São Paulo, domingo, 03 de abril de 2005

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ELIO GASPARI

Presente: telefone sem conta

Um presente para as pessoas que têm computador e conectam-se à internet por cabos de banda larga: conta de telefone é coisa do século passado. Não é uma grande novidade, é um grande assunto.
Sem cobrar um tostão, o sítio skype.com permite ao cidadão baixar um programa, registrar-se e falar de graça com qualquer outra pessoa que tenha feito a mesma coisa. Tanto pode ser uma amiga de Florianópolis como um fornecedor da Eslovênia. O Skype roda em sistemas Windows, Mac ou Linux. O freguês precisa ter microfone e alto-falantes embutidos ou acoplados a sua máquina.
O programa é obra de um sueco de 38 anos e de um dinamarquês de 28. Tem menos de cem funcionários e é o maior do gênero, com 30 milhões de pessoas registradas. A qualquer hora, passam pelo seu endereço algo como 1,5 milhão de conexões.
Se um cidadão baixou o Skype na sua máquina e outro não tem Skype, muito menos computador, os dois podem falar ao telefone desde que o primeiro chame o segundo. O programa simula um teclado e com ele liga-se para qualquer número. Nesse caso, há um custo: no Brasil, ele fica entre R$ 0,07 e R$ 0,60 por minuto (para celulares). Dez minutos de conversa numa linha fixa, seja para onde for, por menos de R$ 1.
A primeira vítima dessa tecnologia serão as grandes operadoras de telefonia. A segunda será a Viúva. Hoje, de cada real cobrado na conta, 45 centavos vão para o governo, nas suas variadas encarnações.
Quem usar o Skype para falar com pessoas que não se registraram precisa comprar um crédito de 10 (R$ 35) numa conta em Luxemburgo. Isso é feito pela internet, com cartões de crédito tradicionais.
O progresso beneficiará quem tem (computador, cartão de crédito e banda larga), deixando ao sol quem não tem. Para ter uma idéia do efeito social dessa revolucionária e benfazeja novidade, basta pesar dois números:
O governo brasileiro e as operadoras de telefonia oferecerão 15 horas mensais de ligação discada na internet por R$ 7,50 a famílias de baixa renda cadastradas numa iniciativa federal. É o programa PC Conectado.
No andar de cima, onde há cerca de 5,3 milhões de brasileiros com banda larga em casa, os mesmos R$ 7,50 pagam mais de duas horas de conversa com Paris.

A guilhotina do PT volta a atacar

O PT da cidade de São Paulo, dos comissários Marta Suplicy e Aloizio Mercadante, decidiu expulsar o vereador Carlos Giannazi. Como eles são candidatos ao governo de São Paulo, é bom que se saiba do que são capazes suas bases paroquiais.
Giannazi foi expulso por 25 a 7 votos pelo Diretório Municipal. Ralou um rito sumário que não passou pela Comissão de Ética. Seu delito: não ter participado do cambalacho pelo qual o PT elegeu um tucano dissidente para a presidência da Câmara de São Paulo.
Caso muito mais grave, o do deputado Virgílio Guimarães, que disputou a presidência da Câmara contra outro petista, poderá custar uma pena de suspensão por um ano.
Ninguém é obrigado a ser petista e todos aqueles que estão no partido, sobretudo depois do expurgo de 2003, sabem o que estão fazendo e o que fazem os comissários. Mesmo assim, eles não precisavam exagerar.
Giannazi é um caso clássico de petista teimoso. Já foi posto para fora uma vez, quando denunciou que a prefeita Marta Suplicy não cumpria a obrigação de investir 30% do Orçamento em educação. Votou contra as taxas de luz e do lixo. O Diretório Nacional readmitiu-o, mas ele foi deixado a pão e água numa campanha onde a estrela vermelha naufragou em dinheiro. Teve 41 mil votos, quase todos vindos da militância que se distanciou da marquetagem de Marta Suplicy.

O urso é o dono
O comissário José Dirceu sabe disso há tempo: todos os donos do Lula acabaram no desmanche. O primeiro foi seu próprio irmão Francisco, o Frei Chico, que o levou para as fábricas e para o sindicalismo. Lula não frita, esquarteja.
Não se pode dizer que a permanência de Aldo Rebelo no ministério enfraqueceu José Dirceu. Aldo Rebelo permaneceu para demonstrar que Lula é urso sem dono. Ou melhor, é um urso que come seus donos.

O Severino deles
Washington também tem o seu Severino Cavalcanti. É o vice-presidente Dick Chenney. Sua filha Elizabeth trabalha com Condoleezza Rice no Departamento de Estado, e seu genro Phillip Perry foi nomeado chefe dos serviços jurídicos do Departamento de Segurança Interna. Antes, era lobista registrado da Lockheed Martin. Os dois são advogados, saídos de excelentes escolas.
Em defesa de Severino Cavalcanti, ninguém acusa o seu gabinete de ser uma "Gestapo". Era o que o secretário de Estado Colin Powell dizia da equipe de Cheney.

Solano Amorim
O chanceler Celso Amorim conseguiu formar uma Tríplice Aliança invertida. Inventando a candidatura do embaixador Luis Felipe Seixas Corrêa à presidência da Organização Mundial do Comércio, juntou a Argentina e o Paraguai no apoio ao candidato uruguaio Carlos Perez de Castillo. Os três mais o México.
Juntar três contra um na região do Prata foi coisa que até hoje só Solano Lopez conseguiu, com péssimos resultados para o Paraguai.

Plano B
O governo federal estuda um Plano B para a intervenção federal na saúde do Rio. Teme que, em três meses, vire dono de um abacaxi.

Mais renda
Bernard Appy, 42, secretário-executivo do Ministério da Fazenda, informou que, em 2004, a carga tributária caiu de 16,34% para 16,21% do PIB.
A redução se deveu ao aumento do Produto Interno Bruto, não a um alívio nas tungas.
Pelo contrário, a ekipekonômica festeja recordes de arrecadação com a volúpia de uma coletoria colonial.
Algum çábio vai propor um aumento de 10% da renda dos brasileiros por meio da redução do número de capitas. Pelo método Appy, eliminando-se os nativos com mais de 55 anos (noves fora o companheiro Lula), ou os obesos, consegue-se aumentar a renda dos sobreviventes de R$ 9.700 para R$ 10.600.

Chuveiro a bordo
Ao comprar um avião com chuveiro, Lula mostrou que está à frente de seu tempo. Esse luxo que até agora só era oferecido a umas poucas centenas de magnatas, tornou-se mais um serviço da aviação comercial. A Emirates Airline oferecerá na sua primeira classe um banheiro privativo, com chuveiro e espaço para trocar de roupa.
Ela vende cabines com porta, cama, privacidade e serviço de restaurante. Todas as suas escadas funcionam.
Para desencanto da Turma do Cohiba, a Emirates é uma empresa aérea do Dubai e não voa para o Brasil.
Uma passagem de ida e volta no percurso Nova York-Paris está por US$ 14.300, sem chuveiro. (É o que Lula recebe da Viúva, a cada ano, como aposentado da ditadura)


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