São Paulo, segunda-feira, 03 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRISE NO GOVERNO/CERCO AO EX-MINISTRO

Ex-ministro da Fazenda ordenou à CEF violação do sigilo do caseiro Francenildo Costa

Avisado sobre Palocci, Lula só o demitiu após uma semana

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma semana antes de demitir Antonio Palocci Filho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ouviu diretamente do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que ele considerava o então colega da Fazenda o principal suspeito de ter quebrado o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.
Segundo auxiliares de Lula, ele cobrou diretamente explicações de Palocci depois de ter sido alertado por Thomaz Bastos na mesma segunda-feira, 20 de março, mas ele negou envolvimento. Na semana que antecedeu sua queda (dia 27 de março), Palocci dizia em reuniões do governo estar tranqüilo e não ter nenhuma ligação com a violação do sigilo.
O ministro da Justiça não tinha prova da culpa de Palocci, mas a convicção de sua responsabilidade porque conversara com seus dois assessores que estiveram em contato com o então ministro da Fazenda em 16 de março, a quinta-feira em que houve a quebra do sigilo, e no dia 17, a sexta na qual o segredo foi divulgado pelo blog da revista "Época".
Mais: os auxiliares lhe disseram que o então presidente da Caixa, Jorge Mattoso, estivera na casa de Palocci na noite de 16 de março. Em depoimento à PF em 27 de março, Mattoso selou o destino de Palocci ao dizer que lhe entregara em mãos no dia 16 o extrato bancário de Francenildo.
Os auxiliares de Thomaz Bastos que se reuniram com Palocci foram o secretário de Direito Econômico, Daniel Goldberg, e o chefe de gabinete da pasta da Justiça, Cláudio Alencar. Ambos depuseram ontem à PF (Polícia Federal).
Goldberg e Alencar relataram que Palocci pedira que a PF investigasse Francenildo, dizendo ter informação de que o caseiro recebera soma de dinheiro incompatível com a renda mensal de R$ 700 e que suspeitava que ele estava a soldo da oposição.
Goldberg estava na casa de Palocci quando Mattoso chegou e se reuniu com Palocci. Na sua versão, ele diz que não viu o extrato bancário de Francenildo nem foi informado por Palocci ou Mattoso da violação do sigilo.
Os relatos dos auxiliares levaram Thomaz Bastos a considerar o então ministro da Fazenda o principal suspeito. A partir dessas informações, o ministro da Justiça determinou ao diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, no domingo, dia 19, que abrisse um inquérito para apurar o crime de violação do sigilo do caseiro. E no dia seguinte, deu ciência ao presidente da sua suspeição sobre Palocci.
Lula, porém, teria preferido que a PF obtivesse uma prova concreta antes de julgar Palocci. Isso aconteceu no dia 27, quando o então presidente da Caixa, Jorge Mattoso, disse que entregara o extrato a Palocci.
De acordo com um auxiliar direto do presidente, ele deu crédito à negativa de Palocci, então o principal ministro de seu governo e responsável por uma gestão que ele considerava vitoriosa na área econômica. Por essa versão, Lula demorou uma semana a demitir Palocci para evitar cometer uma eventual injustiça e para seguir o ritual legal - as provas.
Enquanto isso, o presidente passou a trabalhar com a hipótese de demitir Palocci e avaliou quais seriam suas opções. No meio da semana, por exemplo, sondou o então presidente do BNDES, Guido Mantega, para a Fazenda.

Procurando um culpado
Além de ter tentado convencer Mattoso a levar a culpa sozinho pela violação do sigilo de Francenildo, como fez até a última hora do dia em que caiu, a Folha apurou que Palocci propôs a seu assessor de imprensa, Marcelo Netto, que assumisse responsabilidade no caso. Netto recusou-se.
Palocci ordenou diretamente a Mattoso a violação do sigilo em reunião no Palácio do Planalto na tarde de 16 de março. Está previsto para depois de amanhã o depoimento do ex-ministro da Fazenda à PF.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: PF ouve assessores de Thomaz Bastos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.