São Paulo, sexta-feira, 03 de abril de 2009

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Construtora diz ter doado R$ 24 mi em 2008

Valor se refere, segundo a Camargo Corrêa, a repasses para partidos e candidatos; doações às siglas só serão conhecidas em maio

Segundo a PF, parte política resultante da operação irá se transformar em uma nova investigação, com alvo em supostas doações ilegais

ANA FLOR
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo Camargo Corrêa, que foi alvo de operação da Polícia Federal, diz ter doado R$ 23,9 milhões a partidos e políticos no ano passado. Até o momento, só é possível conhecer os repasses feitos para candidatos e comitês financeiros. Apenas em maio será divulgado quanto os partidos receberam. Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), considerando só doações para campanhas, foram R$ 6,01 milhões para candidatos e comitês pela Construção e Comércio Camargo Corrêa e R$ 425 mil pela Cavo Serviços e Meio Ambiente.
Ontem, a assessoria de imprensa não forneceu a lista das empresas da Camargo Corrêa que fizeram doações. O grupo tem participação, por exemplo, na Itausa e na Alcoa Inc., e controla a Alpargatas (que doou R$ 150 mil), além de fazer parte do bloco de controle da Usiminas (que doou R$ 1,65 milhão).
A diferença entre o valor divulgado pelo grupo o disponível como doação eleitoral pode ser explicada pela existência de doações ocultas. O grupo, assim como outras empresas, costuma se utilizar dessa brecha na Lei Eleitoral. A doação é feita aos partidos, que distribuem os recursos aos candidatos. Assim, perde-se o vínculo direto entre doador e beneficiário.
Em 2006, foram R$ 6,35 milhões a PT, PSDB e DEM. As prestações de conta das doações partidárias têm prazo para serem entregues até o dia 30 de abril e só a partir daí será possível saber quanto foi doado às siglas no ano passado. "Em absoluta concordância com a legislação eleitoral, suas empresas controladas doaram R$ 23,9 milhões a partidos políticos e candidatos que concorreram nas eleições de 2008", diz a nota da empresa.

Nova operação
A parte política resultante da Operação Castelo de Areia vai se transformar em nova investigação, para aprofundar a possibilidade de partidos e políticos terem recebido doações ilegais da Camargo Corrêa. A PF insiste que a operação apenas investigou crimes financeiros e de lavagem de dinheiro. Internamente, agentes envolvidos reclamam do viés político que a operação tomou, a partir do conteúdo de interceptações telefônicas, e que teriam ganhado realce no relatório do juiz Fausto De Sanctis.
Tanto a PF quanto De Sanctis foram criticados pela oposição pela divulgação de nomes de políticos e partidos que supostamente receberam doações ilegais da construtora e pela exclusão, no relatório final, das siglas governistas PT, PTB e PV, também citadas em grampos feitos na operação. A explicação formal da PF para a inclusão de áudios em que partidos são citados é a de que os investigadores eram obrigados a comunicar à Justiça, em relatórios quinzenais, o andamento das investigações.
Desde antes da deflagração da operação, o receio de avançar nas ligações entre a Camargo Corrêa e políticos ou partidos era o de que o caso acabasse em instâncias superiores, por envolver parlamentares, que gozam de foro privilegiado.

Folha Online

Veja quem recebeu doação da Camargo Corrêa em 2008

www.folha.com.br/090927


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