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ORÇAMENTO
Contenção das despesas com previdência, saúde e assistência social poderá somar R$ 15,6 bi neste ano
Cortes no social sustentam ajuste fiscal
FERNANDO GODINHO
da Sucursal de Brasília
A contenção dos gastos sociais
do governo neste ano será o principal pilar do superávit primário
de R$ 29,3 bilhões previsto no Orçamento da União para 2000. Superávit primário é tudo aquilo
que o governo economiza para
pagar os juros da dívida interna.
Com uma receita de R$ 137,112
bilhões, a chamada seguridade
social (que reúne as ações governamentais de previdência, saúde
e assistência social) terá despesas
de R$ 121,531 bilhões.
Esses dados, que constam da
proposta orçamentária para este
ano, revelam uma sobra de R$
15,581 bilhões em recursos na área
social. Sendo assim, a seguridade
social terá contribuído com
53,17% do ajuste nas contas públicas pretendido pelo governo.
"O ajuste fiscal é, na verdade,
um ajuste na seguridade social",
diz o deputado Sérgio Miranda
(PC do B-MG), da Comissão de
Orçamento do Congresso e autor
do levantamento sobre os gastos
sociais e o superávit primário.
A sobra de R$ 15,581 bilhões na
área social seria mais do que suficiente para absorver o impacto,
em 2000, de um salário mínimo
de R$ 177 (cerca de US$ 100), que
causaria despesas adicionais de
R$ 3,036 bilhões na Previdência.
A contenção dos gastos sociais
também ajudará deputados e senadores a destinar recursos públicos para obras em seus redutos.
Ao reavaliar as receitas para
2000 da União, o relator-geral da
lei orçamentária, deputado Carlos Melles (PFL-MG), calculou
para a seguridade social R$ 3,391
bilhões em recursos adicionais.
Mas no seu relatório final para o
Orçamento de 2000, as despesas
aumentaram R$ 1,563 bilhão em
relação ao previsto na proposta
do governo. Ou seja: apenas
46,1% da reestimativa da receita
social foi repassada para os gastos
do setor. O restante (R$ 1,828 bilhão) foi apropriado por emendas
de parlamentares, responsáveis
por um aumento de R$ 5,1 bilhões
nas despesas em 2000. Do total,
35,84% vieram da área social.
O levantamento feito por Miranda revela também que uma
parcela significativa da carga tributária vem sendo deslocada para
as contribuições sociais.
"Essas contribuições, ao contrário do Imposto de Renda, não são
repartidas com Estados e municípios. Por isso, os recursos da seguridade social tornaram-se imperativos para a conclusão do
ajuste fiscal", avalia o deputado.
Segundo os dados de Miranda,
a receita proveniente de impostos
e taxas subiu 60,9% entre 1995 e o
total estabelecido no relatório da
lei orçamentária de 2000. No período, as contribuições sociais e
previdenciárias subiram 123,38%.
A diferença permanece quando
a comparação é feita entre 1998
(último ano antes do início do
ajuste fiscal negociado com o
FMI) e o relatório final do Orçamento de 2000: enquanto as receitas tributárias subiram 12,67%, as
contribuições previdenciárias e
sociais cresceram 42,35%.
"O crescimento das contribuições sociais das empresas provoca uma diminuição do IR das pessoas jurídicas, pois elas deduzem
os valores pagos à seguridade social antes de acertar as contas com
a Receita Federal", diz Miranda.
Prova disso, segundo ele, é o fato de que as transferências para
Estados e municípios neste ano
representarão cerca de 15% do total obtido com impostos e taxas.
Há cinco anos, quando o então
Fundo Social de Emergência desvinculava 20% dos fundos de participação dos Estados e municípios, as transferências chegaram a
22,7% das receitas tributárias.
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