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CRISE NO GOVERNO/CERCO AO EX-MINISTRO
Ex-ministro da Fazenda ordenou à CEF violação do sigilo do caseiro Francenildo Costa
Avisado sobre Palocci, Lula só o demitiu após uma semana
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma semana antes de demitir
Antonio Palocci Filho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
ouviu diretamente do ministro da
Justiça, Márcio Thomaz Bastos,
que ele considerava o então colega da Fazenda o principal suspeito de ter quebrado o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.
Segundo auxiliares de Lula, ele
cobrou diretamente explicações
de Palocci depois de ter sido alertado por Thomaz Bastos na mesma segunda-feira, 20 de março,
mas ele negou envolvimento. Na
semana que antecedeu sua queda
(dia 27 de março), Palocci dizia
em reuniões do governo estar
tranqüilo e não ter nenhuma ligação com a violação do sigilo.
O ministro da Justiça não tinha
prova da culpa de Palocci, mas a
convicção de sua responsabilidade porque conversara com seus
dois assessores que estiveram em
contato com o então ministro da
Fazenda em 16 de março, a quinta-feira em que houve a quebra do
sigilo, e no dia 17, a sexta na qual o
segredo foi divulgado pelo blog da
revista "Época".
Mais: os auxiliares lhe disseram
que o então presidente da Caixa,
Jorge Mattoso, estivera na casa de
Palocci na noite de 16 de março.
Em depoimento à PF em 27 de
março, Mattoso selou o destino
de Palocci ao dizer que lhe entregara em mãos no dia 16 o extrato
bancário de Francenildo.
Os auxiliares de Thomaz Bastos
que se reuniram com Palocci foram o secretário de Direito Econômico, Daniel Goldberg, e o chefe de gabinete da pasta da Justiça,
Cláudio Alencar. Ambos depuseram ontem à PF (Polícia Federal).
Goldberg e Alencar relataram
que Palocci pedira que a PF investigasse Francenildo, dizendo ter
informação de que o caseiro recebera soma de dinheiro incompatível com a renda mensal de
R$ 700 e que suspeitava que ele estava a soldo da oposição.
Goldberg estava na casa de Palocci quando Mattoso chegou e se
reuniu com Palocci. Na sua versão, ele diz que não viu o extrato
bancário de Francenildo nem foi
informado por Palocci ou Mattoso da violação do sigilo.
Os relatos dos auxiliares levaram Thomaz Bastos a considerar
o então ministro da Fazenda o
principal suspeito. A partir dessas
informações, o ministro da Justiça determinou ao diretor-geral da
PF, Paulo Lacerda, no domingo,
dia 19, que abrisse um inquérito
para apurar o crime de violação
do sigilo do caseiro. E no dia seguinte, deu ciência ao presidente
da sua suspeição sobre Palocci.
Lula, porém, teria preferido que
a PF obtivesse uma prova concreta antes de julgar Palocci. Isso
aconteceu no dia 27, quando o então presidente da Caixa, Jorge
Mattoso, disse que entregara o extrato a Palocci.
De acordo com um auxiliar direto do presidente, ele deu crédito
à negativa de Palocci, então o
principal ministro de seu governo
e responsável por uma gestão que
ele considerava vitoriosa na área
econômica. Por essa versão, Lula
demorou uma semana a demitir
Palocci para evitar cometer uma
eventual injustiça e para seguir o
ritual legal - as provas.
Enquanto isso, o presidente
passou a trabalhar com a hipótese
de demitir Palocci e avaliou quais
seriam suas opções. No meio da
semana, por exemplo, sondou o
então presidente do BNDES, Guido Mantega, para a Fazenda.
Procurando um culpado
Além de ter tentado convencer
Mattoso a levar a culpa sozinho
pela violação do sigilo de Francenildo, como fez até a última hora
do dia em que caiu, a Folha apurou que Palocci propôs a seu assessor de imprensa, Marcelo Netto, que assumisse responsabilidade no caso. Netto recusou-se.
Palocci ordenou diretamente a
Mattoso a violação do sigilo em
reunião no Palácio do Planalto na
tarde de 16 de março. Está previsto para depois de amanhã o depoimento do ex-ministro da Fazenda à PF.
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