo feito.
Para o presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles, as
regras da atual política econômica do Brasil não deixam espaço para mudanças que desviem o país da estabilidade.
"Não se coloca mais a estabilidade versus o crescimento",
disse ele, durante encontro
com executivos de bancos.
Com PAULA NUNES, colaboração para a Folha
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