São Paulo, segunda-feira, 03 de maio de 2004

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IGREJA CATÓLICA

Segundo CNBB e IBGE, média nessas regiões é a menor do país

Falta padre no Norte e Nordeste do país

GUILHERME BAHIA
ENVIADO ESPECIAL A INDAIATUBA (SP)

As regiões Norte e Nordeste têm baixo número de padres em relação à média do Brasil. Com 28,1% da população do país, o Nordeste tem só 16,6% do total de padres. O Norte, com 7,6% da população, concentra 3,5% dos padres.
Os dados são do Ceris (Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais) e do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O centro é vinculado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Para Luiz Alberto Gomez de Souza, diretor-executivo do centro, esse dado é uma das faces da carência geral de profissionais qualificados nessas regiões.
D. Antônio Fernando Saburido, bispo-auxiliar de Recife e Olinda (PE), acredita que o quadro na sua região tende a se amenizar nos próximos dez anos, porque há muitos novos seminaristas.
No Norte, o arcebispo de Porto Velho (RO), d. Moacyr Grechi, aponta como causa a formação recente da igreja na região. "Até 20 anos atrás, só havia um seminário, em Manaus, para Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia."
Uma análise do número de prelazias -dioceses com poucos recursos- do país mostra que o desenvolvimento da igreja na Amazônia está bem atrás do restante do país. Das 13 prelazias, 11 ficam no Norte, e as outras duas, no norte de Mato Grosso.
Segundo d. Moacyr, foi a partir de encontro ocorrido em Santarém (PA) em 1972 que a igreja começou a ganhar um rosto brasileiro na Amazônia. Antes, conta ele, 86% do clero era composto por estrangeiros, enviados da Holanda, Itália, Espanha e França.
Por causa do isolamento de grande parte das comunidades amazônicas, conta o arcebispo, o hábito da desobriga foi bastante comum até cerca de 20 anos atrás. A desobriga é uma visita anual que o padre faz para permitir que os fiéis cumpram a obrigação de comungar uma vez por ano.
O baixo número de católicos também é apontado como causa da fraca presença da igreja na Amazônia. D. Erwin Kräutler, bispo de Xingu (PA) e de família austríaca, diz que, pelo modo como as migrações se dirigiram ao Norte, muitos habitantes novos deixaram suas raízes para trás.
"A Igreja não soube acompanhar as migrações", disse d. Dimas Lara Barbosa, bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, durante entrevista coletiva na 42ª Assembléia Geral da CNBB, que terminou na última sexta-feira.
Uma história diferente se deu com alemães, italianos e poloneses que foram para o Sul. Esses, lembra d. Erwin, trouxeram padres, no caso dos católicos, ou pastores, no caso dos luteranos.
A igreja tenta amenizar a carência da Amazônia com a transferência de padres do Sul.

Envelhecimento
A cúpula da Igreja Católica no Brasil envelheceu mais de nove anos de 1960 a 2003. A média de idade dos bispos passou de 53,8 para 63 anos. Os dados são do pesquisador Juan Esquivel, da PUC-SP. A média de idade dos padres também subiu, mas só 3,7 anos -passou de 46 em 1960 para 49,7 em 2000, segundo o Ceris.
A razão apontada por Esquivel para os bispos hoje serem mais velhos é a política que o Vaticano vem adotando durante a gestão do papa João Paulo 2º de privilegiar clérigos mais experimentados nas promoções.


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