São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2001

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QUESTÃO AGRÁRIA

Ação visa pressionar governo; propriedade de Flecha de Lima é produtiva e tida como modelo na região

MST invade fazenda de embaixador em MG

Reuters
Policiais Militares fazim barreira em ponte na semana passada para impedir que sem-terra invadissem fazenda de embaixador


PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiu no início da noite de ontem a fazenda do embaixador do Brasil na Itália, Paulo Tarso Flecha de Lima, quase dez horas depois de os sem-terra terem chegado em frente ao imóvel, em Uruana de Minas (a 693 km de Belo Horizonte), com a aprovação do governador Itamar Franco (PMDB).
Os sem-terra invadiram a propriedade rural, que é produtiva e considerada modelo na região, para pressionar o governo federal e garantir o atendimento das suas reivindicações.
A invasão foi confirmada às 21h de ontem pelo advogado da fazenda, Darci Trentini. Segundo ele, a invasão foi feita por um grupo de oito famílias sem-terra, aproximadamente.
Trentini disse que a PM "estava providenciando a retirada" dos sem-terra invasores. A Agência Folha apurou que os sem-terra já haviam avançado mais de um quilômetro dentro da área.
Enquanto o advogado confirmava a invasão, o chefe do Gabinete Militar de Itamar, Rúbio Paulino Coelho, negava. Por meio da assessoria do Palácio da Liberdade, o coronel disse que os sem-terra entraram em uma fazenda vizinha, cujo proprietário seria Pedro Felisberto, para "pegar bambu".
Os sem-terra restantes, cerca de 700 pessoas, continuavam sendo contidos pela PM na entrada secundária da fazenda Renascença, onde armaram acampamento.
A justificativa do governo mineiro para autorizar a aproximação dos sem-terra foi para evitar um novo confronto entre os trabalhadores rurais e a Polícia Militar, segundo disse à Agência Folha o chefe do Gabinete Militar de Itamar. "A concessão foi feita para evitar o confronto", afirmou.
O governo mineiro quer que o Incra negocie com o MST. "Não aceitamos provocações nem do MST e nem de organismos federais", havia dito Itamar na semana passada. No fim-de-semana, porém, a PM teve ordens para negociar com o MST e permitir que eles avançassem.
Na quinta-feira passada, ocorreu uma reunião de negociação com o Incra, mas o detalhamento das reivindicações ficou para uma nova reunião marcada para amanhã, desde que os sem-terra abandonem a área da fazenda.
Gilmar Oliveira e Valmir de Oliveira, líderes do MST, dizem que os sem-terra não vão recuar. Eles alegam que já cederam quatro vezes para o governo -sendo duas quando acamparam perto da fazenda da família do presidente Fernando Henrique Cardoso, em Buritis- e que nem assim as suas reivindicações foram atendidas.
O MST quer, entre outras coisas, a demarcação dos lotes em 14 áreas já desapropriadas no noroeste mineiro e créditos, por família, de R$ 17,6 mil para investimentos, ajuda alimentação de R$ 180 por um ano, R$ 3.500 para custeio agrícola e R$ 6.000 para habitação.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, disse ontem que o governo federal não irá intervir na invasão da fazenda do embaixador.
Jungmann falou sobre o assunto no início da noite, quando ele ainda não tinha confirmação oficial da invasão da fazenda.
O ministro descartou a possibilidade de envio de tropas militares, como foi feito em julho de 2000 para defender a fazenda dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso. "Não tem Exército, não tem Planalto", disse Jungmann.

Colaborou a Sucursal de Brasília

















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